vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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o hotel. Cardoso sequer pestanejou. A viabilização da SID estava em jogo. "Faça!",<br />
ordenou.<br />
E, com isso, antecipou em muitos meses a vinda do coração do software da<br />
Logabax para o Brasil.<br />
Os técnicos da Labo valeram-se, de métodos semelhantes para se apossar do<br />
sistema operacional do minicomputador 8870 licenciado à Nixdorf. Embora a empresa<br />
alemã gozasse de boa saúde financeira e, escaldada pelo fiasco das negociações para<br />
formar uma joint-venture com a Digibrás e a Atlântica-Boavista, tivesse concordado<br />
em licenciar um míni mais avançado, o processo de transferência de tecnologia foi<br />
quase tão tumultuado quanto na SID.<br />
O contrato assinado entre a Labo e a Nixdorf garantia à empresa brasileira<br />
acesso ao código-fonte do sistema operacional. Foi preciso, como no caso da SID,<br />
que se passasse algum tempo para que os engenheiros da Labo se convencessem que o<br />
parceiro alemão não se dispunha a cumprir sua parte no acordo. Depois de muitas<br />
tentativas, discussões e viagens à Alemanha, o diretor de Pesquisa e<br />
Desenvolvimento, Marcos Rosenthal, um engenheiro eletrônico formado pela Escola<br />
Politécnica da USP, com 11 anos de trabalho na Olivetti e quatro na Philips, também<br />
não viu outra alternativa senão autorizar seus técnicos a copiar e trazer, para o<br />
Brasil, alguns discos com o fonte. Tal ousadia custou-lhe caro. Ao contrário dos<br />
franceses, que sequer perceberam o roubo, os alemães souberam e exigiram a<br />
devolução das cópias. Rosenthal recusou-se. Empresa forte e com grande ascendência<br />
sobre a diretoria da Labo, na época, a Nixdorf conseguiu o afastamento de<br />
Rosenthal, que passou a ocupar um cargo menos estratégico no Desenvolvimento.<br />
Os engenheiros projetistas que sobrevi<strong>vera</strong>m a esses primeiros e difíceis dias<br />
concluíram que tantos contratempos se revelariam positivos, na medida em que<br />
aceleraram a capacitação <strong>tecnológica</strong> de suas empresas. Um sentimento que Cardoso<br />
não compartilha. O tempo gasto reescrevendo o sistema operacional da Logabax<br />
poderia ser consumido em outros projetos realmente originais. A verdadeira<br />
capacidade de concepção e desenvolvimento, a SID só iria adquirir ao entrar na área<br />
de automação bancária, onde não havia tecnologia para importar. O sistema bancário<br />
brasileiro é totalmente diferente do de outros países e sua automação teve que ser<br />
projetada aqui.<br />
Ao lado das empresas estatais e órgãos de governo, os bancos foram os<br />
primeiros usuários de computadores no país. O Bradesco foi o pioneiro, instalando,<br />
na Cidade de Deus, em 1961, um IBM 1401 para controlar seu serviço de cobrança de<br />
títulos. No final do ano seguinte foi a vez do Banco Nacional adquirir um Burroughs<br />
B205. Em 1965, a Federal Itaú implantou o seu CPD, com um IBM 1401. A partir de<br />
1968, o Bamerindus processava em um Univac 1005 as contas correntes de seus<br />
clientes.<br />
Apesar do pioneirismo, a implantação da informática no setor bancário foi<br />
lenta, não só pelo rígido controle de despesas – ao contrário do setor<br />
governamental, extremamente perdulário na aquisição dos seus "cérebros eletrônicos"<br />
- mas também pela resistência de seus antigos funcionários. Assim como os<br />
estatísticos do IBGE, os contadores não gostaram da novidade e não reconheciam a<br />
validade contábil de um documento emitido por computador. Insistiam em só trabalhar<br />
com as suas tradicionais fichas amarelas. No Itaú, os técnicos do CPD, tentando<br />
minimizar o atrito, mandaram imprimir formulários contínuos com tarjas amarelas.<br />
Mesmo assim, o chefe da Contabilidade do Banco recusou-se a comparecer à<br />
inauguração do novo sistema, em 1974, para "não ser conivente" com uma iniciativa