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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

Lady Macbeth também diz: “[...] tirai-me o sexo, cheia me <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>, da cabeça até aos<br />

pés, da mais terrível cruelda<strong>de</strong>!” (p.10) Como se o fato <strong>de</strong> haver nasci<strong>do</strong> com características<br />

biológicas femininas lhe tornasse inerente a fraqueza, a bonda<strong>de</strong> e a <strong>do</strong>cilida<strong>de</strong>. Durante<br />

vários séculos e em várias socieda<strong>de</strong>s particularizaram-se seres humanos <strong>do</strong> sexo feminino<br />

através <strong>de</strong>stes adjetivos, e, isto foi <strong>de</strong>cisivo na história da política como um to<strong>do</strong>. Weber<br />

coloca que “O Esta<strong>do</strong> é uma comunida<strong>de</strong> humana, que preten<strong>de</strong>, com êxito, o monopólio <strong>do</strong><br />

uso legítimo da força física <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> território.” (1967, p.56) Nada mais<br />

apropria<strong>do</strong> neste cenário viril e resoluto <strong>do</strong> que a pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> seres humanos <strong>do</strong> sexo<br />

masculino. E, em vista das relações sociais <strong>de</strong> gênero, até o atual século XXI não se<br />

conseguiu equiparar os <strong>do</strong>is sexos na ocupação <strong>de</strong> cargos políticos públicos em nenhum país-<br />

nação conheci<strong>do</strong>.<br />

Observa-se quan<strong>do</strong> Macbeth, em resposta à mulher, diz “Paz, te peço. Ouso fazer tu<strong>do</strong><br />

o que faz um homem; quem fizer mais, é que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> sê-lo.” (2001, p.12) que Shakespeare<br />

cria uma situação análoga ao “peca<strong>do</strong> original” <strong>do</strong> livro Gênesis da Bíblia. Macbeth é tenta<strong>do</strong><br />

“pelo mal revesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> feminino”, conforme esta visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> hegemônica na Europa<br />

oci<strong>de</strong>ntal medieval o feminino “por ser mais fraco” é mais suscetível às investidas e<br />

incorporações <strong>do</strong> mal.<br />

Lady Macbeth diz “Tu<strong>do</strong> é perdi<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sejo fica reparti<strong>do</strong>.” (2001, p.24).<br />

Desejo entre fazer o bem e fazer o mal na política é <strong>de</strong>cisivo e é preciso escolher entre <strong>do</strong>is<br />

pólos antagônicos, não há mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ficar entre eles, sob ameaça <strong>de</strong> não agir, <strong>de</strong> permanecer<br />

inerte e ser leva<strong>do</strong> pelos acontecimentos ao invés <strong>de</strong> dar a tônica ao cenário em que se atua. E,<br />

para fazer o bem é necessário pensar, segun<strong>do</strong> Arendt (1993), é preciso duvidar, travar luta<br />

interna com o que a autora chama <strong>de</strong> “senso comum <strong>do</strong> homem”: “esse sexto e mais alto<br />

senti<strong>do</strong> que se ajusta nossos cinco senti<strong>do</strong>s a um mun<strong>do</strong> comum, e que nos capacita para nele<br />

nos orientar” (1993, p.150). Assim, po<strong>de</strong>-se chegar a conclusão <strong>de</strong> que a tarefa <strong>de</strong> pensar é<br />

anti-natural, mas, se buscarmos nas entrelinhas da razão, ou em Kant, o espírito humano tem a<br />

necessida<strong>de</strong> premente <strong>de</strong> metamorfosear o senso comum, <strong>de</strong> re-pensar. Kant, em “Crítica da<br />

Razão Pura” acrescenta que:<br />

A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber (a receptivida<strong>de</strong>) representações <strong>do</strong>s objetos segun<strong>do</strong> a<br />

maneira como eles nos afetam, <strong>de</strong>nomina-se sensibilida<strong>de</strong>. Os objetos nos são da<strong>do</strong>s<br />

mediante a sensibilida<strong>de</strong> e somente ela é que nos fornece intuições; mas é pelo<br />

entendimento que elas são pensadas, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>le que surgem os conceitos. To<strong>do</strong><br />

pensamento <strong>de</strong>ve em última análise, seja direta ou indireta mente, mediante certos<br />

caracteres, referir-se às intuições, e, conseguintemente, à sensibilida<strong>de</strong>, porque <strong>de</strong><br />

outro mo<strong>do</strong> nenhum objeto nos po<strong>de</strong> ser da<strong>do</strong> (2001, p.15).<br />

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