vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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programas produzidos internamente e que se concedessem incentivos fiscais e<br />
financiamentos favorecidos aos produtos nacionais.<br />
Na microeletrônica, a SEI previu a criação de um Instituto Nacional de<br />
Microeletrônica, em Campinas, como pólo gerador de tecnologia, e o estabelecimento<br />
de várias faixas de mercado de componentes, a serem ocupadas por diferentes classes<br />
de empresas, de acordo com a origem do capital. O objetivo seria atrair empresas<br />
estrangeiras interessadas em montar circuitos integrados no Brasil, aproveitando o<br />
menor custo da mão-de-obra operária brasileira e, ao mesmo tempo, em alguns<br />
segmentos, reservar o mercado para empresas nacionais geradoras de tecnologia.<br />
O projeto e a fabricação de circuitos integrados digitais são duas etapas bem<br />
distintas a ponto de hoje em dia — mas não àquela época - existirem, nos Estados<br />
Unidos, escritórios de engenharia especializados em projetar chips sob encomenda e<br />
unidades fabris dedicadas apenas a fabricá-los, conforme projeto do cliente. A<br />
fabricação se divide em três fases: difusão, teste e encapsulamento. A difusão é a<br />
mais complexa do ponto de vista tecnológico, sendo realizada sob condições<br />
especiais, em ambientes absolutamente impermeáveis à poeira, que lembram, pelos<br />
jalecos imaculadamente brancos dos técnicos, pela mortiça luz amarela e pelo<br />
silêncio, cenários de filmes de ficção científica. Nesta fase, a matéria-prima -<br />
uma lâmina de silício de dez centímetros de diâmetro e um milímetro de espessura -<br />
é submetida a processos químicos e fotográficos que lhe imprimirão algumas dezenas<br />
de pastilhas (chips) com meio centímetro quadrado em média, contendo centenas de<br />
microscópicos circuitos. A fase de teste, como o nome indica, permite identificar<br />
falhas no comportamento eletrônico das pastilhas. Finalmente, vem a montagem ou<br />
encapsulamento, quando as pastilhas são colocadas em seus suportes metálicos<br />
protegidos por uma cápsula de material plástico. Esta última fase não exige nenhuma<br />
mão-de-obra mais capacitada, mas recruta muita gente para um trabalho repetitivo e<br />
monótono. Por isso, os fabricantes norte-americanos e japoneses de circuitos<br />
integrados instalaram, ao longo dos anos 60 e 70, unidades de encapsulamento no<br />
Sudeste Asiático, onde os salários são baixíssimos.<br />
A SEI achou que poderia atrair alguns desses fabricantes para as regiões mais<br />
atrasadas do Brasil, gerando empregos, substituindo importações e aumentando as<br />
exportações. Mas não era este o seu maior objetivo. Se a maior parte dos chips<br />
consumidos no geral da indústria eletrônica são componentes-padrão produzidos em<br />
altíssima escala, existem alguns dedicados a cumprir funções específicas no<br />
interior de um equipamento. Seus preços são mais elevados, o mercado é mais<br />
reduzido, às vezes são projetados sob encomenda. Os investimentos necessários a sua<br />
produção são relativamente menores. Por isso, acreditava a SEI, seria possível<br />
interessar empresários nacionais a ingressar nesse segmento, desde que ajudados<br />
tecnologicamente, protegidos da concorrência internacional e apoiados por<br />
incentivos financeiros adequados. Como estímulo auxiliar, algumas dessas pastilhas<br />
dedicadas constariam de uma relação oficial de consumo obrigatório pelos<br />
fabricantes de equipamentos, conforme a idéia da Capre.<br />
Estes eram os ambiciosos planos da SEI para software e microeletrônica. Quase<br />
nada disso se realizou. Não levou muito tempo para a SEI começar a perceber que o<br />
fato de estar abrigada sob o manto do Conselho de Segurança Nacional e respaldada<br />
pelo interesse pessoal dos ministros-chefes do SNI e da Casa Militar em relação à<br />
informática não lhe bastava para colocar em prática a sua vontade. No que dependia<br />
do seu próprio poder, tudo corria às mil maravilhas. Mas no momento em que suas<br />
ações dependiam da anuência e participação de outras áreas de governo,<br />
especialmente as econômicas, para a concessão de incentivos, criação de mecanismos<br />
de fomento e desenvolvimento de recursos humanos, os passos tornavam-se lentos e<br />
até mesmo conflitantes.