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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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norte-americanos e pela frustração de constatar que tal competência de pouco servia<br />

no Brasil. Venceram o complexo de inferioridade e subdesenvolvimento, perceberam-se<br />

capazes e bem preparados, mas não se viram com oportunidade para aplicar seus<br />

conhecimentos, a não ser dando aulas para alunos pouco interessados no que<br />

ensinavam. Por outro lado, nos últimos dois anos, testemunharam o aparecimento em<br />

seu meio de alguns projetos estimulantes, justificando a animação que os convergia<br />

para o seminário.<br />

O orgulho de relatar suas experiências e a curiosidade pelas experiências<br />

alheias não podiam ser disfarçados nas reuniões técnicas, nos intervalos para<br />

prolongados almoços e, principalmente, nos bate-papos regados a cachaça mineira.<br />

Para os ex-iteanos, o diálogo era ainda mais fácil, quase instantâneo. Ah!, a<br />

disciplina consciente, as viagens, os trotes, o centro acadêmico... A aproximação<br />

foi inevitável. Naturalmente, Ivan Marques, Ysmar Vianna, Mário Ripper, Cláudio<br />

Mammana, Wilson de Pádua, Rubens Dória Porto, Sílvio Paciornick e Marília Milan -<br />

que compensava com beleza e inteligência o fato de não ter um passado de ITA -<br />

convergiram para o grupo de trabalho que discutiria os projetos de sistemas de<br />

interesse nacional: o grupo de trabalho número 3.<br />

Todos queriam compartilhar e trocar informações sobre suas experiências. Os<br />

paulistas tinham várias para contar. Dentro da USP, o LSD e o Departamento de<br />

Física desenvolviam protótipos com chances de virem a ser industrializados. O LSD,<br />

com recursos do BNDE, dava prosseguimento ao projeto do GTE, desenvolvendo um<br />

protótipo denominado G-10, o "G" em homenagem a Guaranys. O núcleo de pesquisadores<br />

da Física desenvolvia, com recursos da Fapesp, o Processador de Dados Estocásticos<br />

- Pade, um processador de arquitetura mais sofisticada, com palavra de 24 bits e<br />

centenas de milhares de instruções, permitindo uma grande variedade de<br />

configurações. Na Unicamp, o grupo de José Ripper iniciava estudos em comunicações<br />

óticas, um campo tecnológico tão novo que seus conhecimentos avançavam em paralelo<br />

ao que se fazia de mais adiantado noutras partes do mundo.<br />

Do Rio, vinham notícias ainda mais alvissareiras. Dois projetos distintos<br />

deixaram as bancadas dos laboratórios: o processador de ponto flutuante do NCE<br />

estava prestes a ser industrializado pela Microlab, com financiamento do BNDE, e o<br />

concentrador de teclados já trabalhava a todo vapor no Serpro. Enquanto isto, a<br />

equipe da PUC desenvolvia o software do G-10.<br />

Assim, sem qualquer preparação prévia, em Ouro Preto ganharam forma e unidade<br />

as idéias que, até então, vinham sendo discutidas pelos grupos isolados dentro de<br />

cada universidade. Domínio de tecnologia e projetos de fabricação passaram a<br />

dividir, no Seminário, o espaço antes ocupado pelas discussões sobre graduação,<br />

pós-graduação e centros de computação. Resultado: a comunidade percebeu dispôr de<br />

elementos para transformar em atitudes práticas o discurso tecnológico que o<br />

próprio governo fez no seu II PND.<br />

O Grupo de Trabalho número 3 apresentou recomendações defendendo a criação de<br />

uma indústria de computadores que usasse, ao máximo, tecnologia nacional e fosse<br />

capaz de fabricar unidades centrais de processamento, memórias, periféricos,<br />

componentes eletrônicos etc. As universidades teriam participação ativa, fornecendo<br />

know how e, ao mesmo tempo, incorporando às suas atividades curriculares, a<br />

experiência adquirida. Os projetos, claro, deveriam ser compatíveis com a realidade<br />

<strong>tecnológica</strong> brasileira. Para o grupo, era necessário integrar as políticas<br />

<strong>tecnológica</strong>s do governo nas áreas de comunicação, computação e automação. Deveriam<br />

também ser criados incentivos especiais que tornassem atraentes a comercialização<br />

de produtos ou processos resultantes de projetos de pesquisa e desenvolvimento<br />

genuinamente brasileiros. Por fim, no seu documento, o grupo alertava o governo<br />

para a importação indiscriminada de soluções estrangeiras.

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