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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

que ali não há sujeito nem objeto, somente silêncios, e é nesses silêncios que o sujeito<br />

fragmentário se manifesta, ora temos a tela, ou como quero a xoxota estética, e <strong>de</strong>pois temos a<br />

tinta, ou a ficção da elaboração <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> pela vistas <strong>do</strong> presente, da presença <strong>do</strong> presente.<br />

Finalmente, a tela, ou a escrita “não é espelho” é “vidro”. Ali nada é representa<strong>do</strong>, é<br />

existência a “nu <strong>do</strong> ato <strong>de</strong> pintar”, <strong>do</strong> ato <strong>de</strong> escrever. A xoxota estética é a aparição <strong>do</strong><br />

escritor no texto autoficcional, que nos põe no interdito: será mesmo o escritor? Numa leitura<br />

superficial; e: o que o escritor preten<strong>de</strong> com esse jogo com sua própria vida? Numa leitura<br />

mais profunda.<br />

mentiroso, vejamos:<br />

A outra cena, é quan<strong>do</strong> Santiago se mostra pela xoxota estética em O falso<br />

Já que voltei a tocar nas circunstâncias <strong>do</strong> meu nascimento, adianto. Corre ainda<br />

uma quinta versão sobre elas. Teria nasci<strong>do</strong> em Formiga, cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> interior <strong>de</strong><br />

Minas Gerais. No dia 29 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1936. Filho legítimo <strong>de</strong> Sebastião Santiago<br />

e Noêmia Farnese Santiago. A versão é tão inverossímil, que nunca quis explorá-la.<br />

(SANTIAGO, 2004, p. 180)<br />

Em O falso mentiroso temos cinco versões sobre o possível nascimento <strong>de</strong><br />

Samuel, o personagem principal da narrativa em primeira pessoa. Aqui temos to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s<br />

biográficos <strong>de</strong> Santiago porém, a quinta versão é inverossímil por ser a mais verda<strong>de</strong>ira? O<br />

que vem a ser a verda<strong>de</strong> não é nosso ponto <strong>de</strong> discussão, mas sim a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

manifestação tão biográfica na autoficção que o escritor faz <strong>de</strong> sua obra. Santiago, portanto, é<br />

cinco em um único cérebro, e um <strong>do</strong>s Samuel é ele mesmo, escritor, inverossivelmente. Isso<br />

acontece <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a performance da memória, já que ela não po<strong>de</strong> ser resgatada, por não haver<br />

passa<strong>do</strong> e pela sua multiplicida<strong>de</strong> como sujeito:<br />

Não sei por que nestas memórias me expresso pela primeira pessoa <strong>do</strong> singular. E<br />

não pela primeira <strong>do</strong> plural. Deve haver um eu <strong>do</strong>minante na minha personalida<strong>de</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> escrevo. Ele mastiga e massacra os embriões mais fracos, que vivem em<br />

comum como nós <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim. (SANTIAGO, 2004, p. 136, grifos <strong>do</strong> autor)<br />

A fragmentação <strong>do</strong> sujeito em Santiago, como po<strong>de</strong>mos ver, se dá pela<br />

multiplicida<strong>de</strong> que assume em O falso mentiroso, e nos diversos narra<strong>do</strong>res que contam cada<br />

conto <strong>de</strong> Histórias mal contadas.<br />

Santiago continua sua elaboração sobre a verda<strong>de</strong> e a mentira, e sua postura <strong>de</strong> não<br />

escolher nem uma nem outra é exemplar para a construção <strong>do</strong> sujeito fragmentário:<br />

Um peso dizia verda<strong>de</strong>. Outro dizia mentira.<br />

Uma medida dizia sincerida<strong>de</strong>. Outra medida dizia <strong>de</strong>lírio.<br />

Não elegi verda<strong>de</strong> nem mentira. Sincerida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>lírio. Abiscoitei os quatro, <strong>do</strong>is a<br />

<strong>do</strong>is. (SANTIAGO, 2004, p. 131, grifos <strong>do</strong> autor)<br />

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