vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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Amorim conseguiu levar os oficiais do EMFA para visitar as instalações da IBM<br />
quando a Capre já analisava as propostas que lhe tinham sido encaminhadas, após a<br />
edição da Resolução 01/77. Quatro oficiais, entre eles um major Fernandes com o pé<br />
engessado, foram designados pelo general Potyguara. Amorim hospedou-os no<br />
paradisíaco Centro Educacional da Gávea, na estrada das Canoas, de onde se<br />
descortina uma das mais belas vistas do Rio de Janeiro. Um autêntico cartão de<br />
visitas da IBM, o Centro foi criado por Amorim para abrigar, com todas as<br />
mordomias, o treinamento dado pela empresa a seus empregados e clientes. E, lógico,<br />
impressionar visitantes ilustres...<br />
Ali os oficiais passaram uma tarde e uma noite, antes de seguir para Sumaré,<br />
no município paulista de Campinas, onde está a fábrica. O presidente da IBM<br />
esmerou-se, junto com executivos e bem treinados técnicos, na exposição dos planos<br />
da empresa e nas respostas aos militares, sobretudo a Fernandes que não perdia<br />
oportunidade para defender seus pontos de vista, favoráveis ao desenvolvimento<br />
tecnológico nacional. Seu empenho, porém, não foi suficiente para amansar o<br />
ministro-chefe do EMFA. "O report da IBM melhorou, mas aquela carta não pode ficar<br />
no arquivo de um ministro brasileiro. Se o Velloso não devolvê-la, eu vou falar com<br />
o presidente!", garantiu-lhe o general em um novo encontro. Isso era tudo o que<br />
Amorim mais temia! Se a carta fosse devolvida seria criado um impasse sem<br />
precedentes na história das relações da IBM com o governo brasileiro.<br />
Ao contrário do eufórico Costa Couto, o segundo escalão da Capre considerou-se<br />
derrotado tão logo digeriu a tensão vivenciada nos últimos dias e parou para<br />
analisar o real significado das decisões tomadas na reunião da Fazendinha. A<br />
Resolução 01/77 foi um verdadeiro balde de água fria na cabeça do grupo. O<br />
raciocínio, simples e conclusivo, considerava que nenhuma restrição fora feita ao<br />
capital estrangeiro e nem se oferecera qualquer tratamento diferenciado aos<br />
empreendimentos nacionais. Logo, a Resolução era um convite às multinacionais para<br />
fabricarem minicomputadores no país.<br />
Só em um segundo momento, fazendo um retrospecto de todo o caminho percorrido<br />
desde que se começou a formular a política de informática, a área técnica da Capre<br />
percebeu a brecha que lhe deixara o governo. Com efeito, o processo se caracterizou<br />
sempre pela falta de uma estratégia global que definisse, a priori, as etapas a<br />
serem cumpridas. Conquistava-se o terreno passo a passo. Somente após cada avanço,<br />
obtinham-se as condições para definir o passo seguinte. Logo, se conseguiram chegar<br />
até ali, podiam continuar avançando. Bastava trabalhar um pouco mais! Nada de<br />
desânimo, pois!<br />
Ivan e Arthur assumiram o comando desta nova etapa com o objetivo de tentar<br />
atrair empresários nacionais para a concorrência e, com isso, ficar em condições<br />
para — respeitando as diretrizes do CDE - impedir a aprovação dos projetos que,<br />
certamente, as múltis apresentariam.<br />
A estratégia para esta fase decisiva exigiu um alto grau de ousadia. Em<br />
primeiro lugar, começaram a garantir publicamente que os projetos nacionais teriam<br />
prioridade sobre os demais. Ao mesmo tempo, informaram "confidencialmente", a todos<br />
os que mostravam algum interesse pela concorrência, que vários projetos, cem por<br />
cento nacionais, já tinham sido apresentados. Nenhuma das duas afirmações era<br />
verdadeira: nem a Capre recebera orientação para dar prioridade aos projetos<br />
nacionais nem, no primeiro momento, surgira qualquer empresa nacional disposta a se<br />
candidatar sem o reforço de um parceiro externo.<br />
Com o passar dos dias, os primeiros empresários nacionais, ou seus<br />
representantes, começaram a aparecer, à procura de informações sobre a