13.05.2013 Views

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

simplesmente, sentar à janela da casa e observar a mata balançan<strong>do</strong> as pernas. Sabia que não<br />

podia ter brinque<strong>do</strong>s industrializa<strong>do</strong>s como os ricos, mas contentava-se em engenhar bonecos<br />

<strong>de</strong> barro. O que tinha a sua volta era o mun<strong>do</strong> adulto “feito caixa <strong>de</strong> brinque<strong>do</strong>, os homens<br />

reduzi<strong>do</strong>s ao tamanho <strong>de</strong> um polegar <strong>de</strong> crianças” (RAMOS, 1994, p. 108). Já, no Menino <strong>de</strong><br />

Engenho, a preferência ficava no banho nos açu<strong>de</strong>s, no brincar ao sol, e as caças a arribaçã, a<br />

rola sertaneja, por ser neto <strong>do</strong> senhor <strong>do</strong> engenho tinha muitos brinque<strong>do</strong>s <strong>de</strong> artesanato como<br />

o pião, contu<strong>do</strong>, seus brinque<strong>do</strong>s eram mais importantes <strong>do</strong> que aqueles confecciona<strong>do</strong>s, pois<br />

com estes sabia que não se quebrariam. Por outro la<strong>do</strong>, passava maior parte <strong>do</strong> seu tempo a<br />

observar os adultos trabalhan<strong>do</strong>, ou mesmo brincan<strong>do</strong> com coisas que não importavam mais<br />

aos adultos: “umas carabinas que guardava atrás <strong>do</strong> guarda-roupa, a gente brincava com elas<br />

<strong>de</strong> tão imprestáveis” (Rego, 1972, p. 49).<br />

Enquanto que na obra <strong>de</strong> José Lins, a <strong>de</strong>scoberta da vida pelos prazeres da infância<br />

não tinha limites, nem sequer entre mun<strong>do</strong> animal e humano, entre raças e ida<strong>de</strong>s ou classe<br />

social, pois sua experiência da infância estava no conviver <strong>do</strong>s meninos, e moleques da casa<br />

gran<strong>de</strong>, ou ainda, a observar a vida sexual <strong>do</strong>s animais da fazenda. Em Graciliano, temos a<br />

rigi<strong>de</strong>z espaço da infância é o avesso <strong>do</strong> aconchego <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> por Bachelard, <strong>do</strong> bem-estar<br />

da intimida<strong>de</strong>, a casa <strong>de</strong>ssa infância é comparada a um cárcere, associada a ari<strong>de</strong>z, cemitério,<br />

em que o quintal pu<strong>de</strong>sse ser seu refúgio. A obra é repleta <strong>de</strong> um lirismo represa<strong>do</strong>, escondi<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>monstra<strong>do</strong>s numa linguagem lacônica, lacunosa, cheia <strong>de</strong> elipses. Até mesmo a figura da<br />

maternida<strong>de</strong> que é o da mãe acolhe<strong>do</strong>ra e envolvente, para ele, perpassa como uma mãe<br />

agressiva e ressacada, assim como a sua realida<strong>de</strong> construída durante a sua obra. Tal postura é<br />

repassada na vida <strong>do</strong> personagem <strong>de</strong> Graciliano, numa realida<strong>de</strong> hostil em que, a partir da<br />

relação conflituosa com a mãe, em sua infância, acaba por se repetir, com a escola e com a<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Entretanto, em ambas as obras observamos uma infância representada pela solidão e<br />

pelas angústias, “pois, mesmo diante <strong>de</strong> uma heterogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> protagonistas adultos e<br />

crianças” (LEMOS, 2002, p. 69), os narra<strong>do</strong>res expõem seus mun<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> sua<br />

individualida<strong>de</strong> e isolamento.<br />

A partir das obras literárias, por meio <strong>de</strong> sua originalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seu estatuto<br />

simbólico, temos uma compreensão da infância, num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> contexto histórico e<br />

cultural, em que Chartier as <strong>de</strong>fine como ilustração <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s que partilham as fontes<br />

técnicas da histórica com um enfoque volta<strong>do</strong> a uma análise mais rica e completa. Assim, “a<br />

infância analisada é um processo <strong>de</strong> construção subjetiva e <strong>de</strong> reconstrução cultural através da<br />

126

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!