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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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Igual à Comissão Cotrim, o GTE/I não dialogava com as pessoas chamadas a<br />

prestar depoimentos. Em uma sala do Conselho de Segurança Nacional, no anexo ao<br />

Palácio do Planalto, organizaram-se mesas-redondas nas quais aos convidados cabiam<br />

apenas dissertar sobre os temas determinados. O coronel Francisco Fernandes abria<br />

as reuniões esclarecendo precisar das informações, mas que, como órgão de<br />

assessoramento da Presidência, o GTE/I não poderia emitir opinião. Só o faria para<br />

o próprio Presidente. Podia acontecer de os integrantes do GTE/I e seus<br />

entrevistados sustentarem produtivos debates técnicos, como o que, certa vez,<br />

envolveu o diretor-técnico da Cobra, Deocleciano Pegado, e o oficial do SNI, Loyola<br />

Reis. Partindo de posições opostas, caminhavam para um entendimento quando a<br />

conversa foi bruscamente interrompida pelo coronel Fernandes. Pegado ficou<br />

completamente atônito. Qualquer diálogo, mesmo técnico, parecia proibido.<br />

Só que, agora, as pessoas já estavam psicologicamente mais preparadas para<br />

enfrentar a situação. Aliás, o próprio clima do país era o da "abertura" prometida<br />

pelo presidente, que buscava se popularizar fazendo-se chamar nos meios de<br />

comunicação por "João", e ameaçando "prender e arrebentar" quem fosse contra a<br />

democracia... Os espaços para a sociedade civil se organizar ampliavam-se. Na<br />

informática, a APPD, rapidamente, conquistou representatividade e respeito, e o<br />

GTE/I não pôde deixar de chamar Ezequiel Dias para uma entrevista. Graduado<br />

funcionário do Serpro, técnico respeitado e líder político reconhecido, Ezequiel<br />

não se intimidou com os métodos do Grupo. Achou-se no mesmo direito de gravar a<br />

conversa que os seus interrogadores. Foi colocar seu pequeno gravador portátil<br />

sobre a mesa, para gerar um clima kafkiano. Muita discussão, ânimos exaltados,<br />

pode, não pode, grava, não grava. Ezequiel não gravou mas seus amigos, desde então,<br />

o apelidaram de "Juruna da Informática".<br />

O professor José Ripper também manifestou seu inconformismo: "Vocês me<br />

desculpem, mas acho essa uma atitude altamente insatisfatória. Estamos aqui para<br />

diálogo e não para monólogo. Eu entendo que, como homens de assessoramento da<br />

Presidência, os senhores estejam acostumados a trabalhar na base de monólogo. São<br />

obrigados a dar ao presidente uma informação sem saber o motivo. Mas eu sou um<br />

professor universitário, e uma das características da universidade é manter um<br />

diálogo constante com os alunos. Quero que eles me questionem. Da mesma maneira que<br />

não consigo mandar um aluno fazer algo sem lhe dizer o porquê, eu estou cansado de<br />

falar sem saber para quê. Concordo que a decisão final é do governo, mas não aceito<br />

falar no vazio." O coronel Fernandes disse-lhe entender os argumentos. Nem por<br />

isso, informou-lhe sobre seus propósitos.<br />

Sem ao menos se dar ao cuidado de aguardar os resultados dos trabalhos do<br />

GTE/I, o SNI começou a pôr em prática as mudanças pretendidas no "humanograma" da<br />

informática. Na Digibrás, a diretoria proposta por Fioravante foi vetada e a<br />

empresa submetida a intervenção branca. O Sepro era um assunto resolvido. Dion, o<br />

novo presidente, encarregou-se de desmontar dois símbolos da administração<br />

anterior: extinguiu a Divisão de Fabricação e se desfez da revista Dados e Idéias,<br />

vendendo-a para o grupo Gazeta Mercantil. Sem a DFa, o Serpro deixou de ser um<br />

centro de desenvolvimento de tecnologia industrial e de formação de engenheiros<br />

projetistas. Sem a revista, a informática perdeu seu veículo de debate e formulação<br />

política.<br />

A intervenção na Cobra seria o próximo passo.<br />

A empresa estatal nunca foi vista com simpatia pela Comissão Cotrim. A imagem<br />

negativa teve origem na Esni, onde as constantes falhas de um minicomputador Cobra<br />

400 não recebiam da área de manutenção da empresa a atenção de que a Escola se

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