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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

Ao exorcizar o monstro em que se transformou o Avô Mariano, Marianinho liberta<br />

também seu pai Fulano e Abstinêncio, o mais velho <strong>do</strong>s tios, que se exilaram <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

pren<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se à Ilha. Os livros e ca<strong>de</strong>rnos que Marianinho trazia consigo eram vistos por<br />

Fulano Malta como armas apontadas contra a família, como ameaças a um mo<strong>de</strong>lo puro <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, enraizada no passa<strong>do</strong>. Esconjura<strong>do</strong> o monstro, Fulano <strong>de</strong>volve ao filho os manuais<br />

que há anos guardava (apesar <strong>de</strong> sustentar a mentira <strong>de</strong> tê-los lança<strong>do</strong> ao rio) e aban<strong>do</strong>na a<br />

farda <strong>de</strong> guerrilheiro. Liberta-se <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> da mesma maneira como lança ao ar a gaiola que<br />

se transforma em pássaro. Também Abstinêncio agora "[...] já po<strong>de</strong>ria sair, visitar o mun<strong>do</strong>.<br />

Estava <strong>de</strong> bem consigo, aplaca<strong>do</strong>s seus me<strong>do</strong>s mais antigos" (COUTO, 2003, p. 248) .<br />

Recuperada a tradição pela memória, a casa reconquista raízes <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Marianinho.<br />

Mas, embora Nyumba-Kaya fosse a casa única, indisputável, <strong>de</strong> Marianinho, Luar-<strong>do</strong>-Chão<br />

não seria o lugar <strong>de</strong> suas cinzas. Assim, Marianinho visita "o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mortos" e regressa<br />

"vivo ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vivos" (COUTO, 2003, p. 258). Visita o passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua terra, <strong>de</strong>sfia<br />

histórias e, em seguida, <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>-se. Exorciza o monstro e converte-se "num viajante entre<br />

esses mun<strong>do</strong>s", matan<strong>do</strong> o tempo para trás. Como pertencente a uma cultura híbrida,<br />

Marianinho recupera as raízes que o pren<strong>de</strong>m à Nyumba-Kaya através da memória, mas não<br />

se enraíza na ilha e nem ao fundamentalismo culturalista e parte, sem <strong>de</strong>ixar atrás <strong>de</strong> si<br />

"criaturas que se alojam [...] nos tempos já revira<strong>do</strong>s" (COUTO, 2003, p. 259) .<br />

REFERÊNCIAS<br />

BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, M. <strong>de</strong> M.; AMADO, J. (Orgs.). Usos e<br />

abusos da história oral. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. da FGV, 1996.<br />

COHEN, J. J. A cultura <strong>do</strong>s monstros: sete teses. In: COHEN, J. J. (Org.). Pedagogia <strong>do</strong>s<br />

monstros. Os prazeres e os perigos da confusão <strong>de</strong> fronteiras. Trad. Tomaz Ta<strong>de</strong>u da Silva.<br />

Belo Horizonte: Autêntica, 2000.<br />

COUTO, M. Um rio chama<strong>do</strong> tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Companhia das<br />

Letras, 2003.<br />

FREUD, S. O Estranho. In: ____. Obras psicológicas completas <strong>de</strong> Sigmund Freud. Trad.<br />

Jayme Salomão. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1996. (Edição standard brasileira).<br />

GUEDES, R. S. Secular readings of goog and evil in R. L. Stevenson's Strange Case of Dr.<br />

Jekyll and Mr. Hy<strong>de</strong>. Disponível em:<br />

. Acesso em: 10 jan. 2009<br />

HALL, S. Cultural I<strong>de</strong>ntity and Diaspora. In: RUTHERFORD, J. (Ed.). I<strong>de</strong>ntity: community,<br />

culture, difference. Lon<strong>do</strong>n: Lawrence & Wishart, 1990. p. 222-37<br />

______. Da Diáspora: i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG,<br />

2008.<br />

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