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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

propomos um trabalho a fim <strong>de</strong> analisar esse fenômeno <strong>de</strong>leitável <strong>de</strong> nossa produção poética<br />

atual.<br />

Vejamos as acepções <strong>do</strong> dicionário eletrônico Aurélio (2005) para as seguintes<br />

palavras: palavrão: “1. palavra obscena ou grosseira”; obsceno: “1. que fere o pu<strong>do</strong>r, impuro,<br />

<strong>de</strong>sonesto”; xingar: “1. dirigir insultos ou palavras afrontosas a; <strong>de</strong>scompor, injuriar, insultar,<br />

<strong>de</strong>stratar”. Pela limitada ajuda que nos oferece o dicionário, recorremos a Arango:<br />

São obscenos [os palavrões] porque nomeiam sem hipocrisia, eufemismo ou pu<strong>do</strong>r,<br />

o que nunca <strong>de</strong>ve ser mostra<strong>do</strong> em público: a sexualida<strong>de</strong> luxuriosa e autêntica.<br />

Além disso, essas palavras possuem, muitas vezes, um po<strong>de</strong>r alucinatório. Provocam<br />

a representação <strong>do</strong> órgão ou da cena sexual da forma mais clara e fiel. Suscitam,<br />

também, fortes sentimentos libidinosos. (1991, p.14)<br />

Arango segue explican<strong>do</strong> a provável etimologia da palavra, proposta por Freud: o que<br />

<strong>de</strong>ve ficar fora <strong>de</strong> cena, coberto por uma cortina <strong>de</strong> pressões sociais que <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong> um<br />

preconceito <strong>de</strong> purismo e pesam sobre a conceituação <strong>de</strong> um vocabulário <strong>de</strong> “boa” qualida<strong>de</strong>.<br />

Conforme Guilbert:<br />

Elas <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> certas regras <strong>de</strong> 'savoir vivre, aquelas da 'boa socieda<strong>de</strong>', que<br />

proibem o uso <strong>de</strong> termos crus, com referências às realida<strong>de</strong>s fisiológicas e sexuais.<br />

Cria-se a barreira <strong>do</strong> eufemismo ou das reticências para evitar o emprego <strong>de</strong>sses<br />

termos-tabus. Às expressões <strong>do</strong> 'savoir vivre' juntam-se os imperativos estéticos a<br />

propósito <strong>do</strong>s quais se fundamenta a suspeita contra as palavras científicas <strong>de</strong> uma<br />

morfologia e fonologia julgadas repulsivas. (apud PRETI, 1987, p. 61)<br />

Bataille, em O erotismo, discorre que “essas palavras são interditos, pois geralmente é<br />

proibi<strong>do</strong> nomear esses órgãos [os genitais]” (1987, p. 127). Como já nos referimos na<br />

introdução, o interdito é o elemento essencial <strong>do</strong> erotismo, pois provoca o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

transgredi-lo. Buscamos, pois, analisar essa transgressão na poesia. O autor segue afirman<strong>do</strong><br />

que a linguagem suja surge <strong>do</strong> “mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>grada<strong>do</strong>” (BATAILLE, p. 129), da “baixa<br />

prostituição e criminalida<strong>de</strong>” (BATAILLE, p. 129), on<strong>de</strong> exprime tão somente o ódio, mas<br />

que “dá aos amantes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> honesto um sentimento próximo àquele que antigamente<br />

<strong>de</strong>ram a transgressão e, <strong>de</strong>pois, a profanação” (BATAILLE, p. 130). Assim, é preciso haver<br />

contraste: para quem participa cotidianamente da vida da baixa prostituição, os palavrões são<br />

insípi<strong>do</strong>s, mas “apresentam àqueles que se conservam puros, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>snível<br />

vertiginoso” (BATAILLE, p. 227). Apren<strong>de</strong>mos na escola nomes científicos para os órgãos e<br />

ativida<strong>de</strong>s sexuais, com a própria professora utilizan<strong>do</strong> as reticências em suas aulas. Os<br />

amantes inventam outros nomes, os “apelidinhos carinhosos”, que são fruto da infantilida<strong>de</strong> e<br />

<strong>do</strong> pu<strong>do</strong>r, sen<strong>do</strong> pouco duráveis, findan<strong>do</strong> inevitavelmente no disfemismo <strong>do</strong>s palavrões (cf.<br />

BATAILLE, 1987), já que gozam da privacida<strong>de</strong> da relação, on<strong>de</strong> verificamos “a incidência<br />

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