Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />
a estrutura da obra naveiriana, esses influxos externos se tornam internos. Transcrevemos o<br />
poema “Rumo ao Centro-Oeste”, a fim <strong>de</strong> iniciarmos nossas reflexões:<br />
Enfrentan<strong>do</strong> tempesta<strong>de</strong>s,<br />
Em soturnos navios,<br />
Vieram os libaneses.<br />
No coração<br />
A ânsia da liberda<strong>de</strong>,<br />
A esperança <strong>de</strong> um novo mun<strong>do</strong>,<br />
Na maleta, cultura e coragem;<br />
Príncipes altivos e dignos.<br />
Atravessaram o Uruguai,<br />
A Argentina,<br />
Assunção,<br />
Aportaram em Corumbá<br />
No casario <strong>do</strong> Porto<br />
Entre camalotes lilases<br />
E gaviões <strong>de</strong> asas gigantes.<br />
Entre chalanas,<br />
Embarcações incômodas,<br />
Desceram o Salobra,<br />
O Miranda,<br />
O Aquidauana,<br />
Estarreci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> imensidão.<br />
Fixaram-se em Porto Murtinho,<br />
Nioaque;<br />
(NAVEIRA, 1994, p. 9)<br />
Fugin<strong>do</strong> <strong>de</strong> agitadas questões políticas e <strong>de</strong> “conflitos religiosos fratricidas”, os<br />
libaneses vieram para a nação brasileira “Enfrentan<strong>do</strong> tempesta<strong>de</strong>s, / Em soturnos navios,”<br />
somente com sua cultura e coragem. As dificulda<strong>de</strong>s surgidas não os impediram <strong>de</strong> seguir a<br />
maratona da viagem: viajaram através <strong>do</strong> Uruguai, Argentina, Assunção e, finalmente, por<br />
Corumbá, cida<strong>de</strong> que constituía o centro comercial <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o <strong>Mato</strong> <strong>Grosso</strong>. De acor<strong>do</strong> com as<br />
informações fornecidas por Fábio Trad (1999), no ensaio “Libaneses”, a partir daí, alguns<br />
rumaram para o sul <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em embarcações extremamente <strong>de</strong>sconfortáveis atravessan<strong>do</strong><br />
os rios Salobra, Miranda e Aquidauana, enquanto outros estabeleceram-se em Porto Murtinho,<br />
Nioaque e Aquidauana. Nas estrofes seguintes, o eu poético <strong>de</strong>lineia a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campo<br />
Gran<strong>de</strong> em seus primórdios:<br />
[...]<br />
De carreta<br />
Chegaram a Campo Gran<strong>de</strong>,<br />
Arraial poeirento,<br />
De lama vermelha,<br />
De casas <strong>de</strong> pau-a-pique,<br />
Bafejadas pela chaminé da Maria Fumaça.<br />
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