vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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nas negociações. Por várias vezes, a Fujitsu mostrou-se disposta a ceder até a sua<br />
tecnologia de semicondutores, a quinta-essência da informática.<br />
A fórmula conciliatória de Velloso tomou forma em abril de 1973, com a criação<br />
da Eletrônica Digital Brasileira - EDB -, empresa holding da qual eram acionistas o<br />
BNDE, a Petrobrás, a Telebrás e o Serpro.<br />
A EDB foi incumbida de organizar dois empreendimentos: a "empresa A", composta<br />
pela E.E., BNDE e Ferranti, atenderia ao mercado militar; e a "empresa B",<br />
associada à Fujitsu e, também, com participação da E.E. e do BNDE, atenderia ao<br />
mercado civil. Logo, a primeira mudança: para evitar confusão com a Ericsson do<br />
Brasil, o nome da holding EDB foi trocado para Digibrás.<br />
Foi a primeira e a menos importante de uma longa série de desacertos<br />
envolvendo a nova estatal. Pouco depois - segundo desacerto - por questões de<br />
somenos, Saur e o presidente do BNDE, Marcos Vianna, se desentendem. A presidência<br />
da Digibrás, que caberia a Saur, acaba nas mãos do economista Ézio Távora. Por<br />
pouco Saur não larga tudo, sendo contido por uma conversa com José Pelúcio. "Um bom<br />
cabrito não berra", lembrou-lhe Pelúcio, de mineiro para mineiro. Mas as relações<br />
com Távora nunca foram das melhores, até porque, olhando o projeto com lentes de<br />
economista, o presidente da Digibrás não via como a pequena E.E. podia se associar<br />
às gigantescas Fujitsu e Ferranti. Para complicar ainda mais, um dos sócios da E.E.<br />
morreu num desastre de avião. Parou tudo.<br />
Então, um verdadeiro golpe: no dia 21 de setembro, no interior de um táxi,<br />
morreu o comandante Guaranys. Como esse homem forte e sempre disposto a aproveitar<br />
todos os minutos da vida, poderia morrer com apenas 36 anos?<br />
Guaranys sofria de hérnia no esôfago. Desde que os médicos diagnosticaram a<br />
doença, ele deixou de ser o mesmo. "Vai ser difícil se curar", intuiu Amílcar<br />
Ferrari, informando-se do fundo nervoso da doença do amigo, típica de pessoas<br />
angustiadas pelo imenso desejo de realização e grande medo de não concretizar nada.<br />
Todos perceberam estar Guaranys perdendo rapidamente o vigor. Em um almoço com<br />
Ripper e Pelúcio, no restaurante Albamar, na Praça XV, Centro do Rio, um ofegante<br />
Guaranys pouco se encantava com a bela vista da Baía de Guanabara. A voz não<br />
mostrava a mesma força. Nem aceitou o convite de Pelúcio para andar algumas<br />
quadras, até o prédio do Ministério da Fazenda! Sentia dores e foi de carro. Esteve<br />
hospitalizado, recebeu alta, tornou-se um homem triste, sabendo-se obrigado a<br />
passar para a reserva e com medo de morrer. No dia 20, jantou com Ferrari, que<br />
procurou afastá-lo de tão maus presságios. Mas o desenlace já marcara a hora.<br />
Abatido, Saur passou o final de 1973 preparando-se para deixar a Capre no ano<br />
seguinte, quando um novo general assumiria a Presidência da República. Até lá, o<br />
melhor a fazer era aproveitar o período de fim de governo para dar alguma atenção à<br />
sua vida pessoal. Terminou de construir sua casa na Barra da Tijuca, mal sabendo o<br />
que o governo desse novo general estava lhe reservando...