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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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metástase e morte quase certa. Grau III, tanto poderia evoluir fatalmente quanto<br />

regredir, devolvendo-o à vida.<br />

De repente, tudo mudou para Dytz. Sem saber por quanto tempo lutaria, nem se<br />

tinha chances de êxito, nada mais lhe importava, exceto tentar sobreviver. Trabalho<br />

e família foram deixados de lado. No segundo semestre de 1978, veio para o Rio de<br />

Janeiro começar um tratamento quimioterápíco. Foram seis meses de horror para<br />

aquele homem alto e corpulento, apelidado de "Alemão". Sozinho, não conseguia ficar<br />

em casa à noite, enfrentando os efeitos provocados pelos medicamentos. Punha-se a<br />

vagar nas madrugadas pelas ruas do bairro carioca da Tijuca, vomitando como se<br />

fosse um bêbado. Mas, dono de uma imensa força de vontade, decidiu enfrentar o<br />

desespero propondo-se uma nova tarefa que lhe tornasse mais agradável o quotidiano:<br />

voltou a estudar. Inscreveu-se no curso de pós-graduação em biotecnologia da UFRJ,<br />

após mobilizar amigos influentes para ajudar a contornar um pequeno problema: o<br />

prazo de inscrição estava vencido. E foi estudando biologia, fisiologia e assuntos<br />

afins, para ele novos e atraentes, que Dytz encontrou motivação para continuar<br />

vivo.<br />

Enquanto Dytz travava sua guerra particular contra o câncer, os trabalhos no<br />

Projeto Prólogo avançavam e seus responsáveis começavam a chegar a uma inquietante<br />

constatação: ao contrário do que inicialmente imaginaram, não bastava ter<br />

competência para desenvolver aquele e outros equipamentos de igual complexidade<br />

<strong>tecnológica</strong>, para considerar atendidos os requisitos da segurança nacional.<br />

Garantir o sigilo nas comunicações das embaixadas, órgãos militares e outras áreas<br />

nevrálgicas do governo não era suficiente para tirar o país de uma situação de<br />

extrema dependência e vulnerabilidade. Só agora davam-se conta de que trabalhavam<br />

sobre a ponta de um gigantesco iceberg: a base <strong>tecnológica</strong> de uma máquina<br />

criptográfica em nada se diferenciava daquela dos equipamentos de informática, ou<br />

seja software e circuitos eletrônicos de alta integração. Os projetistas da Esni<br />

provaram ser capazes de desenvolver um sistema específico de cifração e decifração<br />

de mensagens e de projetar o hardware. Mas, em relação aos diminutos, baratos e<br />

cada vez mais poderosos componentes microeletrônicos, não tinham outra saída senão<br />

adquiri-los no mercado externo.<br />

O Projeto Prólogo apoiava-se em alicerces frágeis.<br />

Embora consciente do valor cada vez maior do conhecimento e da tecnologia no<br />

mundo moderno, o SNI não atentara até então para a importância da microeletrôníca,<br />

uma tecnologia que mal acabara de nascer e já revolucionava todos os conceitos da<br />

indústria eletrônica digital e da própria vida social. O Projeto Prólogo despertou<br />

o órgão para o fato de que, mesmo investindo em suas indústrias de armamentos e<br />

aeronáutica e em uma política de energia nuclear, o Brasil não teria nenhuma chance<br />

de autonomia enquanto continuasse totalmente dependente em uma área que<br />

impulsionava aceleradas e radicais mudanças <strong>tecnológica</strong>s. O chip era tão vital que<br />

sua produção no país assumiu, para o grupo, a mesma importância que, duas décadas<br />

antes, ti<strong>vera</strong> o monopólio na exploração do petróleo. Entretanto, seus integrantes<br />

desconheciam a que nível porventura chegara a capacitação <strong>tecnológica</strong> brasileira<br />

neste campo.<br />

Aos poucos, as discussões sobre alternativas de políticas <strong>tecnológica</strong>s foram<br />

ganhando prioridade dentro da cúpula do Projeto Prólogo. Sempre orientados por<br />

Medeiros - de longe o mais atento à importância do binômio segurança-tecnologia -,<br />

Joubert, Loyola, Cuinhas e Cotrim procuraram se aprofundar nas questões que<br />

envolviam informática, microeletrônica e comunicações. Mais tarde, quando já se<br />

recuperava do tratamento, Dytz se somaria às discussões.

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