vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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polícia e o Exército, ocupava-se, no recém-criado Laboratório de Sistemas Digitais<br />
— LSD —, em destrinchar as entranhas de um computador IBM 1620.<br />
Fundada em 1894 pelo governo do Estado de São Paulo, oferecendo, desde 1911, o<br />
primeiro curso brasileiro de engenharia elétrica, a Poli criou tradição em<br />
antecipar respostas às necessidades do país, inclusive mantendo ativo intercâmbio<br />
com os centros acadêmicos europeus e norte-americanos.<br />
Em 1962, tornou-se a segunda instituição universitária a adquirir um<br />
computador - a primazia do pioneirismo ficou com a PUC-Rio. Era um IBM 1620. Em<br />
1968, um segundo 1620 chegou à escola. Só que, ao invés de fazer cálculos,<br />
destinava-se a ser mexido, desmontado, cortado, emendado e tudo o mais que fosse<br />
necessário para o conhecimento de sua engenharia e funcionamento. A IBM, a<br />
princípio, não gostou da idéia, ameaçando suspender a manutenção do computador.<br />
Mas, diante da disposição do fundador do LSD, professor Hélio Guerra Vieira, e de<br />
outros professores para assumir eles próprios a manutenção, a empresa mudou de<br />
comportamento e passou a auxiliá-los com as informações necessárias.<br />
Ao mesmo tempo em que destrinchava a máquina, o LSD começou a montar sua<br />
estrutura de pós-graduação nessa nova área eletrônica, o que incluiu a contratação<br />
de especialistas estrangeiros como Jim Rudolf, da Hewlett-Packard, e Glenn Langdon,<br />
da IBM. Os recursos vieram de diversas fontes: próprios, do CNPq e da Fundação de<br />
Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo - Fapesp —, após muitas negociações<br />
conduzidas pelo diretor da escola, o ex-professor dos primeiros tempos de ITA,<br />
Oswaldo Fadigas. Pós-graduação em eletrônica digital não era, então, algo<br />
corriqueiro no Brasil. O alvo visado sequer existia mas, para Fadigas e Hélio<br />
Guerra, era previsível - a indústria digital brasileira.<br />
Com trinta vagas, os primeiros cursos começaram em 1970. No ano seguinte,<br />
iniciou-se um dos mais disputados: o de arquitetura de computadores, a cargo de<br />
Glenn Langdon, um especialista em protótipos que, tendo vivido em São Paulo dos<br />
nove aos dezessete anos, considerava-se um pouco brasileiro.<br />
Definido que o trabalho de fim de curso seria a construção de um protótipo, os<br />
alunos, divididos em grupos, receberam ao final do primeiro semestre, a tarefa de<br />
gerar as especificações para um computador de oito bits. Durante as férias de<br />
julho, Langdon reuniu todos os resultados dos trabalhos e especificou o projeto<br />
final. Uma das mais importantes contribuições veio de dois "estrangeiros": Cláudio<br />
Mammana e Sílvio Paciornick que, embora não pertencessem aos quadros do LSD,<br />
participavam do curso em busca de subsídios para o projeto de um sistema<br />
experimental de aquisição de dados que desenvolviam no Departamento de Física<br />
Nuclear da USP. Os dois, que mais tarde fariam doutorado na Universidade de<br />
Wiscounsin, forneceram as grandes linhas da arquitetura do protótipo.<br />
A partir do momento em que definiu o projeto básico, Langdon pouco interveio<br />
em sua execução, deixando a equipe chegar às suas próprias conclusões. Tratava-se<br />
de um sistema complexo, envolvendo a montagem de centenas de pastilhas de circuitos<br />
integrados, o que levou o LSD a se equipar com uma pequena oficina para fabricar 45<br />
placas de circuitos impressos. Particularmente difícil foi construir a memória.<br />
Encarregada desta parte do trabalho, a professora Edith Ranzin obteve uma boa<br />
colaboração da Burroughs e da Siemens. Além de permitir que ela acompanhasse, em<br />
suas fábricas brasileiras, o processo de produção desses componentes, as duas<br />
multinacionais se encarregaram da sua montagem, a partir dos desenhos que lhes<br />
foram fornecidos.<br />
No momento em que a construção do protótipo entrava na fase de adequação e<br />
montagem das suas diversas partes, chegou ao LSD a notícia de que a Marinha estava