Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />
enfraquece<strong>do</strong>ra [...] Foi ver-se ao espelho; achou pele mais clara, mais fresca, e um<br />
enternecimento úmi<strong>do</strong> no olhar; seria verda<strong>de</strong> então o dizia Leopoldina, que “não<br />
havia como uma malda<strong>de</strong>zinha para fazer a gente bonita” Tinha um amante, ela!<br />
(QUEIRÓS, 1997, p.179)<br />
O trecho acima é minuciosamente executa<strong>do</strong> pela minissérie: tem-se na narrativa<br />
televisiva o mesmo <strong>de</strong>talhismo na <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong>s personagens e <strong>do</strong> espaço no <strong>de</strong>senrolar da<br />
ação. Como se observa na montagem <strong>do</strong>s cenários, na disposição e organização <strong>do</strong>s objetos,<br />
se estabelece uma relação <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre narração e <strong>de</strong>scrição que utiliza das<br />
minúcias <strong>de</strong> Eça como um complemento diegético da ação. O texto televisivo lança mão <strong>de</strong><br />
estratégias <strong>de</strong> cortes e movimentos <strong>de</strong> câmera, que buscam enfocar os objetos que compõem<br />
os cenários, num jogo estático e ao mesmo tempo dinâmico, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> sua simbologia<br />
através das aproximações e distanciamentos <strong>do</strong>s planos <strong>de</strong> filmagem, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a leitura<br />
<strong>do</strong> diretor.<br />
O romance foi cuida<strong>do</strong>samente “transposto” para a minissérie, permanecen<strong>do</strong> alguns<br />
diálogos intoca<strong>do</strong>s, soma<strong>do</strong>s à encenação, ou seja, à interpretação <strong>do</strong>s atores, à composição<br />
cenográfica e <strong>de</strong>mais recursos expressivos. E é assim que, com a chegada <strong>de</strong> surpresa <strong>de</strong> Dona<br />
Felicida<strong>de</strong>, Luísa acaba jogan<strong>do</strong> no lixo a carta que escrevera para seu amante. Juliana, muito<br />
atenta, pega-a e a escon<strong>de</strong>, para então chantagear a patroa. Tem-se aqui outro exemplo <strong>de</strong><br />
plurissignificação da linguagem <strong>de</strong> O primo Basílio, que, é <strong>de</strong>sta caixa <strong>de</strong> papéis que Juliana<br />
irá furtar o rascunho da carta <strong>de</strong> Luísa para Basílio. Uma caixa que <strong>de</strong>veria ser o caixão <strong>de</strong> um<br />
segre<strong>do</strong> é afinal o lugar on<strong>de</strong> jaz a morte da tranquilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> amor adúltero. Retoman<strong>do</strong> a<br />
discussão, outro signo intencional, agora lança<strong>do</strong> pela adaptação audiovisual, que se vale <strong>do</strong><br />
jogo <strong>de</strong> imagens para atribuir significação ao cesto <strong>de</strong> lixo.<br />
Portanto, a linguagem audiovisual vale-se <strong>de</strong> recursos simbólicos, assim como a<br />
linguagem teatral, para propiciar significa<strong>do</strong>s e até criar metonímias que conecte o romance à<br />
adaptação audiovisual. Um exemplo clássico po<strong>de</strong> ser atribuí<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>staque que é da<strong>do</strong> pelo<br />
autor aos sapatos <strong>de</strong> verniz <strong>de</strong> Basílio. O personagem Basílio <strong>de</strong> Brito tem registra<strong>do</strong> a marca<br />
<strong>do</strong> janotismo e da superficialida<strong>de</strong> em seus sapatos, acompanhe passagens <strong>do</strong> texto que se<br />
referem a esse da<strong>do</strong> “o verniz <strong>do</strong>s seus sapatos resplan<strong>de</strong>cia”, “estendia sobre o tapete<br />
comodamente, os seus sapatos <strong>de</strong> verniz”, “fitou um momento seus sapatos muito aguça<strong>do</strong>s”<br />
(QUEIRÓS, 1997, p. 51-55).<br />
Na minissérie global o conceito <strong>de</strong> superficialida<strong>de</strong> é manti<strong>do</strong> ao personagem. Em<br />
vários momentos Basílio aparece exaltan<strong>do</strong> o brilho e a beleza <strong>de</strong> seus sapatos. Em uma das<br />
cenas o personagem está localiza<strong>do</strong> em frente á casa <strong>de</strong> Luisa e em um momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque<br />
<strong>do</strong>bra seu joelho direito e esfrega o sapato na perna esquerda da calça, <strong>de</strong>pois repete o gesto<br />
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