vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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programa de cadastramento rural, ligou-se intimamente ao núcleo de profissionais<br />
cujas atividades políticas desembocariam na criação da APPD. Sob a presidência de<br />
Fioravante, todo o grupo gozou de ampla liberdade para agir. Com a volta de Dion, a<br />
situação modificou-se e, durante algum tempo, a APPD sustentou contra ele<br />
verdadeira guerra de desgaste, fazendo circular documentos e informações que<br />
provariam sua má administração. Uma campanha tão forte que logrou motivar a<br />
Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados a convocar Dion para um<br />
depoimento, submetendo-o a um duro debate com a deputada Cristina Tavares.<br />
Calicchio aceitou de bom grado o convite de Saur. Passou a viver na Ponte-<br />
Aérea, hospedando-se em um apartamento no Hotel Nacional e dividindo seu tempo<br />
entre longas caminhadas pelos gabinetes, corredores e salões do Congresso e a sala<br />
emprestada à Abicomp por uma empresa local, a Novadata. Fala macia mas firme,<br />
infinita paciência para responder às mais estapafúrdias perguntas de deputados e<br />
senadores, dedicação de militante estudantil, Calicchio, em pouco tempo, conquistou<br />
a confiança dos parlamentares, circulando entre eles com tal intimidade que seus<br />
amigos o apelidaram de "Senador".<br />
Quando Chiarelli pediu à Abicomp subsídios para apresentar seu projeto, a<br />
entidade percebeu ser importante, para os interesses políticos do empresariado,<br />
apoiar o senador do partido governista: por ser o partido de um governo ainda muito<br />
poderoso e porque, inversamente, esse governo via-se às voltas com a crescente<br />
rebeldia de um Congresso cada vez mais cioso de suas prerrogativas. Se o projeto do<br />
Executivo fosse bombardeado, seria bom dispor de uma proposta alternativa ainda<br />
ligada ao governo, através de seu partido. Saur e Calicchio, ajudados por Ezequiel<br />
Dias e Mário Ripper, fizeram o trabalho para o senador. Chiarelli gostou e entrou<br />
com seu projeto tornando a reserva de mercado para hardware e software uma regra<br />
geral, admitindo-se o licenciamento de tecnologias estrangeiras por empresas<br />
nacionais ou a fabricação de sistemas, no país, por empresas estrangeiras, somente<br />
na total ausência de alternativas nacionais e por prazos limitados. Para conduzir a<br />
Política através de Planos Nacionais de Informática, seria criado um Conselho<br />
diretamente ligado à Presidência da República, integrado por oito representantes do<br />
Poder Executivo e oito representantes da sociedade civil: não só as entidades<br />
ligadas diretamente ao setor, como Abicomp, APPD, SBC, Assespro e Sucesu mas,<br />
também, a ABI, a OAB e o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos<br />
Sociais e Econômicos - Dieese. Apresentado o projeto, a Abicomp não demorou a<br />
perceber a gafe: o pessoal do PMDB — logo o partido que tanto lutara para levar a<br />
informática a debate no Congresso - ficou irritadíssimo ao ver a proposta, que<br />
identificava com a vontade empresarial, ser apresentada por um parlamentar ligado à<br />
Situação. Calicchio teria muitas dificuldades para recuperar seu prestígio junto à<br />
Oposição.<br />
Com a entrada do projeto do Executivo, em 30 de julho, as lideranças se<br />
articularam para não deixá-lo ser aprovado por decurso de prazo. Com um projeto já<br />
pronto para ser votado e outros quatro tramitando, considerando os rituais<br />
parlamentares, a proposta do Executivo comemoraria 40 dias na Casa sem uma decisão.<br />
Salvo se houvesse acordo. Como a ninguém interessava o decurso de prazo, mesmo com<br />
Cristina esbravejando pela votação de seu projeto, concluiu-se que a melhor solução<br />
seria levar o do Executivo para a frente da fila — regimentalmente possível - e<br />
trabalhar em cima dele, emendando-o e melhorando-o. O acordo definitivo foi firmado<br />
em um almoço no apartamento do senador Marco Maciel (PDS-PE), na presença do<br />
general Danilo Venturini, com a participação dos senadores Humberto Lucena (PMDB-<br />
PB), Severo Gomes (PMDB-SP), Fernando Henrique Cardoso (PMDB-SP), Saturnino Braga<br />
(PDT-RJ), Carlos Chiarelli (PDS-RS) e do deputado Nelson Marchezan (PDS-RS).<br />
Venturini tinha bons motivos para sentir-se satisfeito assistindo às sutilezas da<br />
negociação parlamentar e ouvindo o gongórico Lucena declarar: "Aqui não tem nem<br />
governo, nem Oposição; aqui somos todos"...