vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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que os acertos com o governo brasileiro sobre o /32 demoravam por culpa da<br />
incompetência dos executivos da subsidiária brasileira. Decidiram vir, em bloco, ao<br />
Brasil. E vieram dispostos a falar duro com o ministro Velloso. Tanta disposição,<br />
porém, rolou por terra, assim que entraram no gabinete do ministro.<br />
Com um sorriso de orelha a orelha, o pequeno João Paulo dos Reis Velloso saiu<br />
de trás de uma imensa mesa, atulhada de papéis, e saudou efusivamente os<br />
visitantes. Fala macia, sempre acentuando as idéias convergentes, negando qualquer<br />
atrito, deixou-os apaziguados e contentes. Ao final, Velloso ainda autorizou-os a<br />
telefonar, na Sexta-feira seguinte, para o seu gabinete, em Brasília. "Viram só?<br />
Vocês não entendem coisa nenhuma. Bastou que viéssemos ao Brasil para resolvermos o<br />
assunto", gabaram-se os diretores norte-americanos diante dos colegas brasileiros.<br />
Telefonariam do Havaí, para onde se dirigiam após a passagem por Brasília, certos<br />
de que ouviriam as decisões definitivas e favoráveis do governo brasileiro. Nem<br />
levaram em conta o comentário irônico de Gil, bom conhecedor dos hábitos das altas<br />
autoridades brasileiras: "Se vocês pretendem telefonar na sexta-feira, esqueçam.<br />
Este telefone que Velloso lhes deu é o de seu gabinete, em Brasília, justamente o<br />
último lugar onde ele poderá ser encontrado em uma sexta-feira. Nenhum ministro<br />
fica em Brasília no fim de semana. Todos viajam na quinta à noite".<br />
Gil acertou sua previsão. Poucas semanas depois, perdendo definitivamente a<br />
paciência, o board resolveu enviar uma carta oficial ao ministro, cobrando uma<br />
posição clara sobre a fabricação do /32. Considerando fora de questão destinar o<br />
equipamento, apenas, para o mercado externo, a IBM precisava tomar uma decisão,<br />
precisava rápido e poderia, inclusive, transferir o projeto para outro país. Uma<br />
carta seca, objetiva, dentro do estilo business americano. Mas que, certamente, não<br />
seria bem recebida pelas autoridades brasileiras.<br />
Assim que se inteirou do seu conteúdo, quando participava de um outro boardmeeting<br />
no Havaí, Amorim não mediu as palavras: "Esta carta não pode ser escrita! E<br />
muito menos para um ministro de um governo de generais! Como presidente da IBM<br />
Brasil, eu é quem devo assinar qualquer correspondência dirigida às autoridades<br />
brasileiras. Mas uma carta como esta eu não assino!" Gil e Sabóia também não<br />
aprovaram. Sem conseqüências. A carta foi enviada e, conforme previsto, bateu como<br />
uma bomba dentro do governo brasileiro. Amorim estava em Tóquio, para onde seguiu<br />
em viagem de férias, quando foi surpreendido com um telefonema de Sabóia: "A<br />
situação está insustentável! Você precisa regressar! O Pfeiffer enviou a carta e o<br />
Velloso - é lógico — a leu em uma reunião com os demais ministros. Estão todos<br />
revoltados! E tem mais: eles não recebem ninguém da IBM, a não ser você!"<br />
Amorim perdeu a paciência:<br />
— Mas eu estou de férias e não vou sair do Japão correndo. Se vocês precisam<br />
de mim, então mandem-me um telex dizendo que pagarão uma nova viagem ao Japão, para<br />
mim e minha esposa!<br />
Assim, Amorim voltou ao Brasil. Iria passar de abril a novembro apaziguando os<br />
ânimos nos gabinetes ministeriais. Tóquio, só bem mais tarde...<br />
Enquanto a IBM metia-se em confusões com o governo Geisel, a Capre trabalhava<br />
para pôr em prática a sua resolução 01/76, agora reforçada pela 05/77 do CDE. Seis<br />
projetos para a fabricação de minicomputadores no Brasil aguardavam sua decisão. A<br />
Cobra, conforme acordado com o Bradesco e demais bancos, se propunha a produzir um<br />
equipamento de entrada de dados com tecnologia licenciada pela Sycor norte-