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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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A preocupação com a tecnologia nacional não foi característica isolada do<br />

Grupo de Trabalho número 3. Os demais grupos formados no IV Secomu — ensino em<br />

graduação e pós-graduação, software, centros de informática — de uma maneira ou de<br />

outra, apresentaram propostas complementares. O grupo de software, por exemplo,<br />

constatou a carência de uma indústria organizada, de recursos humanos para gerência<br />

e desenvolvimento, e de proteções adequadas ao autor de programas. Para corrigir<br />

essas limitações e deficiências propôs à Capre trabalhar, junto com outros órgãos<br />

oficiais, na formulação de uma legislação de direitos autorais e criação de<br />

mecanismos de proteção à indústria nacional de software.<br />

A Capre, embora participasse da organização do IV Secomu, não estava muito à<br />

vontade para fazer e defender propostas. Por mais que os seus enviados<br />

demonstrassem um grande interesse em participar do processo de discussão, ali eram<br />

vistos como representantes de um governo militar. Em 1974, as relações entre a<br />

universidade e o regime não mais se expressavam em conflitos de rua mas, ao<br />

contrário, no silêncio do campus e na desconfiança de parte a parte. Claramente<br />

conscientes da situação, Arthur e Luís Martins resol<strong>vera</strong>m se expôr às críticas e<br />

estavam sempre prontos a dar as explicações necessárias. "Que situação mais<br />

surrealista! Eu, que tanto combati os 'milicos', estou aqui tentando cooptar as<br />

universidades para trabalhar junto com esse governo!", pensava Arthur. Martins<br />

experimentava uma situação um pouco mais cômoda: além de gozar do salvo-conduto de<br />

seu passado iteano, não sofria os mesmos conflitos ideológicos do colega.<br />

As primeiras conversas foram agressivas, duras, mas leais. Martins e Arthur<br />

não tinham outra saída senão ouvir, pacientemente, as críticas: o governo importava<br />

demais, usava computador sem saber o que estava fazendo, não se importava com o<br />

desenvolvimento de tecnologia, nunca dava verba para a pesquisa... Com o rosário de<br />

reclamações todo desfiado, concedia-se vez à Capre para expor seu trabalho de<br />

incentivo à formação de recursos humanos, de colocar novos computadores nas<br />

universidades, de racionalizar o uso dos equipamentos no setor público e de buscar<br />

equilibrar a relação entre usuários e fabricantes.<br />

Bate de lá, apara de cá, Arthur e Martins ainda assistiram a lampejos da<br />

infindável discussão, dentro da própria comunidade acadêmica, entre os que<br />

desejavam se engajar em projetos mais práticos e os que defendiam o investimento<br />

prioritário na pesquisa fundamental, acusando aqueles de pretenderem desvirtuar os<br />

verdadeiros objetivos da universidade. Deste debate, os dois passaram longe.<br />

Intimamente, sabiam que dar ênfase à pesquisa básica seria o mesmo que colocar uma<br />

cenoura amarrada diante do focinho de um burro. Mas guardavam para si suas<br />

opiniões, pois não foram ao Secomu para se envolverem em discussões bizantinas.<br />

Conscientes de que a política de informática que a Capre se propunha a traçar não<br />

significava ficar remanejando computadores em universidades nem elaborando planos<br />

diretores para usuários, mas sem ter ainda uma clareza do caminho a seguir, eles<br />

precisavam da comunidade acadêmica como uma importante aliada, não só para a<br />

definição dos rumos como, também, para ajudar na caminhada.<br />

Estabelecido o contato inicial em Ouro Preto, a comunidade acadêmica começou a<br />

se chegar. Dória, Mammana e outros pesquisadores paulistas volta e meia<br />

desembarcavam no Rio para trocar idéias na Capre, enquanto que Martins e Artur não<br />

perdiam oportunidade para ir até São Paulo. Enquanto isso Ivan Marques<br />

intensificava o ritmo de suas conferências por todo o país, aumentando o tamanho da<br />

sua platéia e o leque de suas relações.

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