vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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que se relacionasse com informação e contrainformação no governo pouco sabia sobre<br />
os recursos da eletrônica digital. O sistema de comunicações do poderoso SNI estava<br />
décadas atrasado, baseando-se em uma rede de rádio de baixa potência. E seus tão<br />
famosos quanto desconhecidos fichários eram arquivos de gavetas cheias de papel.<br />
Somente em 1974, com a chegada de Geisel à Presidência, por decisão do novo chefe<br />
do "Serviço", general João Baptista Figueiredo, tomam-se as primeiras decisões para<br />
modernizar todo o sistema. Parte da tarefa foi entregue ao tenente-coronel Edison<br />
Dytz, um engenheiro eletrônico que, desde 1972, era o Coordenador de Comunicação da<br />
Presidência República.<br />
Com 37 anos, Dytz tinha duas obsessões: o trabalho e o Exército. A primeira,<br />
por herança familiar e a segunda por gratidão. Descendente de imigrantes luteranos<br />
alemães, absorveu desde o berço a ética protestante do trabalho. Sempre trabalhou e<br />
sempre estudou. Ao chegar à adolescência, o horizonte de Santo Ângelo, onde nasceu,<br />
no interior do Rio Grande do Sul, tornou-se pequeno para ele. Dytz não queria ser<br />
um camponês. Ambicionava mais da vida. Queria continuar estudando, fazer um curso<br />
superior. No entanto, não podia pensar em contar com a ajuda da família: seus pais<br />
eram pobres a ponto de não conseguirem dar a todos os filhos sapatos para calçar.<br />
Que diria sustentar sua formação!<br />
Depois de completar o curso ginasial, pago pela Prefeitura de sua cidade, Dytz<br />
viu que a única possibilidade de alcançar horizonte profissional e social mais<br />
gratificante que o da fábrica de banha onde trabalhava, seria através do Exército.<br />
Fez concurso para a Escola Preparatória de Porto Alegre e, em seguida, para a<br />
Academia Militar de Resende. Em 1952, entrou para o Instituto Militar de<br />
Engenharia, onde se especializou em eletrônica. Assim que se formou, tornou-se<br />
responsável pelo sistema de rádio do Exército e, em abril de 1965, transferiu-se<br />
para Brasília, onde implantou o sistema de rádio da nova sede do Ministério. Dois<br />
anos depois, começou a dar aulas no Departamento de Engenharia Elétrica da<br />
Universidade de Brasília.<br />
A partir do momento em que assumiu a coordenação do Sistema de Comunicação da<br />
Presidência da República — substituindo o tenente-coronel Joubert de Oliveira<br />
Brízida que saíra para cursar a Escola de Comando e Estado Maior do Exército - Dytz<br />
passou a conviver com as mais altas figuras do regime. Foi uma época de euforia,<br />
entusiasmo e, até, deslumbramento. O quase-futuro camponês pobre e sem perspectivas<br />
transformara-se, a custo de seu esforço, tenacidade e inteligência, em um homem do<br />
poder. Neste clima, é convidado pelo chefe da Escola do Serviço Nacional de<br />
Informações — Esni, general Octávio Aguiar de Medeiros, para trabalhar no SNI. Uma<br />
opção, para ele, difícil pois se, de um lado, o colocava ainda mais próximo<br />
daquelas personalidades que tanto admirava - como o próprio Medeiros, Figueiredo e<br />
o seu chefe de gabinete, Danilo Venturini - de outro havia o receio em se integrar<br />
a um órgão cuja imagem externa ligava-se indissoluvelmente à repressão política.<br />
Cuidar de sua área de comunicações poderia significar apenas um trabalho técnico.<br />
Ou, temia Dytz, alguma coisa mais séria.<br />
A lealdade e a admiração por Medeiros afastaram suas resistências. Em 1974,<br />
entrou para o SNI com a atribuição de criar um novo sistema, confíável, de<br />
comunicações. Pensou em desenvolver um sistema de cifração de telex que,<br />
posteriormente, deveria ser estendido a canais de voz e dados. Para este trabalho,<br />
Dytz se valeu muitas vezes da ajuda da Esni, cujos professores, oriundos da<br />
Universidade de Brasília, dedicavam-se a estudar a questão <strong>tecnológica</strong> conforme a<br />
doutrina da segurança nacional e a pesquisar soluções específicas para os problemas<br />
do SNI. Aliás, nesta mesma época, também preocupado com o sigilo das mensagens, um<br />
grupo desses pesquisadores, liderado pelo major Cuinhas, debruçou-se sobre um<br />
equipamento de cifração, da marca Hagelmin — considerado o melhor do mundo –<br />
tentando entender e copiar sua parte eletrônica.