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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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sentido. Acompanhava-se sempre de um jovem pupilo, estudante de pós-graduação do<br />

Departamento de Engenharia Elétrica da PUC, a quem recomendava, apenas: "Senta aí e<br />

ouve!" Mudo, Mário Ripper ouvia atentamente os argumentos de ambas as partes. De um<br />

lado, os técnicos da Embratel desfiando suas razões: "As coisas que são fabricadas<br />

pela indústria nacional não funcionam... não temos condição de esperar<br />

desenvolvimento... esse negócio de tecnologia brasileira é muito arriscado e eu não<br />

posso arriscar, pois sou responsável por um serviço...". Do outro lado, Pelúcio<br />

contra-argumentava: "Mas eu financio, eu consigo viabilizar o projeto... se nós<br />

perdermos essa oportunidade única, quando estão para ser instalados quase todos os<br />

troncos de microondas do país, não teremos outro mercado para viabilizar o<br />

desenvolvimento dessa tecnologia..." Foi um processo bastante educativo para<br />

Ripper, que pôde assistir todo um conflito entre o desejo político de criar e a<br />

necessidade pragmática de quem tem um serviço a executar e não quer assumir o risco<br />

do desenvolvimento.<br />

Em 1967, na presidência do general Artur da Costa e Silva, com Hélio Beltrão<br />

de ministro do Planejamento, foi elaborado o Plano Estratégico de Desenvolvimento.<br />

Coordenado pelo economista João Paulo dos Reis Velloso, abriu um inédito espaço<br />

para a ciência e a tecnologia, conseqüentemente para quem, nos meios tecnocráticos,<br />

ganhara reputação de entender do assunto: Pelúcio. Por sua inspiração foi criada a<br />

Financiadora de Estudos e Projetos — Finep —, com o objetivo de financiar empresas<br />

de engenharia, fomentando a expansão dessa atividade no país. Também foi formado um<br />

Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT -, para apoiar<br />

as atividades universitárias de pesquisa aplicada. Mais tarde, o FNDCT passou a ser<br />

gerido pela Finep. O CNPq foi transformado em fundação, ganhando maiores poderes e<br />

melhores condições para coordenar a Política de Ciência e Tecnologia. E o poder de<br />

compra do governo foi direcionado, ao menos no papel, para favorecer o ingresso das<br />

empresas nacionais nos setores considerados estratégicos da economia.<br />

Depois de assessorar Veloso na elaboração do Plano Estratégico, Pelúcio<br />

assumiu o Núcleo de Programas Especiais do BNDE, reunindo o Funtec e mais dois<br />

outros fundos. Com um pequeno mas ativo grupo de economistas, o Núcleo estimulou a<br />

criação de novos cursos de pós-graduação e saiu a campo à procura de projetos<br />

industriais. O que não era tarefa fácil, pois a indústria brasileira ainda não se<br />

acreditava capaz de gerar a tecnologia necessária para o seu crescimento e a<br />

expansão dos seus negócios, mesmo contando com auxílio financeiro oferecido pelo<br />

BNDE.<br />

Já as universidades foram, aos poucos, se interessando. Como não havia<br />

experiência em pós-graduação e tampouco legislação específica, Pelúcio empenhava-se<br />

em conhecer os membros e as opiniões da comunidade acadêmica, levando muito em<br />

conta suas sugestões e argumentos. Foi em uma de suas reuniões com cientistas que<br />

surgiu a idéia de se identificarem projetos tecnológicos suficientemente<br />

importantes, nos quais se pudessem integrar várias áreas de conhecimento. Projetos<br />

que fossem um desafio.<br />

Definiram dois e os levaram à presidência do BNDE. O primeiro se propunha a<br />

projetar e construir um reator nuclear refrigerado a água pesada. Ambicioso,<br />

deveria ser coordenado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, com recursos de<br />

25 milhões de dólares provenientes do Banco. Congregaria o Instituto de Pesquisas<br />

Nucleares de São Paulo, o Instituto de Engenharia Nuclear do Rio e o Instituto<br />

Militar de Engenharia, que estava trabalhando em pesquisa e desenvolvimento de<br />

tecnologia para a produção de água pesada. Mas o projeto foi vetado pelo Ministério<br />

das Minas e Energia, que achou-o muito complexo, preferindo que o país enveredasse<br />

por um caminho mais modesto, aprendendo, primeiro, a operar um reator nuclear.

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