vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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Dion, que bem sabia do que eram capazes os engenheiros do ITA, decidiu confiar<br />
a Mesquita a solução do espinhoso problema do processamento das declarações de<br />
renda. Mesquita, porém, ficou pouco tempo, pois logo saiu para criar a sua própria<br />
empresa, a Digiponto que, com o tempo, se transformaria em um dos maiores<br />
fabricantes brasileiros de teclados digitais. Pegado, Mário, Ramalho, Antônio<br />
Fernando e, mais tarde, Wilson Delgado Pinto, continuaram no Serpro, formando o<br />
Grupo de Projetos Especiais - GPE.<br />
O GPE, aproveitando a experiência do trabalho para o Ipea, continuou buscando<br />
um meio de substituir, no processamento do Imposto de Renda, o velho sistema de<br />
entrada de dados baseado em cartões perfurados. Até então, as declarações eram<br />
separadas em lotes de 10 mil, formando cem pastas com cem formulários em cada.<br />
Administrar esse volume de cartões durante a primeira digitação, a conferência e as<br />
digitações posteriores que se fizessem necessárias para correções, era um trabalho<br />
insano. Tendo que usar um minicomputador Hewlett-Packard no lugar do IBM 1130, o<br />
GPE concebeu um sistema com 32 terminais e 32 placas de interface: o concentrador<br />
de teclados. Nele, os lotes de declarações seriam digitados duas vezes, por<br />
digitadores diferentes, ficando para uma terceira digitação apenas os que<br />
apresentassem divergências automaticamente apontadas pelo computador. A velocidade<br />
e confiabilidade do trabalho de digitação ganharia uma nova dimensão. Para Pegado e<br />
seu pessoal, mais do que isso, confirmou-se existirem problemas importantes no<br />
Brasil, para os quais as melhores soluções podiam ser encontradas nas cabeças dos<br />
técnicos brasileiros.<br />
O grupo de Pegado trabalhava em um galpão no Horto Florestal, lugar fresco e<br />
muito agradável, aos pés do morro do Corcovado. Dion aparecia pouco mas, da sede do<br />
Serpro na rua da Lapa, no Centro, acompanhava por uma linha telefônica direta, o<br />
trabalho de sua "banda de rock", apelido devido aos longos cabelos e barbas que<br />
todos, exceto Pegado, usavam. Os sentimentos da época eram de contestação, fosse no<br />
pacífico modo hippie de vestir ou na forma violenta de agir, como a de um grupo de<br />
esquerda que, em dezembro de 1970, seqüestrou o embaixador suíço no Brasil,<br />
Giovanni Bucher. Ocupando um alto posto dentro da administração pública, com acesso<br />
privilegiado a muitas informações importantes e confidenciais, Dion soube, com<br />
antecedência, de uma grande blitz policial a ser desfechada na Floresta da Tijuca.<br />
Os órgãos de segurança procuravam o local onde poderia estar escondido o<br />
embaixador. Subitamente, lembrou-se da sua "banda de rock" trabalhando bem ali, no<br />
centro do fogo. Não quis nem imaginar o resultado de um encontro entre os<br />
fuzileiros navais e aqueles barbudos e cabeludos, em meio a um monte de<br />
instrumentos esotéricos que mais pareciam transmissores de naves espaciais! "Se<br />
pegam o Ramalho! Com aquele cabelo abaixo dos ombros, ele vai levar um bom tempo<br />
para explicar o que estava fazendo, à noite, no Horto Florestal", pensou.<br />
Imediatamente telefonou para Pegado e ordenou que desligassem todas as luzes e<br />
equipamentos, trancassem o barracão e tratassem de sair dali o mais rápido<br />
possível!<br />
Afora tais sustos, a preocupação única dos rapazes era pôr o concentrador de<br />
teclados para funcionar. No dia que marcaram para isso acontecer, Dion, sem ser<br />
sequer informado, apareceu por lá. Ao longo da vida, construiria a fama de sempre<br />
aparecer no lugar certo na hora exata. Ficou pelos cantos, vendo o grupo tentar<br />
imprimir alguma coisa. Como sempre acontece nessas ocasiões, a máquina não queria<br />
dar sinal de vida. Mário Durso perdeu a paciência e, numa última tentativa,<br />
desabafou no teclado a sua irritação. Se o "jeitinho" não funciona, vale o<br />
"jeitão"... Deu certo! A impressora disparou! Foi uma alegria só, compartilhada com<br />
Dion. Momentos depois, ao conferir o que saira impresso, ficaram meio sem graça. No<br />
meio do papel, destacava-se a palavra "adrem". No seu desespero, Durso esquecera<br />
que, no protótipo, o que era digitado no teclado sairia escrito ao contrário na<br />
impressora...