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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

Já em seu primeiro romance, Clarice observa a relação entre a ação narrada e o jogo <strong>de</strong><br />

linguagem enquanto situação problemática <strong>do</strong>s personagens que estão tentan<strong>do</strong> se comunicar,<br />

se expressar. Assim, Benedito Nunes conclui que “a linguagem tematizada na obra <strong>de</strong> Clarice<br />

Lispector, envolve o próprio objeto da narrativa, abrangen<strong>do</strong> o problema da existência como<br />

problema da expressão e da comunicação”. O que se verifica em A Paixão Segun<strong>do</strong> G.H., pois<br />

no romance são para<strong>do</strong>xais os enuncia<strong>do</strong>s que tentam <strong>de</strong>cifrar ou interpretar a experiência <strong>de</strong><br />

G.H, como na passagem, “Eu era a imagem <strong>do</strong> que eu não era, essa imagem <strong>do</strong> não ser me<br />

cumulava toda” (LISPECTOR, 1988, p.22) e também em:<br />

Aquilo que se vive – e por não ter nome só a mu<strong>de</strong>z pronuncia - é disso que me<br />

aproximo através da gran<strong>de</strong> larguesa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> me ser. Não porque eu encontre o<br />

nome <strong>do</strong> nome e torne concreto o impalpável – mas porque <strong>de</strong>signo o impalpável<br />

como impalpável, e então o sopro recru<strong>de</strong>sce como na chama <strong>de</strong> uma vela.<br />

(LISPECTOR, 1988, p. 112)<br />

A oposição entre existência e linguagem se torna, nessa perspectiva, representativa <strong>do</strong>s<br />

problemas metafísicos inerentes a condição humana, e é, para Nunes, o que ocorre nos<br />

romances <strong>de</strong> Lispector. Para tornar mais clara esta tese, vejamos o que Nunes diz nessa<br />

direção:<br />

A inquietação que neles tortura o indivíduo é o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser, completa e<br />

autenticamente – o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> superar a aparência, conquistan<strong>do</strong> algo assim como um<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>finitivo, realização das possibilida<strong>de</strong>s em nós latentes. Aspiração<br />

contraditória! Realizar estas possibilida<strong>de</strong>s é dar-lhes forma, e consequentemente,<br />

expressá-las. Não nos contentamos em viver, precisamos saber o que somos,<br />

necessitamos compreen<strong>de</strong>-lo e dizer, mesmo em silêncio, para nós mesmos, aquilo<br />

em que vamos nos tornan<strong>do</strong>.[...] O ser que conquistamos não é, pois aquele para o<br />

qual o nosso <strong>de</strong>sejo ten<strong>de</strong>, mas aquele que a expressão capta e constrói, e que é, <strong>de</strong><br />

qualquer mo<strong>do</strong>, uma realida<strong>de</strong> provisória, mutável, substituível, que oferecemos aos<br />

outros e a nós mesmos. Daí a relativa falência da expressão afetan<strong>do</strong> a comunicação<br />

entre os homens. (NUNES, 1976, p.132-133)<br />

Benedito Nunes encerra seu livro propon<strong>do</strong> uma réplica da escritora ao que teria<br />

<strong>de</strong>fendi<strong>do</strong> Wittgenstein:<br />

Wittgenstein escrevia, no fecho seu Tratactus Lógico-Philosophicus, que <strong>de</strong>vemos<br />

silenciar a respeito daquilo sobre o qual nada se po<strong>de</strong> dizer. Clarice Lispector rompe<br />

com esse <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> silêncio. O fracasso <strong>de</strong> sua linguagem, reverti<strong>do</strong> em triunfo,<br />

redunda numa réplica espontânea ao filósofo. Po<strong>de</strong>mos formular assim a réplica que<br />

ela <strong>de</strong>u: “é preciso falar daquilo que nos obriga ao silencio”. Resume-se nessa<br />

resposta o senti<strong>do</strong> existencial <strong>de</strong> sua criação literária. (NUNES, 1976, p.139)<br />

Gostaria <strong>de</strong> salientar, a respeito <strong>de</strong>ssa passagem, que também Wittgenstein rompe com o<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> silêncio e no final <strong>do</strong> Tratactus vê se obriga<strong>do</strong> a rejeitar seu próprio livro. No<br />

aforismo 6.54, escreveu:<br />

Minhas proposições elucidam <strong>de</strong>sta maneira: quem me enten<strong>de</strong> acaba por reconhecêlas<br />

como contra-sensos, após ter escala<strong>do</strong> <strong>de</strong>las - por elas – para além <strong>de</strong>las (Devo,<br />

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