vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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E<br />
CAPÍTULO 9<br />
SEM RESPOSTA<br />
m sua edição de 5 de fevereiro de 1979, o Relatório Reservado destacou uma nota<br />
com o seguinte título: "SNI e Itamaraty investigam computadores/Informática pode<br />
passar para Segurança Nacional." Logo nas linhas iniciais, a pergunta: "O que<br />
pretende uma comissão ligada ao SNI e ao Itamaraty com um levantamento que vem<br />
fazendo no setor de informática?". Esta pergunta faziam-se todos os que - na Capre,<br />
empresas ou entidades - vinham construindo a política de informática.<br />
Embora citando "três fontes do setor", o Relatório Reservado não deu maiores<br />
respostas à pergunta. Apenas especulou sobre o futuro da política face a<br />
declarações do ministro Simonsen - que Figueiredo iria transferir para a Seplan - e<br />
do futuro ministro da Indústria e Comércio, João Camilo Penna, favoráveis, no<br />
geral, a um tratamento menos restritivo ao capital estrangeiro. Sobre as atividades<br />
mesmas da comissão, a nota revelou quem a chefiava — o embaixador Cotrim – e<br />
aventou a possibilidade de, como resultado de seus trabalhos, a informática passar<br />
a ser tratada "com muito mais atenção pelos altos poderes da República, ganhando<br />
até um status estratégico, semelhante ao da energia". Leia-se "questão de segurança<br />
nacional". Além disso, em uma única e curta frase - "O embaixador Cotrim tem falado<br />
pouco e ouvido muito" - resumiu tudo o que se dizia sobre a forma de agir do<br />
misterioso organismo.<br />
Integrado por oficiais do Serviço Nacional de Informações, começara, poucas<br />
semanas antes, a convocar pessoas para depoimentos, em clima de interrogatório<br />
policial. O "depoente" falava para um gravador, diante de um grupo taciturno de<br />
interrogadores, numa sala fechada do Palácio do Planalto. Não lhe era dado o<br />
direito de ao menos conhecer os motivos da investigação. Ao transmitir esses<br />
detalhes para o diretor do Relatório, jornalista Marcos Dantas, Ivan Marques, uma<br />
daquelas três fontes, parecia realmente assustado. Sequer sabia ao certo os nomes<br />
dos membros da comissão. Cotrim era só um sobrenome sem nome. "Parece que um deles<br />
se chama Brízila", tentava se lembrar Ivan (o tenente-coronel Joubert de Oliveira<br />
Brízida). "Outro é Cunhas e Cunhas, assim mesmo, repetindo, acho ... (o major do<br />
Exército José Luis Cuinhas da Cunha).<br />
Ninguém sabia, mas o interesse do SNI pela informática vinha de longe.<br />
Enquanto Élcio, Saur, Ivan, Ripper, Arthur, Fioravante, Fernandes, articulados com<br />
a comunidade acadêmica, os meios profissionais e diversos setores do governo,<br />
avançavam, pouco a pouco, na execução de sua estratégia para criar uma indústria de<br />
informática sob controle nacional, o grupo de militares e o diplomata que agora os<br />
entrevistavam também se preocupavam com o problema. Só que vendo-o por uma ótica<br />
completamente oposta e trabalhando na base do mais absoluto sigilo.<br />
Dentro do Conselho Plenário da Capre, apenas Octávio Gennari Netto e José Dion<br />
de Mello Telles dispunham de algum conhecimento sobre as atividades anteriores do<br />
grupo. Gennari, devido aos muitos contatos mantidos com alguns daqueles militares,<br />
quando deu suporte à implantação do Centro de Computação da Presidência e do SNI.<br />
Dion, cujas relações com Saur se deterioraram de vez durante as discussões sobre os<br />
médios da IBM, por ter-se prontificado a subvencionar as atividades da comissão,<br />
com recursos do CNPq.<br />
Na época em que a Capre surgiu para disciplinar a desenfreada onda de<br />
aquisição de computadores na administração pública, o órgão responsável por tudo o