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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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experimentar. Se dava certo, prosseguiam. Se dava errado, corrigiam. Estudaram e<br />

experimentaram teorias de mercado, de preços, de formação de tabelas OEM. Passaram<br />

a entender de descontos, de como associar a redução de custos com redução dos<br />

preços de tabela. Fizeram as primeiras incursões pela área publicitária.<br />

No momento em que a Elebra começou a se julgar conhecedora do mercado,<br />

surgiram problemas com a empresa fornecedora de tecnologia, a subsidiária italiana<br />

da multinacional Honeywell. Interessada em vender equipamentos prontos, a empresa<br />

vinha criando dificuldades às tentativas de nacionalização da impressora que<br />

licenciara. Isto é, diante do controle às importações exercido pela Capre, os<br />

italianos enxergaram a Elebra como um camuflado representante de vendas. Só que o<br />

Grupo Docas de Santos, principal sócio da empresa, Isu Fang e Milton Scorza viam-se<br />

a si mesmos de forma diferente, logo percebendo que aquela parceria não duraria<br />

muito. A saída seria criarem o seu próprio produto.<br />

Primeiro passo: desmontar a impressora italiana e dissecar suas entranhas. Um<br />

método muito usado em todo o mundo e que recebe o nome de engenharia reversa. Em<br />

seguida, a equipe de marketing saiu em campo para levantar as necessidades dos<br />

clientes, ver o que se poderia aproveitar ou dispensar no produto. De posse das<br />

informações do mercado, os projetistas puderam completar o trabalho, desenvolvendo<br />

a primeira impressora brasileira, a Emília.<br />

Poucas empresas escaparam de enfrentar problemas com seus fornecedores de<br />

tecnologia. Os fabricantes de mínis não levaram muito tempo para descobrir que os<br />

sistemas que deveriam nacionalizar eram obsoletos ou inadequados ao mercado - ou<br />

estavam incompletos! Tais constatações obrigaram-nos a mudar radicalmente seus<br />

planos e cronogramas. Além de assimilar a tecnologia, impunha-se um esforço técnico<br />

adicional para melhorar o desempenho das máquinas, adaptá-las às necessidades do<br />

mercado e, em alguns casos, completar o que faltava. As empresas se viram diante do<br />

desafio de, em um prazo muito menor que o inicialmente previsto, gerar seus<br />

próprios produtos.<br />

Na Cobra o desafio foi triplo: industrializar os terminais desenvolvidos pela<br />

DFa do Serpro, transformar o G-10 em um produto viável e melhorar substancialmente<br />

o desempenho do Sycur 440, ou Cobra 400. Para complicar, na empresa confrontavam-se<br />

grupos técnicos de diferentes origens, experiências profissionais e perfis<br />

psicológicos: os pioneiros, contratados quando da fundação da Cobra para<br />

nacionalizar o Argus 700, da Ferranti; os oriundos da DFa; os projetistas da PUC e<br />

da USP, ligados ao G-10; os engenheiros industriais vindos da Standard Elétrica<br />

para operar a fábrica de Jacarepaguá; o pessoal de marketing trazido da Olivetti.<br />

Apesar de ter herdado tantos projetos e arrebanhado numerosa equipe, a Cobra<br />

não apresentava um produto verdadeiramente próprio. Seu carro-chefe, que a<br />

viabilizou, era o Cobra 400, o minicomputador fabricado com tecnologia Sycor. No<br />

primeiro ano de vendas, a área comercial, oriunda em grande parte da Olivetti, não<br />

precisou sair em busca de clientes. O mercado bancário, sedento de equipamentos de<br />

entrada de dados e conhecido do pessoal da Olivetti, consumia tudo o que lhe fosse<br />

oferecido. Mas a festa durou pouco. Os bancos não tardaram a descobrir as<br />

limitações do equipamento. Eles conheciam o Sycor 340 que a Olivetti<br />

comercializava, não o Sycor 440, que a Cobra montava. Este, multiterminal, embora<br />

se prestasse à entrada de dados, mostrava-se lento nessas funções. A avalanche de<br />

reclamações pôs em pânico a Comercial, que passou a pressionar o Desenvolvimento<br />

para melhorar - e muito - o produto. Os projetistas, que mal tinham iniciado o<br />

processo de absorção da tecnologia e pouco conheciam dos limites e potencialidades<br />

do 440, reagiram mal. Pediram tempo. Mas a Comercial queria já, e a solução lhe<br />

parecia óbvia: recorrer à Sycor.

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