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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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deputados em todos os estados brasileiros, chamando-os a Brasília. As entrevistas<br />

insistiam no comparecimento. Finalmente, puseram um anúncio na televisão convocando<br />

os membros do Congresso a comparecerem ao local de trabalho!<br />

Deu certo, o plenário se encheu. Em clima de festa e de apreensão, o deputado<br />

carioca José Frejat, do PDT, sobe à tribuna e começa a discursar: refere-se ao<br />

absurdo anúncio que assistira na noite anterior, na televisão, convocando-o a<br />

votar. "Pronto!", pensou Edson. "O efeito foi oposto. Ficamos antipáticos!" E<br />

Frejat continua: "Pois esse anúncio foi necessário pois esta Casa não cumpre com<br />

suas obrigações!" Alívio!<br />

Graças a um acordo de lideranças, tudo acertou-se para o voto favorável do<br />

plenário. Menos o PT. Fora da Comissão Mista por não ter bancada suficiente, pouco<br />

articulado às negociações por insistir em levantar problemas sociais que nem o<br />

PMDB, nem muito menos o PDS estavam dispostos a considerar no momento, o PT<br />

insistiu em apresentar emendas no plenário. Temia-se que os malufistas também<br />

fizessem o mesmo — e, aí, adeus votação! Marchezan e Freitas Nobre negociaram.<br />

Aceitaram três propostas do PT, a mais importante das quais previa a criação, nas<br />

fábricas, de comissões paritárias com representantes das empresas e de seus<br />

empregados para negociar as condições da automação, de forma a não agravar o<br />

desemprego. Ficou subentendido que deixariam para o presidente da República, o<br />

trabalho e o desgaste de vetá-las.<br />

A última negociação foi conduzida por Raimundo de Oliveira. Com livre acesso<br />

ao plenário, por sua condição de ex-deputado estadual, Raimundo encarregou-se de<br />

convencer a indócil Cristina Tavares a não pedir destaque para o artigo que criou<br />

os distritos de exportação. Cristina estava inconformada. Raimundo, com seu jeitão<br />

carinhoso, seu discurso sempre otimista, mostrava-lhe que o mais importante ali,<br />

era aprovar o projeto. Depois, muita coisa ainda se iria discutir. Cristina custou<br />

a dobrar-se mas aderiu ao acordo. O ex-mílitante estudantil da escola onde se fez<br />

um computador quando mal se sabia, no Brasil, o que era isso, olhou para as<br />

galerias e acenou com um "tudo bem!"<br />

Nas galerias, Edson, Saur, Arthur, Calicchio, Paulo Abreu, Milton Seligman,<br />

Cláudio Mammana, Luís Martins, Ezequiel, Marília, o pessoal da APPD, cientistas,<br />

engenheiros da Cobra, jornalistas, funcionários da SEI e muita gente enchiam os<br />

lugares. Viram quando Roberto Campos, esgotados todos os recursos regimentais,<br />

retirou-se. O projeto foi aprovado sob delirantes aplausos. Então, o plenário<br />

virou-se na direção das galerias e aplaudiu, também, durante muito tempo.<br />

No dia 7 de setembro de 1985, enquanto os brasileiros se entregavam às<br />

comemorações de praxe por mais um aniversário do Grito do Ipiranga, o presidente<br />

dos Estados Unidos declarou guerra à Política Nacional de Informática. Alegando a<br />

necessidade de proteger os empregos gerados pelas indústrias norte-americanas<br />

exportadoras de alta tecnologia, Ronald Reagan ameaçou o Brasil de retaliações<br />

comerciais caso não pusesse um fim à reserva de mercado.<br />

Começou um novo ato.<br />

As pressões americanas à Política não são novas, mas nunca foram tão<br />

objetivas. Desta vez conseguiram assustar parte do empresariado brasileiro,<br />

ameaçado de perder acesso ao rico mercado do norte. Esse empresariado e muita gente<br />

mais começaram a se perguntar pelos resultados da tal Política, pelos benefícios<br />

que ela estaria trazendo ao país. A confiança na reserva de mercado foi fortemente<br />

abalada.

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