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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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aceitar, como diretor, uma pessoa que sequer conhecia. O real motivo era outro:<br />

percebeu que a exclusão de Loyola significava um golpe fatal na Digibrás. Os dois<br />

juntos poderiam medir forças com a SEI e brigar para tornar a empresa um<br />

instrumento realmente operativo e importante. Agora, ele estava sozinho e não<br />

nutria dúvidas de que, na SEI, Joubert não dividiria o poder com a Digibrás.<br />

Cotrim acertou. Apesar da disposição do seu diretor-técnico, Cláudio Brito, em<br />

dar alguma dignidade à empresa, a Digibrás pouco poderia fazer, salvo se contasse<br />

com a força da SEI ao seu lado. Os planos eram muitos: acompanhar, através de<br />

questionários e de visitas técnicas às fábricas, os programas de nacionalização das<br />

empresas; implementar atividades de treinamento, aproveitando todo o acervo da<br />

Capre; estabelecer normas técnicas; montar uma central de compras para componentes.<br />

Tudo isso dependia de recursos financeiros cujas fontes eram a Finep e o CNPq,<br />

agências que, sob Delfim Netto, deixaram de gozar do prestígio e das verbas<br />

alcançados na época de Reis Velloso. Para Delfim, tecnologia sempre foi alguma<br />

coisa fácil de se obter a baixo custo no exterior, logo não se justificando muito<br />

investimento nessa área. Com a chave do cofre na mão, o ministro do Planejamento<br />

teria não poucas oportunidades para sutilmente atrapalhar os planos da SEI. Sem<br />

precisar assumir aberta oposição às Diretrizes do general Venturini.<br />

Com recursos insuficientes para qualquer investimento sério, pouco restou a<br />

Cotrim do que cuidar das aparências. Comprou um prédio de dez andares, no setor das<br />

Autarquias, em Brasília, onde, nos pisos superiores, a Digibrás passou a desfrutar<br />

de gabinetes confortáveis e luxuosos. Os andares inferiores foram alugados à SEI<br />

que neles se instalou em gabinetes sóbrios, mais ao gosto dos hábitos castrenses.<br />

Cotrim pôde, assim, gozar da duvidosa honraria de ter seu escritório situado<br />

andares acima do ocupado pelo todo-poderoso secretário-executivo da SEI. A<br />

Digibrás, de uma vez por todas, tornou-se um doente terminal cujas atividades<br />

seriam encerradas - caso raro - ainda durante o governo Figueiredo, arquivando<br />

junto as ambições do embaixador Paulo Augusto Cotrim Rodrigues Pereira.<br />

Quanto a Loyola, acabou deixando o serviço ativo, empregando-se na Petrobrás,<br />

onde submergiu por um bom tempo.<br />

A SEI começou a funcionar em fevereiro de 1980, estruturada em quatro<br />

subsecretárias: Assuntos Estratégicos, englobando os programas de microeletrônica e<br />

segurança de dados; Serviços, englobando software, transmissão de dados e automação<br />

bancária; Indústria, herdando boa parte dos resultados das atividades da Capre; e<br />

Planejamento, responsável pelas estatísticas, estudos de mercado etc. Dytz, que<br />

soube com quem se aliar na luta de poder que se sucedeu ao GTE/I, assumiu a<br />

Subsecretária de Assuntos Estratégicos. Gennari conseguiu fazer Henrique Costábile,<br />

seu ex-diretor na Prodesp, subsecretário de Serviços. As outras duas subsecretarias<br />

couberam a nomes que vieram através do Palácio do Planalto, em composições com as<br />

áreas econômicas: Guilherme Hatab e Jackson Guedes, respectivamente.<br />

Para evitar solução de continuidade nas atividades até então conduzidas pela<br />

Capre, a SEI dispôs-se a aproveitar o seu quadro técnico e administrativo.<br />

Entretanto, para muitas dessas pessoas, as mais envolvidas política ou<br />

emocionalmente com o grupo derrotado, a ida para Brasília era uma questão delicada,<br />

com implicações muito mais profundas do que a mera mudança de cidade. Todos teriam,<br />

se assim o desejassem, boas alternativas profissionais no Rio. Por outro lado,<br />

sentiam-se responsáveis pela defesa do trabalho até então realizado. Embora os<br />

novos condutores da política tivessem assumido o compromisso de manter o que fora<br />

realizado pela Capre, ninguém estava seguro disso. O discurso não combinava com a<br />

despropositada arbitrariedade da qual todos se sentiam vítimas. Agora, se não<br />

fossem para Brasília, nunca poderiam ter certeza de que uma eventual mudança nos<br />

rumos devia-se à intenção deliberada das novas autoridades ou a decisões

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