vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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Cotrim julgava-se o mais habilitado para expor aos outros o que o governo<br />
vinha fazendo no setor. Dentro de sua visão, a Capre conduzia uma política<br />
industrial frágil, sem respaldo dentro da área econômica. O que não deixava de ser<br />
verdade. E, o mais grave, tratava-se de uma política ambígua: ao mesmo tempo em que<br />
proibiam as multinacionais de fabricar computadores no país, os responsáveis pela<br />
política negociavam, por baixo do pano, uma joint-venture entre o Serpro e a<br />
Fujitsu. Embora tanto a Fujitsu quanto a Seplan mantivessem o Itamaraty a par das<br />
negociações, Cotrim garantia para o grupo não ter o seu ministério qualquer<br />
conhecimento oficial sobre o assunto Uma situação que, em sua opinião, não podia e<br />
nem devia ser admitida.<br />
Cotrim fez uma pesada carga contra a Capre e, principalmente, contra o seu<br />
secretário-executivo, por quem nutria uma não disfarçada antipatia. Dizia sempre<br />
não confiar em uma política comandada por Saur. Este, no entanto, bem que se<br />
esforçara para se aproximar do diplomata, por sabê-lo ligado às questões<br />
<strong>tecnológica</strong>s dentro do Itamaraty, mas nem de longe desconfiando de quão específica<br />
era tal ligação. Apenas, para a sua estratégia de cooptação - "a Capre é frágil, e<br />
quanto mais aliados tiver, melhor" - ganhar o apoio da Chancelaria Brasileira era<br />
um objetivo sempre presente. Desde 1974, era lá que Saur ia buscar informações<br />
sobre as políticas de informática praticadas por outros países. Com o correr do<br />
tempo, chegou a estabelecer relações com as pessoas ligadas à área de ciência e<br />
tecnologia. Por ocasião das reuniões preparatórias da delegação brasileira que<br />
participaria da Primeira Conferência Mundial de Estratégias e Políticas de<br />
Informática, realizada pelo International Bureau of Informatics, em setembro de<br />
1978, em Torremolinos, na Espanha, tentou estabelecer algum nível de relação com<br />
Cotrim. Suas intenções, no entanto, foram sepultadas pela gélida acolhida do<br />
embaixador, um sujeito aliás, habitualmente fechado e de pouca conversa.<br />
O SNI endossou, de imediato, as críticas de Cotrim. Com uma longa lista de<br />
questões econômicas, políticas, militares e de segurança que colocavam a comunidade<br />
de informações em total oposição ao governo do general Geisel, não lhe foi difícil<br />
concluir que, também na informática, estava tudo errado. A política então praticada<br />
não preenchia os requisitos mínimos que julgava indispensável a um programa de<br />
capacitação <strong>tecnológica</strong>. Não contemplava o software, não investia em pesquisas e<br />
sequer tinha algum projeto para a microeletrônica. Deveria, portanto, ser alterada.<br />
A próxima mudança de governo se lhe apresentou como uma imperdível oportunidade<br />
para consertar tantos erros.<br />
Para preparar a intervenção, o general Otávio Medeiros decidiu formar uma<br />
comissão que fizesse um levantamento do setor de informática e propusesse um plano<br />
de ação destinado ao futuro governo de seu chefe, general Figueiredo. Para seus<br />
subordinados, viria a ser uma injustiça, mais tarde, essa comissão tornar-se<br />
conhecida pelo nome do embaixador e não pelo de Medeiros, pois foi este quem,<br />
efetivamente, comandou seus trabalhos. Cotrim, após ter fornecido ao SNI a<br />
motivação para assumir o comando da informática, passou para um segundo plano,<br />
tornando-se um mero instrumento do chefe da Esni.<br />
Obtida a autorização do general Figueiredo, formou-se a comissão com Cotrim,<br />
Dytz, Joubert, Loyola e Cuinhas. Para cobrir suas despesas com viagens, diárias,<br />
serviços de apoio e material, achou-se pouco recomendável recorrer, como haviam<br />
feito durante todo o período de duração do Projeto Prólogo, aos cofres ocultos do<br />
SNI. Afinal, o grupo trataria com cientistas, profissionais, empresários - a<br />
"sociedade civil", em suma - e nisso em nada ajudaria ter sua imagem fortemente<br />
vinculada ao "Serviço". Cotrim pensou, primeiro, em obter o dinheiro no BNDE. Mas<br />
Marcos Vianna impôs condições para liberar a verba: o projeto precisava estar bem<br />
definido e seus participantes deveriam se comprometer a prestar contas do dinheiro