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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

Sentiram o progresso nos trilhos,<br />

Abriram os baús,<br />

Mascates mágicos<br />

Que vendiam em cada peça <strong>de</strong> seda<br />

Um sonho <strong>de</strong> odalisca e <strong>de</strong> sultão.<br />

De mascates a comerciantes<br />

Surgiram as lojas na 14,<br />

A rua 14,<br />

On<strong>de</strong> havia uma casa,<br />

Ficava no meio <strong>do</strong>s libaneses,<br />

A casa da minha infância. (NAVEIRA, 1992, p.27-28)<br />

Campo Gran<strong>de</strong>, ainda arraialzinho, um vilarejo que mal disfarçava sua timi<strong>de</strong>z<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento, acolhe, em seu rubro chão, os libaneses, vin<strong>do</strong>s, em gran<strong>de</strong> parte, em<br />

carretas puxadas por duas ou três juntas <strong>de</strong> bois ou nos lombos <strong>de</strong> cavalos e burros em trajetos<br />

que não duravam menos que três dias. Crescen<strong>do</strong> com a capital, os libaneses presenciam a<br />

cida<strong>de</strong> em seu progresso nos trilhos, proveniente da implantação das “Marias-Fumaças” pela<br />

Estrada <strong>de</strong> Ferro Noroeste <strong>do</strong> Brasil, que ligava as bacias fluviais <strong>do</strong> Paraná e <strong>do</strong> Paraguai aos<br />

países limítrofes (a Bolívia, através <strong>de</strong> Porto Esperança, e o Paraguai, através <strong>de</strong> Ponta Porã).<br />

Desse mo<strong>do</strong>, o então <strong>Mato</strong> <strong>Grosso</strong> passou a receber um contingente significativo <strong>de</strong><br />

imigrantes libaneses, além <strong>de</strong> povos <strong>de</strong> outras nacionalida<strong>de</strong>s 21 . E Campo Gran<strong>de</strong> se firmou<br />

como um ponto <strong>de</strong> passagem obrigatório para to<strong>do</strong>s os que se dirigissem ao Pantanal, à<br />

Bolívia ou à Amazônia, tornan<strong>do</strong>-se a mais beneficiada com a estrada <strong>de</strong> ferro e<br />

transforman<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> vilarejo periférico em cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importante localização estratégica.<br />

Nesse ínterim, cabe ressaltar ainda que a chegada <strong>do</strong> trem e <strong>do</strong>s grupos imigrantes trazem<br />

para a cida<strong>de</strong> novas atrações e equipamentos para o divertimento público como teatro,<br />

cinematógrafo, casas <strong>de</strong> bilhar, cafés e sorveterias (MACHADO, 2000).<br />

De acor<strong>do</strong> com Sérgio Lamarão 22 , a mascateação era inicialmente a ativida<strong>de</strong><br />

abraçada pelos imigrantes sírios e libaneses ao aportarem em solo brasileiro, uma vez que a<br />

maioria <strong>de</strong>les vinha com o objetivo <strong>de</strong> permanecer temporariamente, acumular algum capital e<br />

retornar. A atuação profissional não se reduzia às cida<strong>de</strong>s: os mascates comercializavam seus<br />

produtos nas fazendas e povoa<strong>do</strong>s, razão pela qual são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por muitos pesquisa<strong>do</strong>res<br />

como os funda<strong>do</strong>res <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> “comércio popular” no Brasil. Era comum que os mascates<br />

21 “ Presume-se que ao longo <strong>do</strong> tempo, pessoas <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 40 países tenham se fixa<strong>do</strong> em Campo Gran<strong>de</strong><br />

exercen<strong>do</strong> importante influência no <strong>de</strong>senvolvimento da região, pela migração <strong>de</strong> recursos e transmissão <strong>de</strong><br />

valores culturais incorpora<strong>do</strong>s na comunida<strong>de</strong>.” (TEIXEIRA, 2004, p. 9.) Dentre os grupos imigrantes,<br />

lembramos os italianos, alemães, gregos, poloneses, portugueses, espanhóis, japoneses, paraguaios e bolivianos,<br />

conforme Trad (1999, p. 297-351).<br />

22 Lamarão ainda explicita que, em to<strong>do</strong> o território brasileiro, os sírios e libaneses, assim como seus<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, “motiva<strong>do</strong>s pela crença <strong>de</strong> que qualquer lugarejo constituía um merca<strong>do</strong> em potencial para o<br />

mascate fixar-se como comerciante, encontraram oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho e experimentaram um franco<br />

processo <strong>de</strong> ascensão social.” (p.179)<br />

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