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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

condicionamento da personagem tanto pelo aspecto físico quanto pelas condições sociais. As<br />

características negativas <strong>do</strong> temperamento <strong>de</strong> Juliana são <strong>de</strong>terminantes pelas condições<br />

miseráveis que sempre viveu.<br />

Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava <strong>de</strong> amos, mas não mudava <strong>de</strong><br />

sorte. Vinte anos a <strong>do</strong>rmir em cacifos, a levantar-se <strong>de</strong> madrugada, a comer os<br />

restos, a vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças, as más palavras das<br />

senhoras, a fazer <strong>de</strong>spejos, a ir ao hospital quan<strong>do</strong> via a <strong>do</strong>ença, a esfalfar-se<br />

quan<strong>do</strong> voltava a saú<strong>de</strong>! Nunca se acostumara a servir! (QUEIRÓS, 1997, p. 75)<br />

Essa condição exposta à personagem Juliana, contempla uma realida<strong>de</strong> física e<br />

material (histórico <strong>de</strong> vida, cenário, hegemonia <strong>de</strong> classe social), mas a apresentação<br />

estrutural <strong>de</strong>ssa imagem, <strong>de</strong>sse condicionamento ressalta os laços entre as i<strong>de</strong>ias e as<br />

emoções, significantes e significa<strong>do</strong>s, assim as imagens são estruturadas <strong>de</strong> forma<br />

significativa, crian<strong>do</strong> uma comunicação entre o realiza<strong>do</strong>r (pessoa ou grupo) e o público, a<br />

partir <strong>de</strong> um da<strong>do</strong> universal, o tema (a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> classe), construin<strong>do</strong> um imaginário<br />

através <strong>do</strong> audiovisual e <strong>do</strong> literário. Tal imaginário é composto pelas i<strong>de</strong>ias e escolhas <strong>do</strong><br />

realiza<strong>do</strong>r e <strong>de</strong>marca<strong>do</strong> pela sua época, já que a produção <strong>de</strong>ve interagir com a mentalida<strong>de</strong> e<br />

com a maneira <strong>de</strong> viver e pensar <strong>do</strong> público, forma<strong>do</strong> <strong>de</strong> indivíduos histórico-<br />

socioculturalmente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s. Nessa esteira, caminha-se no viés proposto por Kellner<br />

(2001), o qual afirma que toda obra dialoga com o seu contexto histórico-social. Se a obra<br />

original assinala i<strong>de</strong>ologias da época em que foi escrita, assim também será a adaptação, que<br />

dialogará com o seu perío<strong>do</strong> histórico, visões <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> e discursos contra-hegemônicos.<br />

O estilo concebi<strong>do</strong> por Eça <strong>de</strong> Queirós em seu romance resgata a dimensão da prosa<br />

poética na “fotografia” meticulosa e lírica que faz <strong>de</strong> seus ambientes. É possível observar que<br />

a minissérie, ao tratar <strong>do</strong> cenário, <strong>do</strong> figurino, <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong>s queirosianas, preocupa-se<br />

com os <strong>de</strong>talhes atribuí<strong>do</strong>s à prosa <strong>de</strong>ste escritor, pois recria as imagens e as cenas <strong>de</strong>talhada<br />

no livro. O tempo e o espaço são evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s pelos <strong>de</strong>talhes da <strong>de</strong>scrição tanto na narrativa<br />

literária quanto na televisiva, a qual se utiliza <strong>de</strong> enfoques, como o close e a abertura <strong>de</strong><br />

câmera, que convidam o receptor a interagir através <strong>de</strong> suas projeções interpretativas<br />

reavivan<strong>do</strong> o espírito da narrativa. Na produção audiovisual, a atuação e direção das cenas<br />

proporcionam a transformação das palavras em imagens. O trecho a seguir é indicativo <strong>de</strong>ssa<br />

afirmação, visto que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter se entrega<strong>do</strong> ao primo, Luísa amanhece assim:<br />

Ergue-se <strong>de</strong> um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os<br />

transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias <strong>do</strong> fim <strong>de</strong> agosto<br />

em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa<br />

tranqüilida<strong>de</strong> outonal; o sol cai largo, resplan<strong>de</strong>cente, mas pousa <strong>de</strong> leve, o ar não<br />

tem embacia<strong>do</strong> canicular, e o azul muito alto reluz com uma niti<strong>de</strong>z lavada; respirase<br />

mais livremente, e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma<br />

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