13.05.2013 Views

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

nacional”. Sen<strong>do</strong> assim, somente nos movimentos <strong>de</strong> migração (a imigração e o seu duplo – a<br />

emigração) que se realiza, no mo<strong>do</strong> da experiência, o confronto com a or<strong>de</strong>m nacional, e é a<br />

partir <strong>de</strong>ste confronto que se estabelece a distinção entre “nacional” e “não-nacional”.<br />

(SAYAD, 1998).<br />

Sobre a alterida<strong>de</strong>, Said escreve que é mais compensa<strong>do</strong>r – e mais difícil – pensar<br />

sobre os outros em termos “ concretos, empáticos, contrapuntísticos, <strong>do</strong> que pensar apenas<br />

sobre ‘nós’. Mas isso também significa tentar não <strong>do</strong>minar os outros, [...] sobretu<strong>do</strong>, não<br />

repetir constantemente o quanto a ‘nossa’ cultura ou país é melhor (ou não é o melhor,<br />

também)”. (SAID, 1995, p. 411). Isto nos lembra que, além da cor da pele, <strong>do</strong> sexo ou <strong>de</strong><br />

outras características físicas serem alvo <strong>do</strong> preconceito, a nação por ser um espaço <strong>de</strong><br />

exclusão, como vimos acima na citação <strong>de</strong> Sayad, é também uma potencial fonte <strong>de</strong><br />

preconceito. E sobre isto Bogóloff, personagem <strong>de</strong> As aventuras <strong>de</strong> Doutor Bogólloff, novela<br />

<strong>de</strong> Lima Barreto publicada em jornal em 1912, diz: “a Pátria, esse monstro que tu<strong>do</strong> <strong>de</strong>vora,<br />

continuava vitoriosa nas idéias <strong>do</strong>s homens levan<strong>do</strong>-os à morte, à <strong>de</strong>gradação, à miséria, para<br />

que, sobre a <strong>de</strong>sgraça <strong>de</strong> milhões, um milhar vivesse regaladamente, fortemente liga<strong>do</strong>s num<br />

sindicato macabro”. (BARRETO, 1961, p. 226). Opinião similar tem Tagore, cita<strong>do</strong> por Said,<br />

que <strong>de</strong>fine a nação como sen<strong>do</strong> “um receptáculo aperta<strong>do</strong> e rancoroso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r para produzir<br />

conformida<strong>de</strong>, seja britânica, chinesa, indiana ou japonesa.” (SAID, 1995, p. 272)<br />

Dada como uma fatalida<strong>de</strong>, e criada pelo homem, a nação é um absur<strong>do</strong> esqueci<strong>do</strong>.<br />

Renan nos diz que a nação se constitui pelo esquecimento coletivo, e não pela memória, isto<br />

explica o fato <strong>de</strong> as pessoas estarem dispostas a morrer por estas invenções. Benedict<br />

An<strong>de</strong>rson já <strong>de</strong>monstrou que as nações não são produtos <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> certas condições<br />

sociológicas, como a língua, a raça ou a religião, mas são vivificadas pela imaginação e isso<br />

faz com que as pessoas compartilhem a crença <strong>de</strong> que pertencem à mesma comunida<strong>de</strong>.<br />

Porém sobre isto, Hall complementa: “Ao contrário <strong>do</strong> que se supõe, os discursos da nação<br />

não refletem um esta<strong>do</strong> unifica<strong>do</strong> já alcança<strong>do</strong>”. (HALL, 2003, p. 78), até porque “longe <strong>de</strong><br />

ser algo unitário, monolítico ou autônomo, as culturas, na verda<strong>de</strong>, mais a<strong>do</strong>tam elementos<br />

“estrangeiros”, alterida<strong>de</strong>s e diferenças <strong>do</strong> os excluem conscientemente”. (SAID, 1995, p. 46)<br />

Seu intuito [<strong>do</strong>s discursos <strong>de</strong> nação] é forjar ou construir uma forma unificada <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificação a partir das muitas diferenças <strong>de</strong> classe, gênero, região, religião ou<br />

localida<strong>de</strong>, que na verda<strong>de</strong> atravessam a nação. Para tanto, esses discursos <strong>de</strong>vem<br />

incrustar profundamente e enredar o chama<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> “cívico” sem cultura, para<br />

formar uma <strong>de</strong>nsa trama <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s, tradições e valores culturais que venham a<br />

representar a nação. É somente <strong>de</strong>ntro da cultura e da representação que a<br />

i<strong>de</strong>ntificação com esta “comunida<strong>de</strong> imaginada” po<strong>de</strong> ser construída. (HALL,<br />

2003, 78)<br />

56

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!