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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

constante da maior parte <strong>do</strong>s xingamentos sexuais, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s ofensivos na esfera pública,<br />

possuin<strong>do</strong> agora um caráter erótico, excitante, na esfera privada” (ZANELLO, 1998, p. 4).<br />

O crescente processo <strong>de</strong>smistifica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> sexo vem alargan<strong>do</strong> o uso da linguagem<br />

obscena, e não necessariamente associamos a palavra ao seu referente, chegan<strong>do</strong> a per<strong>de</strong>r a<br />

conotação injuriosa quan<strong>do</strong> se preten<strong>de</strong> forçar uma certa intimida<strong>de</strong> com o leitor (cf. PRETI,<br />

1984). Se em um relacionamento heterossexual muito íntimo o homem ou a mulher usa o<br />

termo puta (ou putinha, com o diminutivo <strong>de</strong> carga semântica), não está se referin<strong>do</strong><br />

necessariamente a “meretriz: mulher que pratica o ato sexual por dinheiro” (HOLANDA,<br />

2005), mas está associan<strong>do</strong> alguns traços semânticos inerentes à palavra: libertinagem,<br />

<strong>de</strong>sinibição, submissão, experiência sexual. Há uma mo<strong>de</strong>ração da violência. Segun<strong>do</strong><br />

Bataille, tal comedimento da agressivida<strong>de</strong> é essencial para a dinâmica erótica, <strong>de</strong> forma que a<br />

transgressão, não menos que o interdito, tem suas próprias regras:<br />

muitas vezes a transgressão <strong>do</strong> interesse não está menos sujeita a regras que o<br />

interdito. Não se trata <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>: em certo momento e bem nesse momento, isto é<br />

possível, tal é o senti<strong>do</strong> da transgressão […] a preocupação com uma regra é às<br />

vezes maior na transgressão: pois é mais difícil limitar um tumulto uma vez<br />

começa<strong>do</strong>. (BATAILLE, 1987, p. 61, grifos <strong>do</strong> autor).<br />

É o que se observa no título <strong>do</strong> poema Puta, por um segun<strong>do</strong>, <strong>de</strong> Mario Cezar<br />

(revista eletrônica Germina, s.p.) ou nos versos <strong>de</strong> Márcia Maia: “<strong>de</strong> ti puta e senhora uma<br />

vez mais/ mais uma vez <strong>de</strong> novo e sempre” (revista eletrônica Germina, s.p.). Porém, há um<br />

para<strong>do</strong>xo: a violência é necessária, mas <strong>de</strong>ve ser mo<strong>de</strong>rada, mas nem sempre <strong>de</strong>ve ser<br />

mo<strong>de</strong>rada, já que “excepcionalmente a transgressão ilimitada é concebível” (BATAILLE,<br />

1987, p. 61), quan<strong>do</strong> os palavrões são usa<strong>do</strong>s com o intuito mesmo <strong>de</strong> humilhar, como no<br />

Soneto <strong>do</strong> Nhonhô, <strong>de</strong> Victório Verdan:<br />

Amá-la eu não posso mais, irei fodê-la<br />

Pois e <strong>de</strong> tal mo<strong>do</strong>, que, a maltratá-la,<br />

Ela há <strong>de</strong> se sentir uma ca<strong>de</strong>la,<br />

Uma preta fodida <strong>de</strong> senzala.<br />

Hei <strong>de</strong> quebrar-lhe os <strong>de</strong>ntes, açoitá-la,<br />

Metê-la em meu palácio n'uma cela.<br />

Puta <strong>de</strong> Exú 37 , minha fiel vassala;<br />

Toda mulher é puta, enquanto bela.<br />

[…] (VERDAN, 2008, p. 145)<br />

Na obra Excitação sexual – dinâmica da vida erótica, Stoller afirma:<br />

“sa<strong>do</strong>masoquismo, penso eu, é um aspecto central em quase toda excitação sexual. Minha<br />

idéia é que o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ferir outros em represália por ter si<strong>do</strong> feri<strong>do</strong> é essencial sempre para a<br />

37 “Exú”, com acento, reproduz o original.<br />

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