18.04.2013 Views

vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Digibrás não andava e, ainda por cima, corriam insistentes rumores que ela vinha<br />

negociando uma joint-venture com a Nixdorf, associação esta que não contemplava a<br />

tecnologia brasileira. Também a solução dada à Cobra, recebendo tecnologia da<br />

Ferranti, não deixara ninguém satisfeito.<br />

A ansiedade cresceu no segundo semestre de 1975. A Digibrás, com a Portaria n°<br />

70, assumiu a responsabilidade pelo G-10 e prometeu, conforme um ambicioso plano de<br />

ação anunciado em outubro, industrializá-lo, para uso em pesquisas científicas,<br />

através da Cobra. Além disso, a "empresa A" mudaria de missão, assumindo a<br />

responsabilidade pela pesquisa e desenvolvimento, enquanto que a Cobra passaria a<br />

integrar o grupo de "empresas B" ao lado de uma outra — a terceira empresa! - com<br />

capitais da Digibrás, do Serpro e da Digidata (pequena companhia eletrônica<br />

localizada em São José dos Campos), que se encarregaria da fabricação de sistemas<br />

de porte médio com tecnologia licenciada. O plano de ação preocupava-se com tudo:<br />

da fabricação de computadores à dos componentes, passando pelas centrais de<br />

comutação de programação armazenada (CPA). Preocupava-se, sobretudo, com a forte<br />

possibilidade de as multinacionais invadirem, de vez, o crescente mercado<br />

brasileiro: "Há fortes indícios de que a DEC, HP, Datapoint-TRW e Nixdorf estão-se<br />

preparando para atuar fortemente no nosso mercado e que a IBM venha a lançar seu<br />

último modelo de pequena escala (sistema /32) a médio prazo". Era preciso, pois,<br />

agir rápido, avisava a Digibrás. Efetivamente, três meses depois, Eskelson viria ao<br />

Brasil pensando acertar os detalhes finais de uma negociação que, entretanto, Vitor<br />

Moreno e Jacques Scvirer preferiram boicotar.<br />

Entre o plano de ação da Digibrás e a reunião com o representante da Nixdorf,<br />

no Sheraton, a balança política na informática dera uma total reviravolta por causa<br />

da decisão, aparentemente conjuntural, de atribuir à Capre o controle das<br />

importações dos computadores e componentes. O habilíssimo Saur convenceu Élcio a<br />

dar à Capre poderes para, com base no controle das importações, executar uma<br />

política na qual estivesse engajado todo o governo e, assim, o Decreto 77.118, de 7<br />

de fevereiro de 1976, fez tábula rasa da Portaria n° 70.<br />

A esta altura, preocupadíssimos pelo que muito se falava e pouco se fazia de<br />

concreto, os acadêmicos e profissionais articularam um novo encontro. Aquele<br />

Raimundo de Oliveira que fora expulso do ITA em 1964 e, agora, chefiava a Divisão<br />

de Sistemas Especiais do Serpro, conseguiu um patrocínio da Sucesu-RJ, presidida<br />

por seu irmão, Raulino de Oliveira, apoio também da Digibrás e montou um Seminário<br />

de Transferência de Tecnologia em Computação, realizado de 18 a 19 de março no<br />

Hotel Intercontinental do Rio.<br />

Cinqüenta sócios da Sucesu, 20 outros usuários, 10 professores universitários,<br />

17 técnicos do governo, alguns estudantes e interessados compareceram ao seminário<br />

para ouvir e debater as conferências do diretor da Digibrás, Antônio José Vieira<br />

Moraes, de Cláudio Mammana, de Ivan Marques, de Ricardo Saur e de Deocleciano<br />

Pegado. Como se esperava, o Seminário, com intensa participação da platéia, foi<br />

polarizado pelos que eram a favor ou contra a importação de tecnologia. Para uns, a<br />

importação pura e simples de tecnologia, se bem orientada e controlada, seria a<br />

melhor solução face ao avanço tecnológico estrangeiro, difícil de ser acompanhado<br />

por uma indústria praticamente ainda por nascer. Mas a opinião geral era a de que<br />

ainda havia tempo e absoluta necessidade, em termos de implicações econômicas,<br />

sociais, culturais e estratégicas, para o Brasil desenvolver a sua própria<br />

indústria de computação, baseada em tecnologia nacional.<br />

Foi esta a posição que prevaleceu na redação do documento final. Em sete<br />

recomendações dirigidas ao governo, propôs que uma "companhia fabricante estatal"<br />

aproveitasse "indiretamente" os projetos em andamento nos grupos universitários de<br />

pesquisa, principalmente os de equipamentos de transcrição e transmissão de dados,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!