Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />
adquire senti<strong>do</strong>” (p. 11). Pensan<strong>do</strong> nestas relações estabelecidas entre os signos teatrais e os<br />
signos da adaptação audiovisual, far-se-á esse paralelo, uma vez que<br />
po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que a construção <strong>do</strong> signo na representação serve para compor<br />
um sistema <strong>de</strong> representação autônomo, <strong>do</strong> qual o conjunto <strong>do</strong>s signos textuais<br />
constitui só uma parte. Essa hipótese é a mais fecunda e correspon<strong>de</strong> melhor à<br />
realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> teatro, pois o trabalho prático da representação consiste em<br />
reconsi<strong>de</strong>rar os <strong>do</strong>is sistemas significantes e combiná-los. (UBERSFELD, 2005. p.<br />
15)<br />
Estas conexões são possíveis, pois sabemos que as representações teatrais, assim como<br />
as representações audiovisuais, são formadas por um conjunto <strong>de</strong> signos <strong>de</strong> natureza diversa<br />
que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, se não totalmente, pelo menos parcialmente <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> comunicação,<br />
já que comportam uma série complexa <strong>de</strong> emissores, <strong>de</strong> mensagens que <strong>de</strong>stinam-se a um<br />
receptor múltiplo. Vale lembrar que o discurso teatral tem em si o falar <strong>do</strong> outro, a<br />
duplicida<strong>de</strong>, ou seja, o discurso <strong>do</strong> outro é que o habita. Sobre esse prisma, vale ressaltar a<br />
contribuição <strong>de</strong> Dominique Maingueneau (1996), que propõe o arquienuncia<strong>do</strong>r: alguém que<br />
fala o discurso <strong>do</strong> outro. Segun<strong>do</strong> Maingueneau isso é possível, pois “os atores não são os<br />
verda<strong>de</strong>iros fia<strong>do</strong>res <strong>de</strong> suas réplicas, são na verda<strong>de</strong> sujeitos falantes e não locutores” (p.<br />
161).<br />
Outro fator interessante a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> é fato da linguagem teatral ter dupla<br />
existência, já que está presente no interior da representação, a prece<strong>de</strong>, e, a acompanha. Um<br />
exemplo clássico po<strong>de</strong> ser retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> romance em análise. Eça <strong>de</strong> Queirós fiel ao costumes<br />
da época retrata a vida cultural <strong>do</strong> casal Jorge e Luisa, que frequentam com assiduida<strong>de</strong> os<br />
teatros portugueses. Na abertura <strong>do</strong> seu livro, Queirós relata a impressão <strong>de</strong>ixada no casal<br />
após a apreciação da ópera Fausto, no Teatro <strong>de</strong> São Carlos, Portugal. Tal qual o livro, as<br />
produções audiovisuais valorizam e propiciam o gran<strong>de</strong> espaço <strong>do</strong> teatro na vida das<br />
personagens. Uma vez que chegan<strong>do</strong> a sua casa, o personagem Jorge cantarola impressiona<strong>do</strong><br />
trechos da ópera que acabara <strong>de</strong> assistir com sua esposa. Segun<strong>do</strong> o crítico Magaldi (1997),<br />
essa reação só é possível, pois “a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores artísticos conduz a síntese teatral.<br />
Arte impura, captan<strong>do</strong> aqui e ali to<strong>do</strong>s os instrumentos capazes <strong>de</strong> produzir o maior impacto<br />
no especta<strong>do</strong>r” (p. 13). Rosenfeld (1993), ao tratar da essência <strong>do</strong> teatro contempla esse<br />
fascínio que perpassa pela arte da interpretação, <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> metamorfose, da<br />
transformação e i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s personagens. O autor afirma que:<br />
não só o ator se i<strong>de</strong>ntifica com Édipo. Também o público se fun<strong>de</strong> com ele. To<strong>do</strong>s<br />
participam da metamorfose [...]. Libertamo-nos da nossa condição particular para<br />
participar <strong>do</strong> <strong>de</strong>stino exemplar <strong>do</strong>s heróis e para, transforma<strong>do</strong>s no outro, vivermos<br />
a essência da nossa condição. (ROSENFELD, 1993, p. 23)<br />
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