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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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satisfeita com as decisões da Capre, seus avanços e recuos ao sabor do jogo de<br />

pressões. Os licenciamentos de tecnologias por parte das primeiras empresas a se<br />

instalarem no mercado reservado deixaram frustrados muitos pesquisadores que<br />

esperavam ver aparecer encomendas de projetos junto aos centros de pesquisa. O<br />

eterno projeto G-10, transferido para a Cobra, não se concretizava nunca — mas as<br />

encomendas do Bradesco estavam atendidas, murmuravam.<br />

Não demoraria muito e os oficiais do SNI começariam a se sentir razoavelmente<br />

à vontade junto aos professores universitários, visitando seus laboratórios e<br />

organizando, com eles, seminários para debater os problemas da informática e da<br />

microeletrônica no país. Hábil, esperto e bem humorado, Joubert foi quem melhor<br />

explorou essa possibilidade de formar uma aliança com a comunidade acadêmica. Nos<br />

primeiros dias do governo Figueiredo, teve a oportunidade de fazer uma bem-sucedida<br />

publicidade pessoal, ao participar de um seminário de componentes promovido pela<br />

Unicamp. Aliás, sua chegada ao campus universitário foi marcada por um episódio<br />

insólito. No momento em que chegou, acompanhado por José Ripper, o carro que os<br />

conduzia foi barrado por um piquete de estudantes que arrecadava fundos destinados<br />

aos operários metalúrgicos do ABC paulista, que, liderados pelo até então<br />

desconhecido Lula, realizavam a primeira greve de trabalhadores, desde 1968. Dentro<br />

do carro, ao lado de um membro ativo do SNI, Ripper se viu em maus lençóis. Pagar o<br />

"pedágio", naquela situação, nem pensar! Aproveitando o fato de estarem em um carro<br />

da Reitoria, enrolou os estudantes, alegando que ele e o seu acompanhante cumpriam<br />

uma missão oficial. Conseguiram passar.<br />

Joubert foi franco e direto diante dos participantes do seminário,<br />

apresentando-se como um membro do SNI. Desconcertada com tanta franqueza, a platéia<br />

se descontraiu e, sem se dar conta, discutiu aberta e animadamente com o oficial os<br />

mais variados assuntos, até mesmo doutrinas políticas. Ao final do encontro, o<br />

coronel ganhara um valioso ponto dentro da comunidade acadêmica. José Ripper não<br />

escondeu o seu espanto. "Você foi a pessoa que fez o maior marketing do SNI que<br />

alguém poderia fazer!", garantiu a Joubert.<br />

A mesma preocupação em retocar a imagem do SNI, a Comissão Cotrim não teve<br />

diante do núcleo dirigente da política conduzida pela Capre. Saur, Mário Ripper,<br />

Fioravante e Ivan foram tratados como inimigos. Formavam, aos olhos da Comissão, um<br />

grupo articulado que ocupava posições em uma área estratégica de poder.<br />

Transferindo para a política uma conhecida lei da física - dois corpos não ocupam o<br />

mesmo lugar no espaço -, a comissão os via como um corpo a ser demolido e removido.<br />

Valia tudo, inclusive levantar suspeitas quanto a um suposto esquerdismo ou à<br />

honorabilidade pessoal dos quatro. O affair Fujitsu municiou as intrigas. De nada<br />

adiantaram atitudes como a de Fioravante, enviando a Cotrim um calhamaço de 255<br />

páginas, documentando, passo por passo, todos os entendimentos mantidos até então<br />

com o grupo japonês. Esse dossiê seria usado, durante muito tempo ainda, como prova<br />

de que, no mínimo, o nacionalismo de Saur e seus amigos era só de fachada.<br />

Só que a Capre não estava disposta a render-se sem luta. Havia uma questão de<br />

poder em jogo, é lógico. Mas tratava-se, também, de defender um projeto para o<br />

desenvolvimento da informática brasileira. Logo se difundiu na Capre a idéia de<br />

que, por trás daquela agressiva intervenção, estavam os interesses contrariados da<br />

IBM. Até porque quem financiou a Comissão Cotrim foi o CNPq, presidido por Dion, o<br />

qual vinha defendendo a aprovação dos projetos, para a fabricação no país, dos<br />

computadores IBM de médio porte. Aliás, ironicamente, a disputa entre a Capre e a<br />

Comissão Cotrim acabou prejudicando a própria IBM. Depois de ter conseguido aprovar<br />

seus projetos Leblon-2 e Leblon-2 Expandido, em novembro, a multinacional americana<br />

seria novamente derrotada em fevereiro de 1979, na última reunião do Plenário da<br />

Capre durante o governo Geisel. Graças ao discurso ultranacionalista da Comissão

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