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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

sobrevivência, o idioma e a cultura local forem apreendi<strong>do</strong>s por uma pessoa que venda<br />

diferente, fale diferente e possua elementos culturais diferentes, ou seja, por um imigrante.” É<br />

importante observar que essas reflexões <strong>de</strong> Oliveira não se restringem aos palestinos: são<br />

estendidas também aos sírios e libaneses. (OLIVEIRA, 2004, p. 195-196, 199)<br />

A nosso ver, muitas das questões sublinhadas por Oliveira “atravessam” o<br />

poema. O eu poético confecciona e ven<strong>de</strong> camisas e seu empenho para ser simpático para com<br />

os clientes é tanto um esforço que visa à sobrevivência como a aceitação, como vê-se nos<br />

versos: “Quem não precisa <strong>de</strong> camisa? / Nem era mesmo feliz / O homem que não usava<br />

camisa, / Na camisa, a elegância, / A dignida<strong>de</strong>”, “Entrem senhores, / madames, / Conheçam<br />

nossas camisas <strong>de</strong> linho.” O comerciante libanês se distingue como tal, apesar <strong>de</strong> não ser<br />

completamente fluente no idioma português, e o dilema da aceitabilida<strong>de</strong>, imposta pela<br />

condição imigrante, é soluciona<strong>do</strong> por meio <strong>do</strong> comércio. Nesses mol<strong>de</strong>s, dá-se a aculturação,<br />

isto é, a “influência recíproca <strong>de</strong> elementos culturais entre grupos <strong>de</strong> indivíduos”, conforme<br />

bem <strong>de</strong>finiu Francisco da Silveira Bueno (1986, p.46).<br />

Em Sob os cedros <strong>do</strong> Senhor (1994), a aceitação <strong>do</strong>s imigrantes pela população<br />

<strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> – e agora não estamos mais nos restringin<strong>do</strong> aos palestinos, sírios e<br />

libaneses, evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s no ensaio <strong>de</strong> Oliveira –, que se <strong>de</strong>u principalmente por meio <strong>do</strong><br />

comércio, po<strong>de</strong> ser verificada também em excertos <strong>do</strong>s textos poéticos “Passeio pela 14”,<br />

“Móveis”, entre outros.<br />

Quanto aos empréstimos e trocas entre os costumes <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> e as<br />

tradições <strong>do</strong>s imigrantes, <strong>de</strong>nota<strong>do</strong>s por Chisini (2004), estes po<strong>de</strong>m ser investiga<strong>do</strong>s no<br />

poema “Dona Tita”:<br />

Dona Tita faz quitutes<br />

Da cozinha <strong>de</strong> Beirute:<br />

Charutos <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> uva,<br />

Colhidas da parreira <strong>do</strong> quintal,<br />

Quibe <strong>de</strong> carne crua<br />

E trigo moí<strong>do</strong>,<br />

Tabule <strong>de</strong> hortelã,<br />

Pasta <strong>de</strong> grão-<strong>de</strong>-bico,<br />

Coalhada seca,<br />

Tu<strong>do</strong> rega<strong>do</strong> <strong>de</strong> azeite,<br />

Curti<strong>do</strong> <strong>de</strong> cebola,<br />

Acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> pão branco e fino;<br />

Para sobremesa<br />

Doces oleosos<br />

De semolina<br />

E gergelim.<br />

Dona Tita sabe:<br />

Ninguém resiste<br />

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