13.05.2013 Views

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

triunfar a própria vonta<strong>de</strong> até a estupi<strong>de</strong>z. (NIETZSCHE, 2007,<br />

p. 84).<br />

A peça Macbeth foi e continua sen<strong>do</strong> objeto <strong>de</strong> análise em inúmeras disciplinas como<br />

a psicanálise, a psicologia, a história e a literatura. Preten<strong>de</strong>-se aqui analisá-la a partir <strong>de</strong><br />

idéias cunhadas pelas ciências sociais, apesar <strong>de</strong> utilizar também conceitos, noções e<br />

preocupações teóricas <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais campos <strong>do</strong> saber. A tragédia Macbeth, escrita entre 1603 e<br />

1606, ilustra a questão das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r com bastante eloquência. O contexto inglês<br />

propiciava a absorção pela população <strong>de</strong> obras com esta profundida<strong>de</strong>:<br />

Em 1476 criara-se a primeira gráfica da Inglaterra; concomitantemente as pessoas se<br />

formavam intelectualmente. A socieda<strong>de</strong> que recebeu as obras <strong>de</strong> Shakespeare<br />

contava com a estabilida<strong>de</strong> da língua inglesa, maior alfabetização, maiores<br />

condições <strong>de</strong> expressivida<strong>de</strong> e o sentimento nacionalista, ten<strong>do</strong> como maior exemplo<br />

a rainha Elizabeth I e sua corte seleta e intelectualizada. Ele torna-se, portanto, uma<br />

criação <strong>de</strong>sse orgulho nacional, concretiza<strong>do</strong> no movimento em que o homem voltase<br />

para si e propõe artisticamente reflexões filosóficas acerca da socieda<strong>de</strong> e seus<br />

valores (RAMOS, 2008, p.20).<br />

Weber, sociólogo que viveu entre os séculos XIX e XX, escreveu em “A Política<br />

como vocação” que a política se faz através da participação no po<strong>de</strong>r ou através da luta para<br />

influir na distribuição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Para além <strong>do</strong> “fazer o bem”, a ética <strong>de</strong> um político <strong>de</strong>veria ser<br />

orientada para fins e responsabilida<strong>de</strong>s racionais, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ética cristã. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />

coloca que os políticos como vocação “[...] são em toda parte as únicas figuras <strong>de</strong>cisivas nas<br />

correntes cruzadas da luta política pelo po<strong>de</strong>r.” (1967, p.59) A questão po<strong>de</strong>ria ser pensada<br />

sobre como os po<strong>de</strong>res politicamente <strong>do</strong>minantes conseguem manter seu <strong>do</strong>mínio. Pela força<br />

física? Pela <strong>de</strong>magogia (no oci<strong>de</strong>nte)?<br />

Na obra <strong>de</strong> Shakespeare, o triunfo político se confun<strong>de</strong> com assassinatos, loucuras e<br />

ambição. Lady Macbeth, em certo momento da peça, lê a carta escrita pelo Macbeth, seu<br />

mari<strong>do</strong>, na qual ele revela a esperança <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada por visões <strong>de</strong> futuro <strong>de</strong>scritas<br />

por bruxas: “Temo porém, a tua natureza cheia <strong>de</strong> leite da bonda<strong>de</strong> humana, que entrar não te<br />

consente pela estrada que vai direito à meta. Desejaras ser gran<strong>de</strong>, e não te encontras<br />

<strong>de</strong>stituí<strong>do</strong>, <strong>de</strong> to<strong>do</strong>, <strong>de</strong> ambição; porém careces da inerente malda<strong>de</strong>.” (2001, p.10) Na<br />

política, segun<strong>do</strong> Arendt (1993), atos maléficos cuja raiz não se encontra na malda<strong>de</strong>,<br />

patologia ou convicção i<strong>de</strong>ológica <strong>do</strong> agente “[...] tratam-se <strong>de</strong> uma curiosa e bastante<br />

autêntica incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar.” (1993, p.145) Partin<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> pensamento <strong>de</strong>sta autora,<br />

po<strong>de</strong>-se dizer que será este o caso <strong>de</strong> Macbeth? Arendt evi<strong>de</strong>ncia a questão <strong>de</strong> se a malda<strong>de</strong><br />

seria condição necessária para se fazer o mal, ou se também o fracasso da consciência moral<br />

levaria-nos ao mesmo fim, mesmo que esta não seja a intenção inicial. Nietzsche, que escreve<br />

160

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!