vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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o presidente do Serpro, o ex-diretor da rádio dos alunos do ITA, José Dion de Mello<br />
Teles. Em 1970, inscreveu-se para o doutorado em Berkeley.<br />
Ivan, Mário Ripper e outros brasileiros em Berkeley pouco a pouco iam<br />
aprofundando a convivência, trocando idéias, não demorando a formar um grupo de<br />
estudos para discutir a situação política do país. Tudo com o devido cuidado e<br />
sigilo, sempre com muito medo do poder de infiltração do Serviço Nacional de<br />
Informações, o SNI, mesmo na distante Califórnia. Afinal o Brasil vivia, durante o<br />
governo Médici, o mais fechado e violento período do regime militar.<br />
Até então, a cultura política de Ivan limitava-se aos livros de Erich Fromm.<br />
Quando estava no ITA, o garoto da classe média de Copacabana desconfiava da<br />
militância política e sequer formara uma opinião sobre o movimento de 64. Mas em<br />
sua cabeça estava claro que, se Jango levasse à frente suas anunciadas reformas,<br />
ele perderia seus privilégios de classe média. No mais, sua única certeza era a de<br />
que seu futuro o ligava ao processamento de dados. Não só no grupo de estudo, Ivan<br />
e Ripper trocavam, exaustivamente, suas idéias. Embora se conhecessem desde os<br />
tempos do ITA, os dois só foram ficar amigos na Califórnia. A amizade começava no<br />
estudo em comum, passava pela discussão política e <strong>tecnológica</strong>, consolidava-se no<br />
racionalismo dos pensamentos, projetava-se nas exigências profissionais e<br />
completava-se no aprendizado de mergulho. Apesar de tantas coisas em comum, seus<br />
objetivos imediatos eram completamente diferentes. Sem vocação para ser um<br />
pesquisador especializado no último bit, Ripper fez um doutorado eclético: estudou<br />
estatística, economia e computação. Já Ivan se concentrou na Ciência da Computação.<br />
Também eram diferentes suas visões sobre o papel da universidade. Apoiado em suas<br />
experiências de trabalho na Thomson e no Serpro, para Ripper faltava à universidade<br />
um papel na geração de novos produtos, na aplicação prática do conhecimento. Já<br />
Ivan, por formação e personalidade, era mais acadêmico.<br />
As divergências não impediam que conversassem muito sobre o papel da<br />
universidade e sobre as possibilidades de sua atuação no desenvolvimento<br />
tecnológico. Dessas conversas e discussões nasceu a amizade, uma forte aliança e,<br />
principalmente, uma inabalável confiança mútua.