13.05.2013 Views

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

Entre o público e o priva<strong>do</strong>, o olhar <strong>de</strong> Silviano Santiago apreen<strong>de</strong> os jogos <strong>de</strong><br />

máscaras, as contradições, as imposturas sociais. Para<strong>do</strong>xalmente, esses jogos são<br />

dramatiza<strong>do</strong>s em um espaço que se <strong>de</strong>clara constantemente como mentiroso e falso,<br />

e ele assume como o falso mentiroso. [...] <strong>de</strong> tanto mentir, a própria mentira – a<br />

mentira crua, simples, curta – diz-se a verda<strong>de</strong> bruta. [...] (HOISEL, 2008, p. 157)<br />

Simplesmente contava a verda<strong>de</strong> bruta, a verda<strong>de</strong> poética. O gesto político <strong>de</strong> Santiago<br />

na narrativa liga<strong>do</strong> a sua afirmação na entrevista nos mostra a contrarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar entre os<br />

americanos e ser um <strong>de</strong>les, e que precisa nesse jogos dramatiza<strong>do</strong>s assumir uma postura,<br />

preferiu a postura “<strong>de</strong> costas” e retornou ao Brasil. Para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma cultura brasileira?<br />

Certamente, não. Santiago é o intelectual migrante, <strong>de</strong>sconstrói uma cultura pela outra para<br />

enten<strong>de</strong>r a cultura:<br />

Estou sempre <strong>de</strong>sconstruin<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s pela França, ou <strong>de</strong>sconstruin<strong>do</strong> a<br />

França pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, ou <strong>de</strong>sconstruin<strong>do</strong> o Brasil pela França e pelos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. E fazen<strong>do</strong> esses jogos, <strong>de</strong> tal forma que qualquer escrito meu é<br />

inseparável da minha formação. (BOMERRY, OLIVEIRA, 2002, p. 165)<br />

Silviano Santiago é a própria representação <strong>do</strong> que vêm a ser a memória para<br />

Jacques Derrida, analisemos via Adriana Cörner Lopes <strong>do</strong> Amaral em Sobre a memória em<br />

Jacques Derrida no livro Em torno <strong>de</strong> Jacques Derrida (2000) organiza<strong>do</strong> por Evandro<br />

Nascimento e Paula Glena<strong>de</strong>l. O tempo para a <strong>de</strong>sconstrução é diferente, e a partir <strong>de</strong>ste<br />

conceito altera<strong>do</strong>, memória e sujeito po<strong>de</strong>m ser reinterpreta<strong>do</strong>s: “a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> passa<strong>do</strong> passa a<br />

ser simultânea com o presente. E ao mesmo tempo que há essa simultaneida<strong>de</strong><br />

passa<strong>do</strong>/presente, um passa<strong>do</strong> começa a ser imagina<strong>do</strong> ainda por se fazer em um futuro que<br />

ainda está por vir” (AMARAL, 2000, p. 31).<br />

Há então, para Derrida, uma presença <strong>do</strong> presente, e essa impossibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong> e o <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> <strong>de</strong>vir faz com que a memória se altere para elaboração <strong>do</strong> próprio<br />

sujeito, isso permite que Amaral conclua que: “aquilo que não é lembra<strong>do</strong> não se po<strong>de</strong> sequer<br />

se dizer que exista” (2000, p. 32).<br />

Jacques Derrida formula que cada instante é único e jamais será resgata<strong>do</strong> em seu<br />

inteiro teor e no máximo o que se conseguirá é rememorá-lo, repeti-lo, exatamente<br />

graças a memória, mas sempre o que se terá será uma reprodução, cópia que nunca<br />

será perfeita, e já sempre diferente, em diferença (sempre ficção e não a cena em si)<br />

(AMARAL, 2000, p. 38).<br />

Dessa forma conclui Amaral que estamos fada<strong>do</strong>s a uma eterna elaboração <strong>de</strong> nós<br />

mesmos: “nada está pronto, tu<strong>do</strong> está sempre se fazen<strong>do</strong>, sempre a vir, a vida, o tempo, a<br />

própria <strong>de</strong>sconstrução. “[...] Presos ao caminhar não ao chegar” (2000, p. 42). Essa conclusão<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>partamento: levei Glauber Rocha a Buffalo, levei o Arena conta Zumbi, Hélio Oiticica fez uma exposição<br />

na Albright-Knox Gallery, consegui emprego ótimo para o Abdias <strong>do</strong> Nascimento. Isso só foi possível como<br />

chefe <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Francês, porque nessa posição você tem po<strong>de</strong>r. Era amigo <strong>do</strong> <strong>de</strong>cano, comecei a ter<br />

amiza<strong>de</strong>s fora <strong>do</strong> campus, a vida social era outra” (BOMERRY, OLIVEIRA, 2002, p. 162)<br />

115

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!