vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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O trabalho iniciado pela Capre seguiu as pegadas de políticas executadas em<br />
países mais desenvolvidos como a França, a Alemanha, a Inglaterra, o Japão e os<br />
Estados Unidos. Todos puseram em prática, com maior ou menor sucesso, um elenco de<br />
medidas destinadas à expansão de seus mercados para produtos eletrônicos e ao<br />
desenvolvimento de atividades de pesquisas, de formação de recursos humanos e de<br />
fortalecimento de uma indústria local.<br />
A ciência da computação e a indústria de computadores devem muito de sua<br />
formação e expansão aos maciços recursos aplicados pelo governos norte-americano,<br />
inglês e alemão em universidades e centros de pesquisas, durante os anos 30 e 40.<br />
Todos estavam interessados em desenvolver máquinas capazes de efetuar complexas<br />
operações matemáticas para fins de codificação de mensagens, cálculos balísticos e<br />
projetos aeronáuticos. O Eniac, primeiro computador digital, que começou a operar<br />
em 1946 nos Estados Unidos, resultou dessas investigações que antes haviam gerado<br />
vários tipos de computadores eletromecânicos.<br />
Além de prosseguir financiando as pesquisas até hoje, o governo norteamericano<br />
sempre estimulou a industrialização de novos produtos através do poder de<br />
compra de seus ministérios e agências. Os maiores interessados são o Departamento<br />
de Defesa e a Agência Espacial Norte-Americana - Nasa. Muito dinheiro puseram nos<br />
Laboratórios Bell, da AT&T, responsáveis por alguns dos principais inventos no<br />
campo da eletrônica digital, inclusive o transístor. Foi o Departamento de Defesa<br />
que orientou a AT&T para facilitar a disseminação da tecnologia do transístor para<br />
as demais empresas envolvidas na fabricação de materiais eletrônicos. Mais tarde,<br />
no final dos anos 50, quando, como conseqüência da própria evolução dessa<br />
tecnologia, apareceram os circuitos integrados, o Departamento de Defesa fez, para<br />
o seu projeto Minutemen, uma encomenda pioneira de 300 mil unidades à Fairchild.<br />
Viabilizou, assim, a empresa e o produto. Essas compras, usuais até hoje nos<br />
Estados Unidos, fazem com que os pesados custos de desenvolvimento sejam<br />
rapidamente amortizados pelos fundos públicos, permitindo aos novos produtos<br />
entrarem no mercado interno e, mesmo, internacional, a preços bastante<br />
competitivos. 1<br />
Até o início dos anos 60, os Estados Unidos, graças à posição conquistada no<br />
pós-guerra e à política de fomento seguida por seu governo, eram líderes<br />
incontestes da eletrônica digital. Suas empresas, à frente a IBM e a Sperry<br />
(Univac), rivalizavam-se na luta pelo controle hegemônico dos mercados mundiais. Em<br />
meados dos anos 60, após lançar sua revolucionária Série 360, a IBM assumiu,<br />
definitivamente, a liderança em todos os principais países do mundo capitalista,<br />
nos quais passou a deter entre 60 a 80 por cento dos mercados. Tal situação começou<br />
1 Existe uma farta literatura documentando e analisando a influência de políticas<br />
governamentais na expansão da indústria de informática nos países desenvolvidos. Uma<br />
completa história do surgimento e consolidação dessa indústria nos Estados Unidos, pode ser<br />
lida em The new alchemists, de Dirk Hanson, Avon Books, New York, 1983; sobre o papel do<br />
governo norte-americano no financiamento às atividades de pesquisa e fomento do mercado, ver<br />
Micros: the coming world war de Ian M. Mackintosh, em The microeletronics revolution,<br />
editado por Tom Forester, The MIT Press, EUA, 1983; sobre o papel das universidades e do<br />
governo na formação do Vale do Silício, ver Silicon Valley, un marché au puces, de Alain<br />
Azouaou e Robert Magnaval, Ramsay, Paris, 1986; sobre as políticas da França, do Japão, da<br />
Coréia, da Índia, dos próprios Estados Unidos e até a do Brasil, ver a coleção de ensaios<br />
reunidas em National policies for developing high technology industries, editado por Francis<br />
W. Rushing e Carole Ganz Brown, Westview Press, EUA, 1986; e ainda, a tese de mestrado de<br />
Clélia Piragibe, A indústria de computadores: intervenção do estado e padrão de competição,<br />
Rio de Janeiro, 1984