Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />
faz, mas como uma palavra-síntese: “[...] ‘Silviano Santiago’ é uma palavra-síntese que, como<br />
verbete <strong>de</strong> dicionário, acumula tantos disfarces e máscaras, ‘sem i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, sem rosto e sem<br />
nome próprio estável” (HOISEL, 2008, p. 145), falar Silviano Santiago é invocar toda uma<br />
conceituação da verda<strong>de</strong> poética <strong>do</strong> sujeito fragmentário.<br />
Hoisel continua sua elaboração sobre a questão política na obra <strong>de</strong> Santiago:<br />
Na pedagogia <strong>do</strong> falso e da mentira, noções como verda<strong>de</strong> e legitimida<strong>de</strong> submetemse<br />
a processos <strong>de</strong> revaloração e constroem outras possibilida<strong>de</strong>s existenciais para o<br />
sujeito dramatiza<strong>do</strong>s na escrita, pelos quais dialogam momentos distintos da história<br />
política e social <strong>do</strong> Brasil. [..] Sob a ética <strong>do</strong> falso, <strong>do</strong> simulacro, propicia<strong>do</strong> pelos<br />
processos <strong>de</strong> transmigrações narcísicas [...] Silviano Santiago monta outras<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação das histórias individuais e coletivas. (HOISEL, 2008,<br />
p. 156-7)<br />
Ele é o intelectual migrante, Histórias mal contadas trata exatamente da questão <strong>de</strong><br />
seu percurso pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, França e México, fazen<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua experiência narrativa<br />
ficcionalizada, uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entendimento da história política e social, não <strong>do</strong> Brasil,<br />
visto que não há mais gran<strong>de</strong>s narrativas épicas, mas como os intelectuais <strong>de</strong> sua época<br />
estiveram em outros espaços para enten<strong>de</strong>r o valor da cultura brasileira. Santiago possui uma<br />
postura bastante impositiva perante a xenofobia americana, é o caso <strong>de</strong> seu conto Borrão, ele<br />
permanece “<strong>de</strong> costas” para to<strong>do</strong> o preconceito: “a <strong>do</strong>r não se reconheceu ferida, por isso <strong>de</strong>ve<br />
ter si<strong>do</strong> tão rápida a cicatrização. Levantei e saí <strong>do</strong> restaurante sem ter <strong>de</strong>gusta<strong>do</strong> as famosas<br />
ribs <strong>do</strong> Texas. Quan<strong>do</strong> olhos me seguiram até a porta? Não sei. Estava <strong>de</strong> costas”<br />
(SANTIAGO, 2005, p. 47).<br />
No conto Borrão, Santiago fixa seu <strong>de</strong>stino como migrante nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s como<br />
na escolha <strong>do</strong> banheiro utiliza<strong>do</strong>s por negros e migrantes:<br />
[...] Ficar fora significa a exclusão total <strong>do</strong> sistema. A verda<strong>de</strong>ira marginalida<strong>de</strong>. O<br />
sistema era o grau zero da cidadania <strong>de</strong> primeira e <strong>de</strong> segunda classe. No sistema<br />
dual cada um tem <strong>de</strong> se encaixar – cá ou lá, lá ou cá – por sua própria conta,<br />
responsabilida<strong>de</strong> e risco. Cabia a mim me encaixar no sistema. Mel Gibson ou<br />
Morgan Freeman na luta pela sobrevivência na terra <strong>do</strong>s caubóis <strong>do</strong> velho oeste? Por<br />
que fui entrar no banheiro <strong>do</strong>s Men? Será que estava <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> e selan<strong>do</strong> o meu<br />
<strong>de</strong>stino <strong>de</strong> estrangeiro nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s? Estaria para sempre me encaixan<strong>do</strong><br />
numa minoria, numa nação que se organizou em sucessivas e diferentes minorias?<br />
Os banheiros. (SANTIAGO, 2005, p. 44)<br />
E o reflexo <strong>de</strong> sua escolha é não ser bem atendi<strong>do</strong> no restaurante em que saí “<strong>de</strong><br />
costas” para o preconceito. Questiona-se se realmente Santiago fora trata<strong>do</strong> com xenofobia<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, porém na entrevista citada afirma o contrário, quase se tornou um<br />
americano, por exigência <strong>de</strong> seus compromissos com a universida<strong>de</strong> 34 . Mentia, então? Não:<br />
34 “Começaram a jogar indiretas: ‘Por que você não se naturaliza?’ O problema era que eu tinha começa<strong>do</strong> a<br />
mexer com dinheiro. Dirigi o Departamento <strong>de</strong> Francês em Buffalo durante um semestre inteiro, e aí você liça<br />
com a reitoria, com o <strong>de</strong>canato, empregos & promoções. Foi uma época muito boa, essa em que estive na chefia<br />
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