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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

Friedman sugere também uma espécie historicização, não somente da literatura, mas<br />

<strong>de</strong> um campo amplo que envolve os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> gênero. No ensaio Beyond Gen<strong>de</strong>r (1998), a<br />

autora nos diz que o campo <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s culturais está expandin<strong>do</strong> horizontes, movimentan<strong>do</strong>-<br />

se e <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>-se continuamente, e nesse espírito multidimensional o feminismo <strong>de</strong>ve<br />

também se rearticular. Assim, o pós-colonial surgiria como um <strong>do</strong>s campos mais propícios<br />

para se estabelecer um diálogo. Já que o pós-colonial reconfigurou o terreno <strong>de</strong> tal maneira<br />

que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, a própria idéia <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> composto por i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, culturas e<br />

economias isoladas e auto-suficientes tem ti<strong>do</strong> que ce<strong>de</strong>r a uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> paradigmas<br />

<strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a captar essas formas distintas <strong>de</strong> relacionamento, interconexão e <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>.<br />

Ou seja, resumidamente os estu<strong>do</strong>s pós-coloniais nos obrigam a reler os antigos binarismos<br />

aqui/lá como formas <strong>de</strong> transculturação, <strong>de</strong> tradução cultural.<br />

Seguin<strong>do</strong> um pensamento <strong>de</strong> Gramsci, Friedman assinala que é preciso ressaltar que a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ou subjetivida<strong>de</strong> das mulheres não po<strong>de</strong> ser entendida isoladamente em relação à<br />

construção <strong>do</strong> gênero (gen<strong>de</strong>r), ou seja, fenômenos como cruzamentos <strong>de</strong> fronteiras, trocas e<br />

mediações culturais, a “localização” da cultura e <strong>de</strong> seus agentes, processos <strong>de</strong> seleção e<br />

exclusão, fazem parte da interação geográfica <strong>do</strong> gênero e são também múltiplos<br />

constituintes da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, e, por essa razão, este tipo <strong>de</strong> análise tem urgência epistemológica<br />

e política. 9<br />

Assim, utilizamos os argumentos <strong>de</strong> Friedman justamente para introduzirmos a nossa<br />

hipótese <strong>de</strong> que a historicização da literatura po<strong>de</strong>ria ser, <strong>de</strong> fato, possível caso estudássemos<br />

o texto literário sob a perspectiva <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s pós-colonial, ou seja, realizan<strong>do</strong> um<br />

“exame geográfico da experiência histórica.” 10 Stuart Hall, no ensaio Quan<strong>do</strong> foi o pós-<br />

colonial? – pensan<strong>do</strong> no limite, aponta que o pós-colonial po<strong>de</strong> nos ajudar a <strong>de</strong>screver ou<br />

caracterizar a mudança nas relações globais, que marca a transição (necessariamente<br />

irregular) da era <strong>do</strong>s impérios para o momento da pós-<strong>de</strong>scolonização. Po<strong>de</strong> ser útil também<br />

na i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> que são as novas relações e disposições <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que emergem nesta nova<br />

conjuntura.<br />

Após a <strong>de</strong>scolonização acabaram-se as oposições binárias caras às ativida<strong>de</strong>s<br />

nacionalistas e imperialistas. No lugar disso, começamos a perceber que a velha autorida<strong>de</strong><br />

não po<strong>de</strong> ser simplesmente substituída, trocada, por uma nova autorida<strong>de</strong>, uma vez que estão<br />

9 Um exemplo <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> em que se dá a união entre os estu<strong>do</strong>s pós-colonial e <strong>de</strong> gênero, antes <strong>de</strong> Friedman,<br />

po<strong>de</strong> ser visto em Mary Louise Pratt no ensaio A crítica na zona <strong>de</strong> contato: nação e comunida<strong>de</strong> fora <strong>de</strong> foco.<br />

Travessia: Revista <strong>de</strong> Literatura, nº 38, 1999.<br />

10 Termo usa<strong>do</strong> por Said na introdução <strong>do</strong> livro. E justifica: “Assim como nenhum <strong>de</strong> nós está fora ou além da<br />

geografia, da mesma forma nenhum <strong>de</strong> nós está ausente da luta pela geografia.” (Cultura e Imperialismo, 1995,<br />

p. 37-38)<br />

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