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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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gasto. Mesmo depois que o embaixador explicou-lhe se tratar de um projeto especial<br />

- pois vinculado à Presidência da República - e secreto, portanto a salvo de<br />

exigências burocráticas, Marcos permaneceu irredutível. Não podia, argumentava,<br />

correr o risco de colocar o dinheiro do Banco em um projeto sobre o qual não teria,<br />

posteriormente, condições de prestar contas. As normas deveriam ser cumpridas. O<br />

presidente do BNDE tinha bons motivos para agir assim. Não alimentava nenhuma<br />

ilusão quanto a vir ocupar qualquer novo cargo no futuro governo. Nos meses que<br />

antecederam à sagração de Figueiredo no Congresso, alinhara-se, firmemente, aos<br />

setores militares e tecnocratas que - liderados pelo chefe da Casa Militar, general<br />

Hugo Abreu - rebelaram-se contra o sucessor indicado por Geisel e passaram a<br />

articular a candidatura de oposição do general nacionalista Euler Bentes. Marcos<br />

certamente intuiu os objetivos da comissão e preferiu não ajudá-la.<br />

Excluído o BNDE, Cotrim recorreu ao CNPq. A reação de Dion foi exatamente<br />

oposta à de Marcos Vianna: não precisou de muita conversa para entender que o<br />

embaixador buscava, além de dinheiro, uma aliança. E que os integrantes da comissão<br />

se preparavam para assumir um papel de destaque no cenário da informática no<br />

próximo governo. Portanto, só teria a lucrar se os apoiasse. Do encontro resultou<br />

um convênio, assinado em dezembro de 1978, entre o SNI, o Ministério das Relações<br />

Exteriores e o CNPq, com o objetivo de realizar um estudo conjunto sobre a situação<br />

da informática nacional e dos órgãos responsáveis pela política setorial,<br />

notadamente a Capre e a Digibrás.<br />

Resolvida a questão do dinheiro, a Comissão, afinal formalizada, organizou<br />

suas tarefas. O setor de informática foi dividido em áreas a serem examinadas por<br />

cada membro do grupo, de acordo com seus interesses principais: Loyola incumbiu-se<br />

de levantar o segmento industrial e de visitar os fabricantes; Cuinhas cuidou da<br />

análise técnica dos equipamentos produzidos; Joubert dedicou-se a estudar a<br />

política traçada pela Capre e Dytz se ocupou de ouvir as universidades. Embora<br />

fossem, algumas vezes, obrigados a se deslocar para o Rio ou São Paulo, os membros<br />

da Comissão Cotrim preferiram convocar para depoimentos em Brasília todas as<br />

pessoas que julgassem necessárias.<br />

Começaram pelos pesquisadores e professores universitários. E, logo, instalouse<br />

entre estes um tal clima de medo que, aos mais irônicos inspirou até<br />

brincadeiras de autêntico humor negro. Já aliviado por ter sido um dos primeiros a<br />

prestar depoimento, José Ripper - que dirigia o programa de fibras óticas da<br />

Unicamp — em uma festa de reveillon em sua casa, divertiu-se assustando um amigo<br />

especialmente apavorado: "Você vai ser chamado para depor no SNI. E quem lhe<br />

dedurou foi o Mammana." O outro entrou em pânico, passou amargamente as primeiras<br />

horas do novo ano e só sossegou quando Ripper confessou-lhe que estava brincando.<br />

Aliás, o que Cláudio Mammana realmente denunciou - e para a própria Comissão Cotrim<br />

- foi esse clima de medo. Ao depor, acusou seus métodos de provocarem total<br />

intranqüilidade nos meios acadêmicos e ainda disse se considerar sob risco pelo<br />

fato de estar ali, no SNI. Os militares contestaram de forma provocativa: lembraram<br />

que essa "visão distorcida" do SNI era "coisa de esquerdista". Mammana não se deu<br />

por vencido: "Os senhores me desculpem mas não é bem assim. Minha mãe, que não tem<br />

nada de esquerdista, me mandou tomar cuidado e ainda me fez usar este santinho" -<br />

disse, exibindo um escapulário que trazia na carteira de documentos.<br />

Apesar de nutrir total desconfiança em relação à comunidade acadêmica - a<br />

comunidade de informações sempre olhou para cada universitário, professor ou aluno,<br />

como um comunista potencial – a Comissão Cotrim precisava das suas informações. E,<br />

no caso, os entrevistados tinham a seu favor, ao menos, uma aura de competência<br />

técnica que os tornava respeitados. Curiosamente, apesar do medo, parte da<br />

comunidade acadêmica evitou hostilizar abertamente os novos personagens. Além de,<br />

naturalmente, não se sentir "ideologicamente suspeita", não se mostrava totalmente

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