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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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computador quanto comunicação social. Os países onde estão 90% dos bancos de dados<br />

do mundo e as sedes do cartel das agências de notícias internacionais defendem o<br />

livre fluxo de informações como uma extensão do liberalismo comercial. Os países do<br />

Terceiro Mundo rejeitam essa posição, argumentando que razões de ordem política,<br />

econômica, <strong>tecnológica</strong> e cultural justificam um certo controle sobre as informações<br />

que fluem para dentro e para fora de suas fronteiras nacionais.<br />

A posição brasileira foi explicitada pelo tenente-coronel Joubert Brízida, na<br />

Primeira Conferência Mundial sobre Fluxo de Dados, realizada em junho de 1980, em<br />

Roma. Em palestra de grande repercussão internacional, defendeu o controle<br />

governamental sobre os sistemas de informação de cada país e a criação de<br />

legislação específica regulamentando os fluxos internacionais de dados: "A<br />

informática não é neutra, isto é, traz em si a cultura de quem a originou.<br />

Portanto, é fundamental que cada país exerça crítica sobre as informações que lhe<br />

atravessam as fronteiras... O país que não se preocupa com o controle das<br />

informações estratégicas que utiliza corre o risco de se tornar intoleravelmente<br />

dependente, através das telecomunicações, dos interesses de grupos políticos e<br />

econômicos fora de suas fronteiras."<br />

O secretário-executivo da SEI reconheceu a necessidade de um equilíbrio entre<br />

a preservação da soberania nacional e o acesso aos benefícios da sofisticação<br />

<strong>tecnológica</strong>. Um dilema que poderia ser resolvido com o desenvolvimento, no próprio<br />

país, de tecnologias de bancos de dados, permitindo a criação de bases de dados<br />

para, juntamente com fontes externas, proporcionarem um "saudável equilíbrio na<br />

distribuição universal da informação".<br />

Coerente com esta posição, a SEI deu prosseguimento ao trabalho conjunto que a<br />

Capre, a Embratel e o Minicom realizavam de controle do FDT no Brasil. O objetivo,<br />

sempre que possível, era transferir para dentro do país as bases de dados de<br />

empresas multinacionais e, até, nacionais. Exemplo: todo o sistema de controle de<br />

reservas e emissão de passagens aéreas da Varig baseava-se em computadores situados<br />

em Austin, Texas. Exatamente: os dados que a recepcionista em um balcão qualquer de<br />

aeroporto, no Rio, Nova York, Tóquio, Nairobi ou alhures, digitava em terminal de<br />

computador viajavam até Austin para serem processados e remetidos de volta. A SEI<br />

negociou com a empresa aérea a internação do sistema, inclusive facilitando a<br />

importação dos pesados computadores que o suportam. Entendimentos semelhantes foram<br />

feitos com a IBM que processava em White Plains, Nova York, até simples informações<br />

necessárias à configuração de um sistema para um cliente, ao controle de estoques<br />

na sua fábrica de Sumaré ou à monitoração de cursos de treinamento. Parte da base<br />

de dados da multinacional teve que ser transferida para dentro do país. Outras<br />

multinacionais em outros setores da economia submeteram-se a idênticos acordos.<br />

Na Subsecretaria de Atividades Estratégicas, o tenente-coronel Edison Dytz, um<br />

verdadeiro trator, desde logo procurou alargar o espaço inicialmente reservado para<br />

si: além de cuidar da proteção de dados (criptografia), dos projetos de informática<br />

das Forças Armadas e da microeletrônica, ele envolveu-se com as áreas de<br />

instrumentação e de controle de processos. Em 1981, formou uma comissão de 50<br />

entidades para traçar uma política de automação para o setor produtivo. Tratava-se<br />

de uma área delicada. Os grandes usuários ou são multinacionais interessadas em<br />

operar os mesmos sistemas utilizados em suas matrizes ou empresas estatais -<br />

siderúrgicas, petroquímicas, fornecedores de energia - que o ministro Delfim Netto<br />

obrigava a buscar no exterior, muitas vezes sem necessidade, os projetos e<br />

equipamentos, pois, junto, vinham créditos livres indispensáveis à rolagem da<br />

dívida externa.<br />

Dytz não se intimidou. Respaldado na autoridade do Conselho de Segurança<br />

Nacional, fez a SEI emitir um Ato Normativo obrigando as empresas estatais a

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