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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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evolução política do país, nos trilhos da "abertura lenta, gradual e segura"<br />

proposta pelo presidente Geisel.<br />

No centro das articulações que envolviam pessoas da Coppe, do NCE, da Cobra,<br />

da PUC, da Embratel, até da IBM e Burroughs e, sobretudo, do Serpro, estavam dois<br />

ex-colegas de ITA, igualmente atingidos pela expulsão — ou desligamento — por<br />

motivos políticos: Raimundo de Oliveira e Ezequiel Pinto Dias, este expulso em<br />

1965, ano em que deveria concluir o seu curso. Vindo para o Rio, Ezequiel conseguiu<br />

seu primeiro emprego com a ajuda de um ex-colega do colégio onde estudou, interno,<br />

em Lavras: Ricardo Saur, também começando carreira. Depois de algumas experiências,<br />

ingressou no CPD do Instituto Brasileiro da Reforma Agrária, criado no governo<br />

Castelo Branco para cuidar do problema da terra. Depois seguiu para a França em<br />

1967, onde completou sua formação e, retornando ao Brasil e ao Ibra, agora Incra,<br />

acabou transferido para o Serpro, junto com todo o serviço de cadastramento rural.<br />

No Serpro, reencontrou Raimundo de Oliveira já militando no MDB, o pequeno e<br />

controlado partido da oposição consentida.<br />

Depois das eleições de 1974, a bandeira <strong>tecnológica</strong> motivando os engenheiros e<br />

as condições de trabalho mobilizando os técnicos de nível mais baixo,<br />

arregimentaram cientistas, pesquisadores, analistas, projetistas, técnicos de<br />

produção, programadores, digitadores em reuniões e mais reuniões que convergiram<br />

para uma grande assembléia, com mais de 400 presentes, no auditório da Associação<br />

Cristã dos Moços, vizinho à sede do Serpro, em junho de 1977. Nesta assembléia, a<br />

Capre se fez ouvir através da leitura, por parte de um de seus técnicos, Horácio<br />

Soares Neto, de um extenso relatório sobre os recursos humanos em processamento de<br />

dados. Quase todos os técnicos do órgão governamental, Arthur Pereira Nunes à<br />

frente, estavam engajados na ampla articulação.<br />

A assembléia da ACM lançou as bases para a fundação da APPD, em outubro.<br />

Ezequiel foi eleito seu primeiro presidente. O diretor técnico da Cobra,<br />

Deocleciano Pegado, assumiu a vice-presidência. O presidente do Serpro, Moacyr<br />

Fioravante, inscreveu-se como sócio. E Arthur, proposto para a Diretoria, ficou no<br />

seu Conselho Fiscal, após uma conversa entre Ezequiel e Saur na qual concluíram não<br />

existir ainda condições políticas para um funcionário de governo, com alguma<br />

importância, assumir uma função mais ostensiva em uma organização independente da<br />

sociedade civil.<br />

Na defesa de seus novos projetos, a IBM resolveu evitar qualquer postura<br />

radical. Não contestou a política de informática mas tratou de mostrar ao governo<br />

brasileiro que os computadores em exame estavam fora da faixa delimitada pela<br />

reserva de mercado. Além disso, uma nova negativa punha em perigo a continuidade<br />

operacional de sua fábrica em São Paulo. Essas opiniões foram transmitidas pelo<br />

presidente da Divisão Americas-Far East, Gordon Williamson — durante visitas<br />

cordiais e ciceroneadas por Amorim - ao todo podereroso ministro-chefe da Casa<br />

Civil, general Golbery do Couto e Silva, e ao ministro da Indústria e Comércio,<br />

Ângelo Calmon de Sá. Pouco depois, Costa Couto recebeu de Golbery um pedido para<br />

que fosse dada a maior atenção ao projeto da IBM.<br />

O recado foi prontamente assimilado.<br />

Na verdade o Conselho Plenário da Capre já não se sentia tão seguro para tomar<br />

uma nova decisão contrária à IBM. Além de viver a instabilidade natural de um fim<br />

de governo, discutia um mercado relativamente pequeno que nenhuma empresa nacional<br />

poderia ocupar em tempo hábil. Muito menos, com tecnologia nacional. Assim, as<br />

posições dividiam-se entre os que defendiam a reserva do mercado de médios para

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