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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

cita<strong>do</strong> pelos críticos. Quase um ano após sua morte, temos, por vezes, a impressão <strong>de</strong><br />

estarmos diante <strong>de</strong> uma novida<strong>de</strong> literária.<br />

Dicke <strong>de</strong>stacou-se como escritor e artista plástico. Exerceu a função <strong>de</strong> jornalista,<br />

revisor <strong>de</strong> textos e <strong>de</strong> tradutor no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Após algum tempo, optou por sair <strong>do</strong> eixo<br />

Rio - São Paulo, recolhen<strong>do</strong>-se no interior. A formação filosófica <strong>do</strong> autor justifica a atitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ostracismo que alguns lhe atribuem, bem como a sua fuga da metrópole. Atitu<strong>de</strong> esta<br />

compreensível, já que, segun<strong>do</strong> Candi<strong>do</strong> (2000, p. 127), “Se não existe literatura paulista,<br />

gaúcha ou pernambucana, há sem dúvida uma literatura manifestan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> diferente<br />

nos diferentes Esta<strong>do</strong>s”. E, provavelmente, foi para fortalecer essa manifestação literária que<br />

Dicke fez essa migração às suas origens, aparentemente, não se importan<strong>do</strong> por seu nome não<br />

constar na lista <strong>do</strong>s eleitos para o cânone nacional.<br />

Os textos <strong>do</strong> ficcionista mato-grossense sempre refletem o problema <strong>do</strong> homem<br />

sertanejo, suas lutas diárias pela sobrevivência, seus anseios <strong>de</strong> perpetuar-se e não mais fazer<br />

parte <strong>do</strong>s excluí<strong>do</strong>s da socieda<strong>de</strong>. Afinal, a luta pela terra não é um fenômeno da atualida<strong>de</strong>,<br />

mas sim um fato que se repete em nosso país há séculos. Dicke, em algum momento <strong>de</strong> sua<br />

trajetória, soube disso intuitivamente, e, talvez por isso, tenha se retira<strong>do</strong> <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s centros<br />

como forma <strong>de</strong> proteger sua obra, tentan<strong>do</strong> não se <strong>de</strong>ixar influenciar pelas tendências<br />

presentes nas obras literárias produzidas pelos escritores <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s centros. Dessa forma,<br />

preservou a temática e o aspecto <strong>de</strong> sua produção literária, que dá voz a personagens que<br />

representam uma das muitas facetas que formam a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nosso povo.<br />

Alguns estu<strong>do</strong>s publica<strong>do</strong>s sobre os textos <strong>de</strong> Dicke mostram análises que enfatizam<br />

aspectos sociológico e filosófico, como, por exemplo, se constata no artigo <strong>de</strong> Madalena<br />

Aparecida Macha<strong>do</strong> (2007). Infelizmente, o aspecto estrutural da obra dickeana acabou sen<strong>do</strong><br />

relega<strong>do</strong> a um segun<strong>do</strong> plano, supera<strong>do</strong>, talvez, pelo peso <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ologias e sua formação,<br />

manifestadas através da linguagem utilizada por ele.<br />

Hilda Magalhães afirma que a literatura produzida por Dicke “[...] ilustra as relações<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que se <strong>de</strong>senvolvem na região, que se caracterizam pela presença ostensiva e<br />

repressora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong> Empresaria<strong>do</strong>” (MAGALHÃES, 2001, p. 54). Essas relações <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r é que proporcionaram semelhanças entre Ricar<strong>do</strong> Guilherme Dicke e João Guimarães<br />

Rosa, conforme Macha<strong>do</strong> (2007). As narrativas sobre o homem sertanejo e suas vivências<br />

fizeram com que essa relação ficasse mais estreita e, por vezes, alguns acusassem Dicke <strong>de</strong><br />

estar à sombra <strong>de</strong> Guimarães. No entanto, esta afirmativa comete injustiça contra os <strong>do</strong>is, pois<br />

o primeiro apenas se espelhou em um mo<strong>de</strong>lo difundi<strong>do</strong> e canoniza<strong>do</strong> pela nossa própria<br />

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