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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

“Abiscoitar os quatro” é não escolher nenhum por não precisar, sua fragmentação<br />

permite a cada momento elaborar um eu, ou um fragmento <strong>de</strong> si mesmo. Como Santiago<br />

mesmo colocou, não procura-se a verda<strong>de</strong>, a mentira, a sincerida<strong>de</strong> ou o <strong>de</strong>lírio, tem-se a<br />

verda<strong>de</strong> poética. E nessa verda<strong>de</strong> temos seu gesto político, ele representa cada um <strong>de</strong> nós, não<br />

no espelho, mas no vidro. O gesto <strong>de</strong> Santiago, e <strong>de</strong> toda a autoficção é a escrita, como fica<br />

claro nos últimos parágrafos <strong>de</strong> O falso mentiroso:<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Chega <strong>de</strong> mentiras. [...]<br />

Não me casei com Esmeralda. Não tive filhos com ela.<br />

Se me colocarem contra a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste relato, confessarei. Tive <strong>do</strong>is filhos virtuais.<br />

Não po<strong>de</strong>ria tê-los ti<strong>do</strong>. Não os tive. Inventei-os.<br />

Inventar não é bem o verbo. Gerei-os em outro útero. Com a mão esquerda (sou<br />

canhoto) e a ajuda da bolinha metálica da caneta bic. Com tinta azul lavável.<br />

Inseminação artificial. (SANTIAGO, 2004, p. 222)<br />

Unin<strong>do</strong> as cenas, principalmente o trecho final <strong>de</strong> O falso mentiroso e as citações<br />

<strong>de</strong> Genet, temos aqui uma vida escrita, se ela tem como base a biografia ou fatos inventa<strong>do</strong>s<br />

pelo escritor, não é o problema central <strong>do</strong> ato <strong>de</strong> escrever. Uma história mal contada: “[...] se<br />

auto<strong>de</strong>nominam mal contadas [e] são na maioria <strong>do</strong>s casos as que receberam melhor<br />

tratamento por parte <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r” (SANTIAGO, 2005, p. 11). Bem tratadas pelo gesto <strong>de</strong><br />

escrever as histórias ganham valor político e não somente pessoal, po<strong>de</strong>-se discutir toda a<br />

questão <strong>do</strong> imigrante e <strong>do</strong> intelectual migrante ten<strong>do</strong> como base a experiência pessoal <strong>do</strong><br />

escritor que aparece via “xoxota estética”. E seu texto não per<strong>de</strong> a valida<strong>de</strong> se ao final negar<br />

toda a narrativa, somos to<strong>do</strong>s fragmenta<strong>do</strong>s, temos o direito <strong>de</strong> esquecer e inventar, recompor<br />

o passa<strong>do</strong> como nos apresenta. A autoficção é o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> representação política <strong>do</strong> eu, <strong>do</strong> eu<br />

que sou enquanto escritor e <strong>do</strong> eu que sou enquanto intelectual.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca – escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura<br />

(Trad. Lyslei Nascimento). Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.<br />

AMARAL, Adriana Cörner Lopes <strong>de</strong>. Sobre a memória em Jacques Derrida. In:<br />

GLENADEL, Paula; NASCIMENTO, Evandro. (Orgs.). Em torno <strong>de</strong> Jacques Derrida. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: 7Letras, 2000.<br />

BOMERRY, Helena; OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Entrevista com Silviano Santiago. Estu<strong>do</strong>s<br />

Históricos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, n° 30, 2002, p. 147-173.<br />

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