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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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críticas. Saur, jeito mineiro, falava baixo com sua voz rouca e calma. Guaranys,<br />

mais efusivo, entusiasmava-se, não perdendo oportunidade para "arrancar" as adesões<br />

através de pressões individuais. Acabadas as reuniões, insatisfeito, chamava alguém<br />

a um canto e insistia. Certa vez, cercou a bonita e ativa pesquisadora Marília<br />

Milan. Ela, particularmente, concordaria em participar? "Vou pensar!", foi a curta<br />

e sincera resposta.<br />

Realmente, havia muito o que pensar. Marília integrava um grupo de<br />

pesquisadores que, ao contrário da cultura dominante na PUC, começara a se<br />

preocupar com o enorme fosso existente entre a pós-graduação na área de informática<br />

e as necessidades da sociedade brasileira. Um grupo crítico ao ensino e à prática<br />

das universidades, baseados em soluções desenvolvidas no exterior, não investigando<br />

as alternativas possíveis e necessárias ao país. O projeto do GTE forneceu mais<br />

combustível para alimentar as discussões internas no Departamento, mas ainda não<br />

foi suficiente para resolver as dúvidas. Marília e seu grupo sabiam o que não<br />

queriam. Mas não sabiam que suas respostas se encontravam do outro lado do Rio, na<br />

ilha do Fundão, mais precisamente nos frutos do primeiro Funtec: a Coppe. Para onde<br />

voltou o doutor Ivan Marques.<br />

Há três anos estudando em Berkeley, Ivan Marques voltou ao Brasil em 1971, em<br />

viagem de férias. Aproveitou para visitar seus colegas na Coppe onde foi recebido<br />

com a admiração e audiência devidas aos futuros doutores. Encontrou algumas<br />

mudanças: o antigo Departamento de Cálculo Científico transformara-se no Núcleo de<br />

Computação Eletrônica, um órgão da UFRJ, e multiplicara seu efetivo de nove para<br />

noventa pessoas. Este aparente progresso escondia um grave equívoco que a vivência<br />

em uma avançada universidade norte-americana ressaltou logo aos olhos de Ivan: os<br />

grupos de pesquisa em informática trabalhavam isolados uns dos outros. No<br />

Departamento de Engenharia Elétrica, os pesquisadores aprofundavam seus estudos<br />

sobre circuitos integrados. No NCE, os pesquisadores, responsáveis pela operação do<br />

computador da Universidade, preocupavam-se, apenas, com o desenvolvimento dos<br />

sistemas. Eram íntimos dos software de maior complexidade.<br />

Ivan resolveu catequizar os dois grupos para juntar suas equipes em torno de<br />

um projeto comum. Inicialmente, a proposta foi recebida com reticências pelos<br />

professores do NCE, que precisaram ser esclarecidos de como, graças aos circuitos<br />

integrados, a tarefa de projetar hardware tornara-se muito facilitada. Trabalhoso<br />

mesmo seria o software, mas nisso eles eram especialistas!<br />

Superadas as dúvidas, surgiram as idéias. A que lhes pareceu melhor foi a de<br />

projetar um processador de ponto flutuante para o computador IBM 1130. Tratava-se<br />

de um equipamento auxiliar que, acoplado à unidade central de processamento do<br />

1130, permitia aumentar, consideravelmente, a capacidade de processamento<br />

científico e, ainda, prolongar a vida útil de um parque de computadores que somava<br />

mais de cem máquinas instaladas em universidades e empresas de engenharia. Ivan<br />

pensou em tudo! O dinheiro para o projeto poderia vir de um dos fundos de apoio a<br />

novas tecnologias do BNDE. O Banco, certamente, estaria interessado, pois foi<br />

através do Funtec que os 1130 chegaram às universidades. E a industrialização<br />

poderia atrair alguma empresa nacional ou — quem sabe? — a própria IBM. 1<br />

A partir daí, o NCE se entusiasmou tanto que logo se propôs a desenvolver um<br />

segundo projeto: um sistema de entrada de dados que substituísse as velhas<br />

perfuradoras de cartão utilizadas por um número cada vez maior de usuários da<br />

1 Paulo Bianchi, pesquisador do NCE, relata com detalhes essa época do Núcleo, no trabalho E<br />

assim se passaram (quem diria?) vinte anos, que circula em "mimeo".

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