vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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controlados por uma comissão da Aeronáutica; no material rodoferroviário, assunto<br />
entregue ao Geipot; e... nos computadores, cujo controle coube exatamente à Capre.<br />
Assim, o Conselho Nacional de Comércio Exterior baixou, no dia 3 de dezembro de<br />
1975, a sua Resolução 104, condicionando à anuência prévia da Capre a importação de<br />
computadores eletrônicos e seus periféricos e outros equipamentos compreendidos nas<br />
posições 84.53 e 84.55.11 da Tarifa Aduaneira do Brasil. Foram enquadradas as<br />
máquinas automáticas de tratamento da informação e suas unidades (unidade central<br />
de processamento - UCP - e quaisquer outras), leitoras magnéticas ou óticas de<br />
qualquer tipo e máquinas de registrar informações em suporte, sob forma codificada,<br />
de qualquer tipo. E, ainda, as peças separadas e acessórios destinados<br />
exclusivamente ou principalmente às máquinas e equipamentos da posição 84.53. Ato<br />
contínuo, para 1976, o governo estabeleceu que essas importações não poderiam<br />
ultrapassar o teto de 100 milhões de dólares. O controle das importações na<br />
informática só não foi completo porque Saur, em uma reunião em Brasília, no<br />
gabinete de Élcio, não conseguiu disfarçar o susto ao ouvir dizer que deveria<br />
controlar, também, o software. "Isto é totalmente inviável!", exclamou.<br />
Para Ricardo Saur, só as máquinas e componentes já lhe criariam muitos<br />
problemas. Daí que tratou de buscar acertar um acordo de cavalheiros com os<br />
dirigentes das multinacionais, convidando os presidentes da IBM, José Bonifácio<br />
Abreu Amorim, da Burroughs, Henry Eicher, e outros para uma reunião em seu<br />
gabinete, no Rio. Foi direto ao assunto: "Nós temos um problema! Eu sei que vocês<br />
não gostam da Capre, mas é preciso paciência. Temos que cumprir a lei e a melhor<br />
maneira de fazê-lo é trabalharmos juntos." Para evitar que os computadores<br />
instalados parassem por falta de peças, Saur se propôs a não deixar faltar guias de<br />
importação, desde que as multinacionais assegurassem que não fariam estoque. O<br />
acordo não foi conseguido sem um quebra-pau inicial, onde o representante da<br />
Olivetti, Giovanni Farina, mostrou-se o mais exaltado.<br />
Além das multinacionais, a Capre também precisaria, a partir de agora, se<br />
entender bem com a Cacex. Saur foi várias vezes avisado para tomar cuidado com<br />
Benedito Moreira, um dos mais poderosos tecnocratas do regime militar, que<br />
permanecia à frente da Cacex já pelo terceiro governo consecutivo. Saur resolveu<br />
pagar para ver. Pediu uma audiência a Benedito, em função da Resolução do Concex.<br />
Ti<strong>vera</strong>m um ótimo entendimento desde o primeiro momento. O diretor da Cacex deu-lhe<br />
bons conselhos e um aviso: o pior lobbing não é nem o das multinacionais nem o das<br />
empresas privadas - é o das empresas estatais apadrinhadas mais em cima. Não deu<br />
outra! Quem mais trabalho deu a Saur foram as estatais mal administradas.<br />
Entre os que discutiam as idéias para uma política de informática, as decisões<br />
do CDE causaram perplexidade. Alguns ficaram totalmente contra, como Antônio Cesar<br />
Olinto e o secretário de Economia e Finanças do Ministério da Fazenda, Carlos<br />
Augusto Rodrigues de Carvalho, ambos usuários. Para eles, o controle das<br />
importações era um "absurdo". Na Capre e cercanias, a reação inicial não foi menos<br />
desfavorável. Para Ripper, Ivan, Arthur e outros técnicos seria uma "completa<br />
loucura" tentar controlar as importações de todos os computadores do país. "Saur,<br />
olha só o que você fez! A Capre não vai dar conta de tanto processo de importação e<br />
de tanta burocracia. Você vai entupir esse país!", foi, com pequenas variações, o<br />
que todos lhe disseram no início de uma reunião de avaliação, logo após serem<br />
conhecidas as decisões. Só Saur exultava. A partir de agora, dificilmente se<br />
repetiriam casos como o do Banco Central, que apelara vitoriosamente ao Conselho<br />
Monetário Nacional quando a tal da Capre negara-lhe permissão para a compra de um<br />
IBM 370/158.<br />
Nem Saur nem seus amigos perceberam de imediato que a Capre ganhara, de mão<br />
beijada, um verdadeiro instrumento de política industrial. Foi na medida em que<br />
avançaram no exame dos termos das decisões do CDE e de suas implicações que se