vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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limitava-se a montar equipamentos projetados no exterior recebendo, do fornecedor<br />
de tecnologia, toda a assistência técnica que se fizesse necessária. A Scopus não<br />
tinha muito o que fazer, mas tinha aluguel e despesas para pagar. Seus três sócios<br />
não viram outra saída senão projetar, eles mesmos, e fabricar os seus próprios<br />
equipamentos. Pensaram em produzir freqüencímetros, voltímetros e outros aparelhos<br />
para laboratórios e controle industrial. Acabaram optando pelos terminais de vídeo.<br />
Era o mais indicado, não só pela experiência de Josef, que projetara um terminai de<br />
vídeo para a sua tese de mestrado em Israel, como também pelo processo de produção<br />
ser dos mais simples.<br />
O empurrão definitivo veio através do presidente da Sucesu-SP, o ex-iteano<br />
Samuel Konishi, que precisava de um terminal para ser conectado à rede<br />
internacional de comunicação de dados Arpanet, no próximo Congresso da Sucesu. O<br />
conferencista norte-americano, convidado a dar uma palestra sobre a rede, queria<br />
fazer uma demonstração ao vivo de seus recursos, precisando de um terminal para<br />
acessar bancos de dados nos Estados Unidos. Konishi percorrera todas as<br />
multinacionais instaladas no país, mas nenhuma dispunha, aqui, do equipamento<br />
apropriado. Então, contatou a Scopus e propôs a fabricação do terminal. Dinheiro<br />
não havia, o prazo era dois meses, mas esta poderia ser uma boa oportunidade para<br />
divulgar a empresa. A Scopus aceitou o desafio.<br />
Edson, Josef e Ikeda consumiram uma semana projetando e o tempo restante<br />
fabricando, de forma artesanal, o equipamento. Eles mesmo soldavam os circuitos,<br />
enrolavam os fios, dobravam as folhas de lata do gabinete. Horas e horas de esforço<br />
mais físico que intelectual, alimentado pela imensa energia e alegria de quem vê<br />
nascer sua própria criação. Não duvidavam de que daria certo!<br />
O terminal ficou pronto, funcionou perfeitamente, mas... a aguardada fila de<br />
clientes não apareceu. Conversando com pessoas que testaram o equipamento,<br />
descobriram o motivo: fizeram uma máquina correta, mas inadequada ao mercado. Por<br />
exemplo: em vez das 80 colunas padrão, tinha 64. Este e outros erros, causados pela<br />
inexperiência e pelo prazo apertado, eram perfeitamente sanáveis. Alertados pelas<br />
observações de usuários potenciais, projetaram o segundo terminal, denominado TVA-<br />
80. Logo venderam as quatro primeiras unidades. Sentiram-se a caminho do sucesso!<br />
Palmilhando o caminho, vieram ao Rio para uma demonstração na PUC. Alguns<br />
possíveis compradores foram convidados a assisti-la. Apesar do temporal, que quase<br />
inutilizou os dois terminais, a penosa viagem resultou no primeiro contrato de<br />
maior porte, um lote de 19 equipamentos para a Cobra. É bem verdade que metade não<br />
passou nos testes de controle de qualidade da empresa carioca, aprendidos com a<br />
Ferranti. Tudo bem: novas lições e mais experiência necessárias ao aperfeiçoamento<br />
do produto.<br />
Aprendendo a observar o mercado, a Scopus detectou um espaço no qual poderia<br />
crescer. Os empresários do setor costumam designar essas fatias especializadas de<br />
mercado por nichos. Pois um bom nicho seria o dos terminais que emulavam os<br />
fornecidos pelas multinacionais, isto é, capazes de funcionar da mesma forma e com<br />
a mesma qualidade dos terminais que acompanhavam os sistemas completos vendidos<br />
pela IBM, pela Burroughs e por outras. Tendo como única fonte de informações um<br />
manual de usuário que lhes foi emprestado por um amigo, Edson e Josef projetaram e<br />
fabricaram um terminal Burroughs. Venderam os primeiros lotes em 1977, para a Bolsa<br />
de Valores de São Paulo.<br />
À medida que penetrava no mercado e ganhava experiência comercial, a Scopus<br />
sonhava com vôos mais altos. Já que produzia terminais compatíveis com os das<br />
multinacionais, por que não torná-las também suas clientes? Uma única entrevista<br />
com o presidente da Burroughs, Henry Eicher, rendeu à empresa um contrato de mil