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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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A experiência adquirida no desenvolvimento do processador de ponto flutuante<br />

amadureceu Ivan. Consciente da insuficiência dos pequenos e isolados projetos para<br />

ultrapassar o enorme fosso existente entre a pesquisa universitária e a prática<br />

industrial, Ivan sistematizou seus estudos e reflexões, arranjou um patrocínio do<br />

Funtec e começou a percorrer universidades e empresas para falar sobre dependência<br />

e autonomia <strong>tecnológica</strong>. Em 1974 esteve no Serpro, na Escola de Comando do Estado<br />

Maior da Aeronáutica e em várias universidades defendendo a possibilidade técnica e<br />

econômica de se criar uma indústria de computadores no país, sob controle<br />

totalmente nacional. Afinal — garantia ele — os investimentos feitos a partir da<br />

década de 50, tanto na indústria quanto em educação, permitiram alargar a base<br />

<strong>tecnológica</strong> do país, que chegou à década de 70 com uma capacidade limitada, mas<br />

significativa, de absorver, adaptar e criar tecnologia. "Seria, portanto, uma<br />

evidente e grave contradição da parte do governo investir grande soma de recursos<br />

na criação de agentes brasileiros geradores de inovações <strong>tecnológica</strong>s - no caso, as<br />

universidades através dos programas de pós-graduação em engenharia — e, por outro<br />

lado, não cuidar para que haja um mecanismo adequado de integrá-los na economia",<br />

advertia.<br />

Ivan reconhecia um problema delicado nessa integração: o risco de algumas<br />

universidades se transformarem em exclusivos departamentos de pesquisa e<br />

desenvolvimento de empresas. Mas, tomados os devidos cuidados, não só a<br />

universidade passaria a dar uma contribuição direta ao desenvolvimento econômico<br />

brasileiro, como pesquisadores, professores e estudantes se beneficiariam de uma<br />

formação mais profissionalizante, de cuja ausência se ressentiam. Acrescentava: "Os<br />

professores encontram dificuldade em motivar os alunos para os cursos<br />

essencialmente técnicos, tais como projeto de circuitos digitais. Não é raro os<br />

alunos perguntarem 'qual a probabilidade de que eu venha a projetar um circuito<br />

digital no meu futuro trabalho?' O professor é forçado a reconhecer que, na<br />

ausência de fábricas que façam uso desta capacidade profissional por receberem<br />

prontos do exterior todos os projetos de circuitos digitais envolvidos no produto,<br />

o curso beira perigosamente a inutilidade."<br />

O acelerado desenvolvimento da eletrônica digital oferecia ao país uma rara<br />

oportunidade para mudar esse cenário desde que, é claro, existisse vontade<br />

política. Uma grande revolução <strong>tecnológica</strong> sacudia a indústria de informática.<br />

Pequenas empresas, não raro nascidas dentro de garagens ou nos fundos dos quintais<br />

das residências de engenheiros ousados, multiplicavam-se graças à formação e<br />

crescimento do chamado mercado OEM (Original Equipment Manufacturer). Interfaces,<br />

placas, partes mecânicas e eletromecânicas, unidades de disco e de fita, cabeças<br />

magnéticas de leitura e gravação, terminais de vídeo, teclados e outras partes com<br />

maior ou menor grau de sofisticação podiam, agora, ser adquiridos por um fabricante<br />

iniciante, que nada mais faria que incorporá-los ao seu produto, de acordo com sua<br />

concepção e seus recursos. Ivan insistia que o país já dispunha de suficiente<br />

tecnologia de projeto para conceber e desenvolver qualquer tipo de interligação<br />

entre partes adquiridas no mercado OEM. Logo, seria perfeitamente possível fabricar<br />

aqui pequenos computadores a partir de projetos locais. Uma empresa brasileira<br />

poderia começar adquirindo, no mercado internacional, as partes e componentes mais<br />

difíceis de serem desenvolvidos, enquanto iria aprofundando sua capacitação<br />

<strong>tecnológica</strong>.<br />

As palestras de Ivan chegavam a uma só conclusão. Se, por decisões anteriores<br />

ou pelo próprio contexto internacional, o Brasil não ti<strong>vera</strong>, em muitos setores<br />

industriais, outra opção senão adquirir tecnologias estrangeiras, que tendiam a se<br />

tornar cada vez mais caras, no caso dos computadores e, particularmente, dos<br />

minicomputadores, existiam condições para a criação de uma indústria sob controle<br />

totalmente nacional. Se fosse considerado de interesse para o país buscarmos

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